Economia

Moveleiros planejam pool de exportação

WALTER VENTURINI - 15/07/2000

O Grande ABC deverá abrigar o primeiro consórcio de exportação do setor moveleiro no Estado de São Paulo. Para isso, a agência de São Bernardo do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa) vai formar moveleiros na arte de vender produtos no Exterior e desenvolver design que seja a marca da região.


Exportar é o Que importa era o slogan do governo brasileiro nos anos 60 e 70. Entretanto, por mais que seja atraente vender e receber em dólares, os empresários do setor moveleiro do Grande ABC precisam saber qual a capacidade de atender ao mercado externo. É comum uma empresa aceitar pedidos acima do potencial produtivo e depois atrasar a entrega, erro fatal na disputa por clientes fora do País.


“Os empresários terão de formar consciência para ter capacidade de exportação” – afirma Paulo Sérgio Franzosi, consultor da Divisão de Tecnologia do Sebrae-SP. Essa será uma das lições que os moveleiros terão de aprender.


Desenhar na Itália e produzir na China. Essa é a fórmula que faz dos chineses mão-de-obra barata e dos empresários e designers italianos os donos dos segredos do desenho industrial e também da melhor fatia dos lucros. “O poder é de quem tem a inteligência, não a manufatura” – sentencia Franzosi. Design in Grande ABC – Made in Grande ABC. Buscar esse hipotético selo é o objetivo do consórcio de exportação.


A procura de design regional é possível — segundo o consultor — e deve ser baseada nas características locais. Exemplos na história do desenho industrial existem. Os italianos tinham grande produção de fibras e aço na década de 60. Resultado: desenvolveram móveis nesses materiais e marcaram época.


Outro caso foi o design de móveis finlandeses, o estilo de Aalto, criador da técnica de camadas de madeira moldadas em água quente e que se ajustavam às curvas imaginadas pelos desenhistas na década de 30. Não por acaso a Finlândia é um dos maiores pólos madeireiros do mundo.


Seguindo esses exemplos, o Grande ABC pode buscar na variedade de seu parque industrial materiais para agregar aos móveis e, com isso, dar-lhes cara regional. “Essa característica pode ser colocada nas linhas dos produtos” – admite Franzosi. Ele próprio já tem uma primeira pista para chegar ao estilo da região: utilizar resíduos da indústria algodoeira nos móveis, principalmente em revestimentos. O que comumente é lixo industrial pode ser valor agregado ao desenho do mobiliário e fazer sucesso no mercado internacional. Consumidores estrangeiros valorizam a preocupação com reciclagem de materiais. “Na hora em que você tem argumentos como resíduos de algodão e madeira de floresta replantada, fica mais fácil vender no Exterior” – explica o consultor.


Na oficina Design de Móveis, realizada há um ano pelo Sebrae e a USP (Universidade de São Paulo), constatou-se que a grande maioria dos empresários do Grande ABC não tinha clara noção que design não era apenas um estilo, mas principalmente a formatação de um produto a partir de conceitos como materiais e ergonomia, a ciência que projeta objetos em função das medidas e movimento do corpo humano.


Tanto a formação de empresários com noções de exportação como a procura de um desenho especifico para os móveis do Grande ABC serão os eixos do MovelAção, programa a ser desenvolvido em seis meses e que vai reunir grupos de 10 empresas. O primeiro grupo será definido ainda este mês e contará com 22 empresários previamente selecionados num universo inicial de 153 interessados.


Designers e engenheiros de produção da USP foram escolhidos pelo Sebrae para acompanhar os grupos de empresários que desenvolverão produtos para uma linha completa de móveis — desde cozinha e sala até dormitórios. O Sebrae também conseguiu junto a técnicos da USP a indicação de empresa que comercializa madeiras alternativas, em cores e texturas inusitadas no mercado. “Isso pode ser outro diferencial” – diz Franzosi.


Outra proposta é o desenvolvimento de normas e procedimentos de ergonomia. No Brasil já existe legislação, conhecida como NR 17, que obriga ambientes de trabalho serem adaptados a padrões ergonômicos. Mas para móveis residenciais não há procedimentos normatizados. Estudos nesse sentido começaram há um ano no pólo moveleiro do Rio Grande do Sul. No Grande ABC, o MovelAção desenvolverá essa preocupação.


O SBC Design, parceria entre Prefeitura de São Bernardo, Sindicato da Indústria de Móveis de São Bernardo e Região, Sebrae local e Campus ABC da Uniban, também elabora um certificado ergonômico para ser carimbado nos móveis produzidos na região. A parceria foi inicialmente planejada para desenvolver o tão perseguido design regional, mas acabou reajustada para uma consultoria pontual aos moveleiros e a criação de site na internet com pesquisa histórica resgatando as formas dos móveis produzidos na região.


“Nesse site, vamos também exibir uma feira virtual do setor” — informa Hermes Soncini, presidente do sindicato de classe, que há mais de dois anos comanda a mobilização de um setor que já projetou São Bernardo, mas perdeu em modernidade e competitividade para outros pólos brasileiros. O ABC tem cerca de 550 moveleiros, que empregam 3,5 mil pessoas e representam 0,8% da força econômica — bem menos do que a fama projeta.


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