Apesar de distante da envergadura dos grandes mercados de desenvolvimento de softwares do mundo e sem qualquer planejamento dos organismos públicos e acadêmicos, a livre-iniciativa do Grande ABC consegue reunir produtores de soluções de qualidade para os mais variados empreendimentos. Por meio de parceiros de maior porte, desenvolvedores locais driblam a falta de recursos financeiros e de informações sobre o setor, maior inibidora de acesso aos canais de difusão mundial. Produtos criados na região começam a romper fronteiras rumo ao mercado nacional e até internacional.
A economia da região, que há 10 anos titubeia entre segurar o traço industrial e consolidar a tendência terciária, pede automação dos meios produtivo, comercial e de serviços. Isso implica em o mercado de tecnologia oferecer programas adequados para as necessidades dos parques industriais e concentrações comerciais e de serviços, permitindo performance para disputar espaço no mundo globalizado.
Em apenas três prefeituras da região é possível detectar cadastro de softwarehouses — empresas que apenas desenvolvem ou desenvolvem e comercializam programas. Santo André abriga 65 unidades num universo de 532 empresas de informática, São Bernardo tem 38 softwarehouses e São Caetano, com 135 empresas em atividade, desponta como verdadeiro paraíso graças ao incentivo fiscal promovido pelo governo municipal, que fixou em 0,5% a alíquota do ISS (Imposto Sobre Serviço). Produção de software em Mauá não existe entre as 78 empresas de processamento de dados cadastradas. Em Diadema, os produtores são autônomos e somente uma dezena consta da listagem da Prefeitura. Ribeirão Pires ainda engatinha na informatização do Poder Público e não dispõe de dados, assim como Rio Grande da Serra.
Se forem considerados absolutos, os números apresentados pelas administrações públicas elevam o Grande ABC à condição de pólo tecnológico detentor de cerca de 10% do mercado nacional de desenvolvedores de software. Pelo censo de 1997, o Brasil abrigava 2,5 mil empresas no setor. Mas a realidade não é tão promissora. O diretor-presidente da Assespro-SP (Associação das Empresas Brasileiras de Software e Serviço de Informática-São Paulo), Alberto Custódio, garante que há distorção. “Além de muitas dessas empresas cadastradas não desenvolverem softwares, outras sequer estão em atividade” — dispara. Pelos cálculos da entidade, a região concentra algo em torno de 60 desenvolvedores de programas, cerca de 2,5% do mercado nacional.
Alberto Custódio fala de cátedra sobre as distorções estatísticas das prefeituras. Ele é sócio-gerente da Cebi Informática, de São Caetano, uma das cinco mais antigas empresas de informática do Brasil, especialista no desenvolvimento de softwares para administrações públicas. Cerca de 70 prefeituras espalhadas pelo Interior do Estado integram a carta de clientes da empresa.
O confronto de números denuncia que não existe qualquer política voltada à indústria de softwares no Grande ABC. Nenhuma entidade civil organizada da região dispõe de estatísticas sobre esse mercado de crescimento acelerado. Os esforços concentrados pelo Consórcio de Prefeitos, os grupos temáticos da Câmara Regional e os interesses do Fórum da Cidadania passam ao largo da produção de soluções informatizadas.
Eliminadas as distorções numéricas, percebe-se que a região sinaliza índices alvissareiros mas moderados de produção de softwares; por isso encontra-se diluída no contexto cosmopolita da Capital, que abriga cerca de 600 desenvolvedores. De qualquer forma, o Grande ABC consome tanto programa quanto o mercado de Portugal. Aí vale tudo, desde softwares de controle financeiro e gerenciamento até os que ensinam a pintar e bordar. A comparação é feita pelo próprio diretor-presidente da Assespro-SP.
A postura de insaciável sugador de novas tecnologias confirma a tese de que o Grande ABC por pouco não perdeu o vôo para a modernidade. Ao que tudo indica, embarcou, embora bem depois de Campinas, São Carlos e São José dos Campos. Por isso, ainda concentra esforços em se acomodar às exigências de desenvolvimento. Também, pudera: enquanto nas outras regiões os pólos tecnológicos floresceram à sombra das melhores escolas do País — Unicamp (Universidade de Campinas), Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), USP (Universidade de São Paulo) e ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) –, o Grande ABC viu surgir softwarehouses à luz da pura necessidade das empresas e criatividade de seus profissionais.
A realidade atabalhoada do Grande ABC em relação a pólos tecnológicos do Estado em momento algum desviou os olhos da IBM Corporation, maior empresa de informática do mundo. Tanto que estabeleceu parceria com a Cohrion Sistemas, empresa de São Caetano criadora do ImobSystem, que controla todas as peculiaridades do mercado imobiliário. “Pensar em apenas 30% do mercado de imóveis do Grande ABC significa pensar em milhões de dólares” — afirma o diretor da empresa Nilson Colombo, com indisfarçável sorriso de satisfação diante da parceria. Para colocar a Cohrion no trampolim certo, Nilson Colombo e o sócio Edmilson Bringel investiram US$ 60 mil no desenvolvimento do software que pretendem transformar em sinônimo de programa de gerenciamento do mercado imobiliário, assim como a Microsoft selou o Word como referência de editor de textos.
Anexado ao software DB2 — banco de dados relacional da IBM –, o ImobSystem controla vendas, locações, administração de condomínios, loteamentos e lançamentos imobiliários e permite aos usuários oferecer catálogo de imóveis via Internet. O cliente acessa o site da imobiliária, escolhe o tipo de imóvel que deseja comprar e o indica aos corretores, que deixam de correr o risco de fazer ofertas equivocadas.
A possibilidade de acesso ao mercado pela rede anima os produtores. Neste ano a Internet movimentou no mundo negócios US$ 16 bilhões, com estimativa de girar US$ 350 bilhões em 2002. “Da compra mensal em supermercado até a venda de um Boeing, passando pela aquisição de imóveis, tudo pode ser negociado pela Internet” — empolga-se Nilson Colombo. A fascinação que a Internet exerce no mundo empresarial levou a IBM a criar o e-business, espécie de assessoria para inserir qualquer empresa na rede.
Com o programa da Cohrion disponível, o trabalho dos corretores de imóveis será facilitado e a satisfação da clientela ampliada. Pelo menos é o que os parceiros esperam. Como se estivesse à espreita de hora e lugar certos, o embrião do ImobSystem permaneceu adormecido nas gavetas da empresa por cinco anos. Em 1995, quando as dificuldades estruturais do mercado estavam quase que totalmente vencidas, ou seja, a maioria das imobiliárias havia adquirido microcomputadores, a empresa despertou o software e o respeito da IBM oferecendo ao segmento alternativa de dinamizar os negócios.
A trajetória da Cohrion encaixa-se com precisão ao perfil das empresas brasileiras desenvolvedoras de software. Tem nove anos de atividades, surgiu da terceirização da Komatsu do Brasil, de Suzano, conta com 30 funcionários e apresenta faturamento em torno de R$ 1,5 milhão/ano.
De acordo com pesquisa bienal feita pela Sepin/MCT (Secretaria de Política de Informática e Automação do Ministério da Ciência e Tecnologia), a maioria das empresas brasileiras iniciou atividade no começo dos anos 90 e 68% são de micro e pequeno porte (veja quadro). Mesmo assim, o mercado verde-amarelo de softwares movimentou em 1996 R$ 1,965 bilhão, contabilizando 163.301 postos de trabalho.
A pesquisa detectou ainda que a maior concentração de empresas de software está na região Sudeste, que acolhe 48% da produção, seguida pela Sul, com 33%. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina apresentam percentuais acima de 10%. O que mais se produz no Brasil são softwares financeiro e de administração e, pasmem, o que menos se faz é programa educacional. “Infelizmente no País a pirâmide de desenvolvimento de softwares está invertida” — avalia o diretor-presidente da Assespro.
Ultrapassadas as fronteiras brasileiras, os softwares nacionais começam a acertar o passo noutras terras. A Softex (Sociedade Brasileira para Promoção e Exportação de Software) descobriu o ABC dos Estados Unidos e mudou a estratégia, inaugurando escritório em Austin, Texas, cidade norte-americana considerada o melhor nicho de negócios; em Boston, Massachussetts; e na Califórnia. Antes, a Softex mantinha um único grande escritório em Miami, localização nada interessante para negociar tecnologia, a não ser para exportar para o Brasil e não do Brasil.
Mesmo com o custo fixo de Miami nas alturas, a Softex conseguiu expressivo crescimento das exportações de software brasileiro. Em 1996, embarcou US$ 15 milhões. Subiu para US$ 25 milhões em 97 e em 98 deve alcançar US$ 50 milhões. A meta da entidade é chegar a US$ 250 milhões em 2002, ou seja, 10% do mercado brasileiro de software, estimado para este ano em US$ 2,5 bilhões. Os montantes apresentados pela Softex compilam apenas software exportado em pacotes, como produtos isolados. Não contam com a infinidade de programas e sistemas exportados dentro de outros produtos, igualmente desenvolvidos no Brasil.
Depois de duas mil horas de trabalho, Pietro Laganá, proprietário da Result Informática de Resultados, de São Bernardo, tem em mãos a mais nova ferramenta para oficinas de funilaria e repintura de automóveis: o software AutoRepar. O programa roda em ambiente Windows e permite ao usuário comparações de orçamentos, cadastro, reposição de peças, serviços e mão-de-obra, além de expedir laudo para as seguradoras, que respondem por 90% do movimento das funilarias. O AutoRepar cuida ainda da cotação de preços e controla estoque. A oficina Mônaco, de São Bernardo, já utiliza o programa e sequer consegue imaginar o trabalho sem a nova ferramenta.
Para comercializar o software, Laganá firmou parceria com a CSI de São Caetano, subsistêmica — opera no interior da fábrica — da Glasurit/Basf de São Bernardo, da qual é fornecedora do programa que soluciona mix de tintas automotivas. A comercialização por parceiros rende royalties à Result. “O projeto é difundir o software em território nacional” — adianta Laganá. De alguma maneira, a Result já encontrou eco positivo em outros Estados. A oficina Car’s, de Curitiba, consta das usuárias pioneiras do programa AutoRepar.
A maior dificuldade encontrada pelo produtor é a falta de estrutura do setor. “Poucas funilarias têm computador e quando têm tratam o equipamento como sofisticada máquina de escrever” — lamenta Laganá. Só no Grande ABC existem cerca de 500 oficinas, mas apenas 10% estão informatizadas — e assim mesmo parcialmente. Então, por que Laganá gastou tanto tempo e dinheiro com o programa? Simples: as seguradoras estão exigindo modernização e quem não o fizer vai ter de baixar as portas.
Já que desde a idade da pedra a necessidade do homem incita a produção de ferramentas, essa dinâmica também se aplica ao desenvolvimento de softwares. “Na maioria das vezes o grande criador é o próprio usuário. No dia-a-dia ele vai percebendo as carências dos programas e sugere adaptações e versões” — atesta o diretor-presidente da Assespro.
Na linha da necessidade como grande incentivo à criatividade, a Result desenvolveu programa específico para o setor moveleiro do Grande ABC. A indústria de móveis da região, atacada pela concorrência de vários pólos estaduais, teve de sacudir a serragem e correr atrás do mercado. “Até janeiro três indústrias estarão totalmente informatizadas” — anima-se Laganá.
O software funciona como uma central de informações, um grande banco de dados no qual o produtor pode encontrar fornecedores e clientes potenciais. “Será possível dar mais dinamismo à fabricação” — diz. Como cada vez mais os meios de produção estão se escorando na informática como estratégia para sobreviver no mercado, a expectativa de Laganá é que em pouco tempo o Sindicato dos Moveleiros esteja online com os fabricantes.
Para se ter idéia da agilidade do processo de difusão da tecnologia da informação ao redor do planeta, basta saber que foram necessários 35 anos para que 50 milhões de pessoas do mundo tivessem linha telefônica, 26 anos para que 50 milhões tivessem TV e somente quatro anos para que 50 milhões se plugassem na Internet. “Com essa aceleração, não importa muito onde está o nicho de produção, mas onde está o meio de difusão” — afirma Alberto Custódio.
É neste ponto que o Grande ABC sugere crescimento para o setor de softwares. Por aqui há consumidores exigentes e difusores potenciais de produtos. Mas para os programas invadirem os canais de comercialização de qualquer parte do mundo, têm de ter qualidade. Quase metade — 46% — dos produtores nacionais não conta com programa de qualidade total ou similar, 36% estão estudando a implantação e apenas 18% são certificados.
Bem antes de a série ISO 9000 certificar os meios de produção de software, a Assespro criou selo próprio de qualidade que separava as empresas sérias da picaretagem. “Há 22 anos o País começava a difundir informática e não faltavam enganadores” — lembra Alberto Custódio. Hoje o Brasil representa 35% do mercado de informática da América Latina e os desenvolvedores e empresários de software já buscam padrão internacional de qualidade.
Apesar do alto custo que envolve a normatização de uma softwarehouse, a Infomaster Soluções em Informática faz planos para conquistar a certificação em médio prazo. Há seis anos instalada em Santo André, a empresa conta com catálogo atraente de produtos próprios. O carro-chefe Farmaster, destinado ao gerenciamento de farmácias, drogarias e perfumarias, é usado por mais de 500 estabelecimentos, literalmente do Oiapoque ao Chuí. O Farmaster custou aos sócios Sérgio Cassola Moreira e Egmar Darc das Neves investimento de R$ 50 mil. “Neste mês o programa está em promoção, comercializado a R$ 120″ — adianta Sérgio Moreira.
Empresas de assistência técnica e oficinas mecânicas contam com o Agillis, gerenciador desenvolvido e recém-lançado pela Infomaster. O software controla chamados de prestação de serviço, orçamentos, posição de ordens de serviços e permite integração com módulos financeiros. A Infomaster também desenvolveu o Consign, solução para o ramo de vendas por consignação; o Mastervídeo para controle e gerenciamento de videolocadoras; o Agenda, ferramenta pessoal de auto-organização; e o Siac (Sistema Integrado de Administração Comercial), já utilizado pela Corgett, loja de bijuterias instalada no Uruguai.
As criações da empresa de Santo André não param. Da Infomaster saiu a solução intitulada Desportos, voltada a federações e ligas esportivas. O principal cliente é a Federação Paulista de Futebol de Salão. No bate-bola diário, a genialidade de Sérgio Moreira e Egmar Neves chegou à filantropia: a Infomaster doou à unidade prisional Dacar – 7 de Santo André programa específico que controla fichas dos detentos, expiração de penas e outras tarefas.
Exemplo de que o sucesso do negócio é acabar em pizza é comprovado pela Work’s Sistemas, de Santo André, que desenvolveu programa específico para gerenciamento de restaurantes e pizzarias. O software faz controle financeiro e de estoque, gerencia mesas e entregas em domicílio, além de alinhavar série de informações da clientela. Seis empresas da região usam o programa, entre as quais a Pizzaria Vero Verde e a Chopperia Badoo. “O programa propicia melhoria na qualidade do atendimento e racionaliza custos” — incentiva o diretor da Work’s, Álvaro Zaragoza.
Para que a pizza pouse sobre mesas famintas o mais rápido possível, sem erro na quantidade de molho ou na preferência dos temperos, a Work’s investiu cerca de R$ 50 mil no desenvolvimento do programa, batizado de WGRP (Work’s Gerenciador de Restaurantes e Pizzarias). Na praça, o produto é vendido por R$ 1,2 mil, valor que pode variar de acordo com o porte da empresa usuária. Junto com o programa, restaurantes e pizzarias recebem garantia de suporte técnico e manutenção personalizados. Álvaro Zaragoza não nega que em cada empresa são feitos ajustes que seguem as necessidades específicas. “O programa acaba ficando com a cara do usuário” — garante.
O WGRP torna-se aliado indispensável do negócio, já que coordena garçonagem, aponta itens de baixa demanda, sugerindo retirada do cardápio, e analisa entrada e saída de mercadorias. Cria ainda lacuna de contas a receber, o que evita a perda de controle de recebimento via cartões de crédito. Para chegar a essa excelência, a Work’s empenhou cinco anos de contínuos ajustes no programa.
Nesta mesma trilha de soluções, a Proloja Informática, de São Bernardo, desenvolveu software homônimo voltado ao gerenciamento de pequenos mercados, açougues e padarias. O programa é modular e atende a necessidades de clientes de portes variados, com preço que varia de R$ 500 a R$ 3 mil. A criação do heartbusiness da Proloja custou mais de R$ 20 mil e o diretor geral, Júlio Abel Maria, nada tem a reclamar do investimento. Afinal, 60 empresas da região são usuárias do Proloja, entre as quais a rede de açougues Ofício da Carne.
Com o pé na estrada da automação comercial há 10 anos, a Proloja também é responsável pelo sistema instalado na confecção 775 Brasil, que detém cerca de 300 lojas franqueadas no País. Mas, o melhor ainda está por vir. À frente dos acontecimentos, a empresa desenvolveu programa específico para Impressora Fiscal, obrigatoriedade imposta por meio de lei federal a todos os estabelecimentos comerciais. A partir do próximo ano a novidade será grande aliada no controle de arrecadação.
O controle da reposição da garrafa de guaraná no estoque de restaurantes e similares é trabalho do software Cristal, desenvolvido pela KMW Import, de São Caetano. O programa é usado para gerenciar a distribuição de bebidas e outros itens. As empresas usuárias chegam a perceber 40% de aumento nas vendas depois da instalação e os custos despencam em até 30% a partir do quarto mês de uso do programa. Quem garante é o criador do software, Glauco Flacon, analista de sistemas que os sócios-proprietários da KMW, Jalner Reis e Cristiano Melitto Valério, atraíram de Campinas.
A eficiência do Cristal, verificada na operação da Madileo Distribuidora de Bebidas, de São Paulo, despertou a atenção da Stylo & Sabor Alimentos, empresa produtora de comestíveis embalados em saches distribuídos por todo o Brasil. “A satisfação dos clientes é monitorada graças ao suporte técnico que a KMW oferece” — avalia Jalner Reis. O programa controla estoque por qualquer unidade (caixas, dúzias, litros, garrafas), emite relatório sobre produtos sem giro, apresenta o limite de crédito por cliente ou por compra e, o melhor de tudo, não exige muito equipamento. Roda sem transtornos até num PC 386.
Depois de investir US$ 20 mil no desenvolvimento do programa, a KMW projeta a introdução do palmpilot, equipamento que vai desbancar os talões de pedidos. O palmpilot é pouco maior que um telefone celular e funciona com a captação de informações por meio de códigos de barra. Com a nova maquininha, os vendedores acionam pedidos online com as matrizes de distribuição de produtos. “Já temos empresa interessada em financiar o desenvolvimento desse ajuste ao Cristal” — revela Cristiano Valério.
O modelo de automação que a KMW começa a desenvolver foi adotado pela Akzo Nobel, de São Bernardo. Detentora das marcas Wanda e Sikkens de tintas para repintura automotiva, a Akzo Nobel adquiriu pacote pronto da softwarehouse norte-americana CA (Computer Associates). O programa desenvolvido na terra do Tio Sam segue o mesmo princípio do Cristal. Controla e opera toda a automação do centro de distribuição da indústria e já utiliza o palmpilot como auxiliar na conferência de estoque e pedidos. O processo de automação da Akzo Nobel consumiu cerca de US$ 250 mil em investimentos, dos quais 40% destinados à aquisição de softwares e equipamentos de informática.
Quem pensa que as multinacionais instaladas no Grande ABC e em outras regiões preferem softwares importados, se engana. Refinaria Capuava, Coca-Cola, Bombril e Brahma, entre outras, contam com o LubiSil, programa desenvolvido em conjunto pela Work’s de Santo André e a Sil Comércio e Manutenção de Máquinas Industriais. O LubiSil controla a manutenção e a lubrificação de máquinas industriais. “O principal objetivo é a programação de serviços de manutenção e lubrificação dos maquinários para atender a normas de qualidade” — afirma Álvaro Zaragoza. Graças ao software, as indústrias conseguem manter as máquinas sempre em operação e as linhas de produção em plena atividade. Para desenvolver o LubiSil, a Work’s investiu cerca de R$ 100 mil e o produto é vendido pela bagatela de R$ 2,5 mil.
Até o ano passado a unidade da Elevadores Otis de São Bernardo abrigava centro de engenharia mundial onde eram desenvolvidos materiais e tecnologia. A globalização pulverizou os centros de pesquisas por todo o planeta e a Otis da região responde agora só pela demanda da América Latina. Na verdade, o que deslocou o centro de engenharia de São Bernardo foi o custo elevado que o Brasil impõe ao desenvolvimento de pesquisa, seja quanto a equipe ou equipamentos. Como a inteligência artificial que controla os mais modernos elevadores do mundo é produzida pela própria Otis, sai mais em conta para a empresa levar os brasileiros que desenvolvem programas para outros países. Um dos principais elementos desses softwares é o controle de aceleração e velocidade. Equipe da Otis de São Bernardo participou de projeto desenvolvido na Alemanha que será distribuído para todo o mundo.
O avanço tecnológico desses softwares é ilimitado e muito mais complexo que programas que controlam redes ferroviárias. “Temos fórmulas que ocupam até cinco páginas de cálculos” — ilustra Manabu Ogata, superintendente técnico de Engenharia de Produto. Para quem acredita que elevador é só apertar botões pode soar como futurista a existência de programa de computador que garante a segurança do transporte vertical. Alguns modelos são munidos de balança e advertem os passageiros quando há excesso de carga. Um elevador simples custa mais que um carro, cerca de US$ 26 mil. Os mais caros podem atingir US$ 1 milhão. O modelo mais rápido do Brasil está instalado na Birmman, em São Paulo: percorre aproximadamente dois andares por segundo. O maior mercado consumidor de elevadores de alta velocidade é a Ásia, onde está sendo erigido o Petrona Tower, edifício que pretende ultrapassar o World Trade Center, dos EUA, em apenas sete metros.
Cronologia
A evolução da engenharia e do mercado de software no Brasil seguiu rumos paralelos aos do desenvolvimento da indústria de computadores. A história de software no País antecede à da tecnologia de construção de computadores, uma vez que, existem desde que foram importadas as primeiras máquinas.
Década de 60 — Constitui-se capacidade nacional no setor de desenvolvimento de software, principalmente para as aplicações mais comuns da época: científicas e acadêmicas, do setor bancário, empresarial, financeiro e industrial.
Década de 70 — Estabelecimento dos primeiros cursos superiores e técnicos de processamento de dados que leva a gradativo aumento do número de profissionais especializados no setor, que hoje chega a mais de 250 mil pessoas atuantes em análise de sistemas, programação, etc.
Década de 80 — Maior disseminação da informática, surgimento do mercado de massa para microcomputadores e ampliação da demanda por software. São montadas então as primeiras empresas brasileiras especializadas em desenvolvimento e comercialização, as softwarehouses.
Década de 90 — Desenvolvedores brasileiros de softwares disputam espaço no mundo globalizado e alguns programas ganham reconhecimento internacional.
Clones macabros
Clonar software rende detenção de seis meses a quatro anos e multas que podem chegar a três mil vezes o valor de cada cópia ilegal. Mais macabra do que isso, a pirataria de programas inibe o desenvolvimento do setor de softwares do País, bloqueia a geração de novos empregos e estanca a entrada de recursos por meio da arrecadação de impostos. Desde fevereiro deste ano, piratear softwares no Brasil é crime graças à sanção da Lei Federal 9609/98. A BSA (Business Software Aliance), organização internacional que promove o desenvolvimento da indústria de software, apurou que 68% dos softwares em operação no País são clonados. O percentual significa US$ 913 milhões de prejuízo anual para o setor.
Estudo realizado pela Price Waterhouse em 1996 indicou que a redução de 15 pontos percentuais na pirataria de softwares significa a geração de 30 mil novos empregos e arrecadação adicional superior a US$ 300 milhões em impostos. O mesmo estudo apontou que se no ano 2000 o índice de pirataria recuar para 27%, o mesmo existente nos Estados Unidos, o Brasil poderá arrecadar mais de US$ 1 bilhão em impostos e terá condições de gerar 58 mil novos empregos.
Em parceria com a BSA, a Abes (Associação Brasileira de Empresas de Software) tem promovido ações em favor de melhorias para o quadro fiscal do setor, entre as quais consta o Telepirata (0800-110039), que atende denúncias sobre uso ilegal de programas. A entidade também pode ser acessada pela Internet — www.abes.org.br, e-mail abes@abes.org.br.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES