Na semana que vem pretendo fazer um balanço dos primeiros 40 dias dos sete prefeitos da região no que se refere aos critérios do Observatório de Promessas e Lorotas, inovação desta revista digital no jornalismo brasileiro. Sem que tomem minhas impressões iniciais como sentença definitiva, diria que vejo que os eleitos em outubro do ano passado não querem cometer os deslizes da maioria dos antecessores, principalmente dos petistas Carlos Grana e Luiz Marinho, campeão e vice-campeão da primeira fornada. Isso seria ótimo, porque demonstraria grau superior de responsabilidade social.
O Observatório de Promessas e Lorotas é uma das minhas atividades à frente de CapitalSocial. Os critérios de transformar notícias publicadas na mídia regional em registros são de minha inteira concepção. Sei o que devo caracterizar como promessa e lorota ou mesmo o que devo descartar por não se encaixar em nenhum dos dois critérios. Há sutilezas que exigem certo conhecimento para distinguir uma coisa da outra. De outra forma, banalizaria esse medidor.
A base principal das anotações que viram insumos do projeto é a materialidade das obras e das ações divulgadas na mídia. Bem diferente da Folha de S. Paulo que, ao nos seguir, como anunciou recentemente, coloca tudo quanto é quinquilharia no mesmo pacote de cobrança. Preferimos, portanto, apontamentos substantivos.
Registrando aberrações
Quando um secretário de Desenvolvimento Econômico afirma que vai rebaixar alíquotas de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), como anunciou ainda outro dia o titular da pasta em Santo André, Ailton Lima, não tenham dúvidas os leitores que vamos registrar a decisão como lorota. A diferença entre promessa e lorota é que promessa conta com certo grau de materialidade potencial, enquanto lorota carrega gravíssima possibilidade de virar pó ditado pelo esnobismo da marquetagem.
Quando se rebaixam alíquotas de IPTU condicionando a decisão a investimentos, corre-se grave risco de permitir a entrada em campo de um árbitro indigesto chamado Lei de Responsabilidade Social, que criminaliza ente público que reduzir a arrecadação de determinado imposto sem correspondente compensação. Como já anunciei antecipadamente, outras duas propostas do mesmo secretário Ailton Lima também foram encaminhadas ao compartimento de lorotas. As medidas anunciadas referem-se ao Polo Tecnológico de Santo André em parceria com a iniciativa privada e a constituição de uma rede hoteleira para dinamizar o potencial turístico da Vila de Paranapiacaba.
Quem tiver alguma dúvida sobre o que distingue a inserção de determinadas propostas na relação de promessas e lorotas e outras que não são catalogadas nem como promessa nem como lorota pode mergulhar em mais de uma centena de exemplos que oferecemos no link abaixo. O material diz respeito ao acervo que os prefeitos dos últimos quatro ou oito anos (caso de Luiz Marinho) deixaram a seus sucessores como lições a serem aprendidas.
Grana e Marinho campeões
Carlos Grana, petista derrotado em Santo André por Paulinho Serra, foi campeão disparado da primeira edição do Observatório de Promessas e Lorotas. E olhem que a média de propostas que preencheram tanto um quanto outro requisito sofreu forte desaceleração a partir do lançamento dessa novidade, em julho de 2013. Os prefeitos foram alertados sobre o custo à imagem de terem seus nomes vinculados a abstrações.
Quero crer que existe entre os atuais prefeitos a premissa cautelar de que não pretendem constar com volume excessivo de propostas e lorotas no Observatório. Eles sabem que estamos de olho em tudo que disserem. Acompanhamos o noticiário de todos os jornais e revistas impressos e digitais da região. Tudo que cheirar a proposta relevante será devidamente armazenado e exposto aos leitores. Ailton Lima já experimentou do próprio veneno.
Talvez seja o ambiente recessivo da economia nacional e particularmente dinamitador na Província do Grande ABC a razão principal do escasso carregamento de propostas dos atuais prefeitos. Apertadíssimos ante os compromissos financeiros que atropelaram orçamentos superestimados pelos antecessores (inclusive pelo próprio antecessor de si mesmo, o prefeito de Diadema, Lauro Michels) eles estão com o breque de mão do entusiasmo puxado.
Por enquanto os prefeitos têm se dividido em dois campos de batalhas quase inglórias: encontrar maneira de superar as minas financeiras explosivas herdada dos antecessores e multiplicar ações de marketing para sugerirem aos eleitores e ao conjunto da sociedade que trabalham intensamente para, de forma literal em vários casos, taparem os buracos encontrados.
Neste final de semana vou dar uma busca geral nas páginas impressas dos jornais da região (e nos textos impressos das publicações digitais) para rastrear eventuais novas propostas que vão virar promessas e lorotas ou o que serão simplesmente descartadas. De uma coisa os leitores tenham certeza: nada que implique obviedades de execuções ou que seja impreciso na quantificação será incorporado ao Observatório de Promessas e Lorotas.
Tenho comigo a sensação de que tanto em promessas quanto em lorotas não teremos enxurrada de inserções proporcionada por prefeitos exageradamente entusiásticos, como tivemos, repito, na primeira gestão de implementação do Observatório de Promessas e Lorotas.
Duvido que um dos atuais prefeitos tenha a cara de pau e a desfaçatez de afirmar, no caso por conta de um secretário desastrado, que será lançado um aeroporto internacional não apenas numa região sem espaço físico para tal, mas sobretudo em São Bernardo, exatamente na área de proteção ambiental.
Sugiro aos prefeitos que mandem seus secretários municipais cuidarem do que falam porque todos eles são extensões que, de acordo com os pressupostos do Observatório, valem como expressão da Administração Municipal. Os anúncios de Ailton Lima já estão encaminhados à homologação. O custo mais apropriado a arremetidas pouco conectadas com o potencial de consumação é mesmo o respectivo registro como passivo inicial do Observatório de Promessas e Lorotas. Sim, passivo inicial porque tanto as promessas quanto as lorotas são contabilizadas de forma negativa, até que eventualmente saiam da esfera especulativa, quando não ficcional, e vire realidade. Algo que nenhum dos prefeitos cujos mandatos se encerraram em 31 de dezembro último conseguiu alcançar. Todos ficaram no vermelho. Houvesse uma Lei de Responsabilidade Informativa, eles estariam enrascados.
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