De vez em quando – e isso é muito pouco, mas melhor do que nada – o jovem e experiente jornalista André Marcel de Lima vai aportar fachos de luminosidade intelectual nestas páginas de CapitalSocial. Ele produzirá artigos que vão se encaixar, na maioria dos casos, num patamar mais elevado de regionalidade em primeiro lugar, mantra fixado logo abaixo da logomarca desta publicação cuja estrutura morfológico-editorial vai muito além do olhar simplório dos provincianos. Possivelmente alguns que entendem regionalismo como algo encapsulado em geografias restritas tenham dificuldades em entender as análises que André Marcel de Lima vai preparar.
André Marcel de Lima é jornalista predominantemente por vocação, mas também tem a açodá-lo genes de hereditariedade. A imensa quantidade de talento determinado pelo esforço contínuo de aprendizagem e aperfeiçoamento completa o coquetel entre a vontade de pretender ser e a fome de estar sendo. André Marcel de Lima atende a várias publicações quando chamado. E quando não é chamado o mais provável é que o esgarçamento da qualidade editorial dos jornais e revistas está pior do que se imagina.
Ter André Marcel de Lima na revista digital CapitalSocial não é uma novidade, embora seja uma exclusividade. Não entenderam esse conceito aparentemente contraditório? Vou explicar.
Estar na revista CapitalSocial André Marcel de Lima está há muito tempo. Na medida do possível estamos trazendo a este espaço nobre do jornalismo regional o que foi impresso durante quase duas décadas da revista LivreMercado que dirigi editorialmente.
Berço e independência
São inúmeros os textos de reportagens de André Marcel de Lima transportados de LivreMercado para CapitalSocial. “Textos” é força de expressão,. Jornalista que também é professor de línguas, já atuou na Administração Pública (inclusive na assessoria de gestores que jamais tiveram a complacência deste profissional, embora os maledicentes sem argumentos confundam alhos com bugalhos) ele produz muito mais que reportagens.
Doutrinado ao jornalismo de valor agregado desde os tempos de LivreMercado, André Marcel de Lima jamais abdicou de prospectar o sentido de reflexão a tudo que publicou. Ele não escreve, apenas. Faz análises. Ou melhor dizendo: ele pratica jornalismo com interpretação, com compromisso com a verdade dos fatos. Não fica em cima do muro, como a maioria, torcendo para que as fontes de pressão não o interpretem mal. Ou seja: jornalismo com compromisso social, não jornalismo com compromisso com uma minoria barulhenta.
Durante os muitos anos em que atuou na revista LivreMercado, quer como efêmero fotógrafo em cima de bicicleta a percorrer os mais diferentes endereços da região, e principalmente como jornalista que se diplomou (desnecessariamente por sinal) na Metodista, em São Bernardo, André Marcel de Lima preparou textos tão maduros como saborosos.
Longa experiência
André Marcel de Lima acompanhou uma parcela das multifaces da economia da região com tamanha competência (shopping, comércios em geral, montadoras, autopeças, gestão pública) que não faltaram especuladores a afirmar que se tratava de codinome adotado por este jornalista para disfarçar a escassez de profissionais numa revista muito maior como produto do que como estrutura de pessoal e física. Ou seja: eu teria criado André Marcel de Lima como muleta de esperteza.
Se a intenção dos malfeitores éticos era me desgastar, caíram duplamente do cavalo. Primeiro porque a verdade sempre aparecerá. Segundo porque disseminaram um elogio não ao autor dos trabalhos – ele, jovem, vertiginosamente prospectivo na arte de manter relacionamento comprometido com os leitores – mas a este veterano profissional do jornalismo.
Cada vez que ouvia alguém insinuar que André Marcel de Lima era uma invenção minha, carregava duas respostas com as quais, reflexivamente, debochadamente, me divertia.
A primeira de que eu realmente não estava defasado na parte superior de meu corpo, que a maioria chama de cérebro e eu brinco ao responder que se trata mesmo de uma casa de louco. Segundo porque a única realidade sobre a invenção de André Marcel de Lima se situava no campo da genética. Com a vantagem, para ele, de que estava certo aquele maluco que defendia a tese (e ficou para sempre entre as máximas mais provocativas dos humanos) da evolução das espécies.
Aliás, por conta disso, do parentesco que nos une, tive de me tornar mais realista que o rei durante todo o período de André Marcel de Lima na revista LivreMercado. Jamais nenhum outro profissional de jornalismo foi tão rigorosamente observado por mim. Sobrava-lhe tanto talento, mas tanto talento que só me satisfazia mesmo se ele imprimisse em cada parágrafo marcas de criatividade e de precisão. Algo como exigir que Rogério Ceni convertesse em gol toda batida de falta da entrada da área, por exemplo.
Enquanto para a maioria dos iniciantes em jornalismo engatar a segunda marcha da personalização de um texto é um passo sempre doloroso, André Marcel de Lima chegou à quinta num piscar de olhos. Um texto com marca registrada não é para qualquer um.
Identidade e individualidade
Há uma identidade tão estreita e profunda nos textos que produzo e no apanhado de textos de André Marcel de Lima que às vezes, não fosse a assinatura logo no início de cada trabalho, juraria por todos os juros que aquela análise foi produzida por mim, não por ele. E vice-versa. Não me desse conta disso acreditaria que já fosse portador de Alzheimer.
Mas não é por estar tão afinado ao talento e ao discernimento de André Marcel de Lima que estariam descartadas divergências conceituais. A premissa de que identidade e individualidade nem sempre é captada pelos analfabetos funcionais. Não nos falamos com a frequência desejada, mas mantemos contatos para entender que não posso reduzir em nada a velocidade de conhecimento porque ele vai me atropelar ainda mais.
Não, não se trata de uma competição de egos, mas do saudável referencial de qualificação. O que me move a não permitir que ele me dê uma sova em todos os assuntos que eventualmente discutimos é a lógica da sobrevivência intelectual. Já imaginaram se fico tão atrás dele e perco a oportunidade de sustentar uma conversa fértil com um jornalista tão bom e um filho inadvertidamente crente de que sou seu paradigma?
Convite demorado
Partiu de mim o convite para ele utilizar CapitalSocial para desopilar todo o conhecimento macroeconômico e social de que dispõe e aperfeiçoe a cada dia contando com as facilidades que o domínio de línguas proporciona.
Como trocamos mensagens indexando textos de terceiros nas mais diferentes mídias, não resisti à ideia de que lesse uma entrevista do jornal Valor Econômico com um especialista internacional em macroeconomia, cujas ideias não caminharam na mesma seara tanto minha quanto da dele.
A mensagem eletrônica foi o ponto de partida para André Marcel de Lima ir a fundo. Rastreou tudo sobre o entrevistado. E a partir daí construiu um trabalho tão arrasador que não tenho dúvidas de que, não fosse a advertência aí em cima, muitos julgariam ser meu, disfarçado de um tal André Marcel de Lima.
Um tal André Marcel de Lima que, entre os profissionais da mesma geração, é estouradamente o melhor desta Província. E com amplas condições de atuar em qualquer veículo de comunicação do País. Basta que não lhe tentem impor encabrestamento ideológico e muito menos ético. E que, tampouco, retroceda ao arcaísmo de repassador de declarações de terceiros sempre interessados em manipular a pauta.
Espaço para quem sabe
Sei que pode soar a cabotinismo (principalmente àqueles que não me dão trégua, como se não soubessem que adoro que assim o seja, porque tudo que vem de terceiros mal-humorados ou mesmo cafajestes só me provoca motivação) tratar nestas páginas de CapitalSocial sobre alguém com o qual temos laços sanguíneos.
Fosse André Marcel de Lima engenheiro agrônomo, mecânico de veículos, vendedor de cachorro-quente, estejam certos os leitores de que seria ignorado nestas páginas. Até porque, não se meteria a escrever pela simples razão de que não teria especialidade jornalística para tanto. Como jornalista, e jornalista dos bons, dos muito bons, daqueles em que a verdade é bem supremo, em que a ética não pode sofrer ataques de tergiversadores, André Marcel de Lima é um baita reforço para CapitalSocial. Mesmo que um reforço circunstancial.
Fica o convite a todos: leiam na edição de segunda-feira o primeiro de muitos (espero) textos desse jornalista que de tão bom que é não tem espaço na mídia regional, entregue na quase totalidade dos casos a profissionais em início de carreira. André Marcel de Lima é um jovem com quase 25 anos de profissão. Metade do pai, mas o dobro de apetrechamento. Querem presente melhor do que ser a metade de quem é brilhante? Duro mesmo é ser semelhante a quem é medíocre.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)