Prometemos e estamos cumprindo: os leitores vão ter nesta edição a primeira versão do Observatório do Clube dos Comerciantes da Província do Grande ABC. Este é o quarto compartimento institucional que formulamos para, entre outros objetivos, monitorar o andar da carruagem de organizações coletivas com responsabilidade implícita e explicita de retirar a região da penúria de muitos anos. Não podemos esquecer jamais que, desde 1970, até 2014, perdemos 51,77% de participação no PIB Nacional.
Precedem ao Observatório do Clube dos Comerciantes o Observatório de Promessas e Lorotas (vinculado aos anúncios e às realizações dos prefeitos), o Observatório do Mercado Imobiliário (que acompanha atentamente as ações do Clube dos Construtores com base num elenco de proposições) e também o Observatório do Clube dos Prefeitos (que não dá trégua à organização que reúne os sete prefeitos locais ao estabelecer um grupo de iniciativas).
O Clube dos Comerciantes é a reunião das sete associações comerciais da Província do Grande ABC. Teremos outros observatórios nos próximos tempos. Um dos quais estará vinculado a uma pauta extensa às entidades industriais, outro às entidades sociais e um terceiro ao Clube dos Sindicatos.
Monitoramento organizado
Dirão os leitores mais abusados que teremos observatórios demais, um verdadeiro festival de instituições virtuais. Não se trata disso. Como estamos a dividir os vários segmentos que compõem uma sociedade com base em um conjunto de enunciados que são frutos de muita observação e experiência, o que constituímos é uma rede de proposições que de alguma forma vão tornar interdependentes os eventuais movimentos de libertação que vicejarem.
Contar com observatórios é estratégia para sustentar macroagenda jornalística regional sem risco de esquecimento. É um enorme farol a indicar soluções mais apropriadas a uma região completamente à deriva institucional, econômica e social.
Os observatórios são espécies de xerifes para disciplinar a farra do boi das organizações coletivas da região. É um chute nos fundilhos dos imprevidentes e dos negligenciadores que perpetuam pautas mais que defasadas nas respectivas organizações coletivas.
Virtualidade ou não
Por enquanto, o Clube dos Comerciantes da Província do Grande ABC é uma organização abstrata. E poderá continuar nessa rota. Os dirigentes das sete associações comerciais podem atuar em conjunto sem a necessidade de formalizar uma entidade que seria espécie de guarda-chuva. Também podem oficializar uma entidade que reúna representantes de cada uma e, dessa forma, fora das amarras estatutárias individuais, criarem espaço próprio ao coletivismo.
Esse é o modelo sucinto do Clube dos Comerciantes. Em resumo: é a regionalização das associações comerciais no sentido estratégico de atuação sem mexer nos direitos adquiridos, por assim dizer, definidos nos respectivos estatutos.
A agenda que reservamos inicialmente – e que deverá ser acrescida de novas sugestões no devido tempo – consta de 11 enunciados. Vou expor cada proposta sem maiores detalhes. Esse artigo se tornaria extenso demais caso aprofundasse fundamentações. Vejam as propostas.
Plano Estratégico de Desenvolvimento Econômico.
A iniciativa poderia estar conectada a outras ações de clubes econômicos e sociais da região, mas teria viés predominantemente voltado ao comércio e aos serviços. Onde houvesse imbricamento, comissões paritárias poderiam se reunir para avançar nos estudos e nas ações.
Parcerias com instituições acadêmicas.
Essa iniciativa favorece sobretudo associados das entidades que comporiam o clube regional dos comerciantes. É preciso que estudantes e professores de diversas especialidades atuem em conjunto com empresários do setor de modo a extrair mais que projetos, decisões fundamentais à recuperação do tecido econômico.
Varredura na legislação municipal para compatibilizar alíquotas de Imposto Sobre Serviço.
A barafunda tributária nos sete municípios da região, que, nos anos 1990, patrocinaram guerra fiscal interna, é um convite à fuga de investimentos. É indispensável correr em busca de um gol de letra, de um gol inesquecível, em forma da uniformização do ISS por atividade econômica.
Varredura na legislação municipal para compatibilizar alíquotas do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano).
Tem-se com esse tributo tempestade semelhante a do ISS. A caixa-preta do IPTU em cada Município é um convite a irregularidades tanto no lançamento quanto na cobrança. Raramente as prefeituras dão transparência à arrecadação do IPTU. São dados desencontrados. Por isso prevalecem suspeitas de favorecimentos e corrupção.
Criação de fundo municipal para fortalecimento dos bairros.
Apresentamos há mais de uma década uma proposta que vinculava a arrecadação do IPTU a investimentos específicos nos bairros, sempre de acordo com o volume registrado. Há muito tempo se propaga ideia de incremento do comércio e dos serviços nos bairros, mas pouco se faz de forma efetiva. Ao associar investimentos de parte das receitas do IPTU à geografia, gera-se a possibilidade de se criarem medidas específicas de potencialização dos negócios.
Relacionamento mais estreito com representantes dos setores.
A iniciativa aproximaria empreendedores principalmente de pequeno porte, o que geraria série de vantagens competitivas ante a possibilidade de somarem esforços e compartilharem projetos. Há infinidade de ações a serem exploradas, inclusive no relacionamento com fornecedores e clientes.
Configuração de banco de dados.
É muito pouco provável que se atinjam níveis de produtividade sem respaldo técnico e não há respaldo técnico que dispense a engorda permanente de banco de dados com respostas que substituam interrogações. Há inúmeras possibilidades de o Clube dos Comerciantes tornar-se mais e mais produtivo aos associados e potenciais associados quando fornecer à demanda reprimida informações hoje inteiramente desconhecidas.
Demandas junto ao Poder Público.
Há situações que recomendam ações junto ao Poder Público individualmente ou, em contraposição, com o conjunto dos municípios. Pautas municipalistas e pautas voltadas à região podem ser muito mais factíveis diante da representatividade do Clube dos Comerciantes. Questões tributárias, fiscais, logísticas e muito mais podem ser estruturadas a encaminhamentos que fujam da tradição de aproximações seletivas e por isso mesmo muitas vezes deletérias, porque priorizam interesses privados.
Conselho Consultivo.
O Clube dos Comerciantes não pode prescindir -- assim como outras entidades monitoradas por CapitalSocial -- de um grupo de conselheiros consultivos. Preferencialmente formado por empreendedores comerciais e de serviços. Essa instância cujos membros estão sempre mais próximos da realidade prática proporciona diagnostico nem sempre do conhecimento das cúpulas diretivas das entidades atuais.
Convênio entre empreendedores e funcionários.
Essa iniciativa aproxima empreendedores e trabalhadores das empresas comerciais e de serviços da região, por conta de politicas de descontos nos preços, entre outras medidas. A adesão de organizações empresariais ao quadro associativo das entidades atuais tem-se provado bastante modesta. É preciso estimular fórmulas que despertem o potencial de relacionamento entre as partes, independente da atividade econômica.
Mapeamento completo das atividades por segmento.
Essa é uma proposta antiga que formulei para reduzir o grau de risco e de desencanto por que passam pequenos empreendedores. O resumo da ópera é que não teria sentido abrir uma nova pizzaria num determinado espaço geográfico abarrotado de oferta, intensificando-se, portanto, o potencial de canibalismo, enquanto outras áreas carecem desse tipo de negócio. Facilidades tecnológicas estimulam a empreitada.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)