Imprensa

Novos números
remetem à reflexão

DA REDAÇÃO - 05/02/1997

A combinação de pelo menos duas leituras obrigatórias desta edição, a primeira relativa à cuidadosa e especial análise de números de documento da Confederação Nacional da Indústria e a segunda que contempla o novo Censo do IBGE, liquida de vez, como se ainda fosse preciso, o castelo de areia do ufanismo regional irresponsável que alguns agentes econômicos, sociais e públicos teimam em propagar. Quando esta publicação, há cinco anos, teve a ousadia de contrariar o lugar-comum da época, de endeusamento dos novos investimentos nas áreas comercial e de serviços, e lançou o primeiro petardo realístico sobre o esvaziamento econômico do Grande ABC, foi um deus-nos-acuda. O provincianismo falou alto. Fosse o período da Inquisição, o articulista teria sido sacrificado. 


Infelizmente, mais e mais, ao longo dos últimos anos, cristaliza-se essa dura constatação de perdas cumulativas depois de muitos anos de fastio. Ainda de vez em quando aparece um falastrão qualquer, desses que têm conteúdo intelectual digno de ornamentação de orelhas de abano, e insiste em brigar com a realidade. 


Mas como a sociedade não é boba, e percebe em detalhes a queda de padrão de qualidade de vida, esses arautos de bobagens acabam por virar motivo de chacotas. Esses novos números e essas novas interpretações vão ter  valor pedagógico importante, porque a expectativa é de que os formadores de opinião vão reagir de alguma forma a essas más notícias. 


Intensidade desejada


Espera-se que essa reação se dê com intensidade e rapidez, porque nesse aspecto o Grande ABC ainda está deixando a desejar. O rebaixamento da qualidade de vida exigiria ações imediatas, acelerando-se em ritmo de salsa e merengue os passos institucionais que já não estão imobilizados pelo descaso, como há algum tempo, mas ainda lembram uma valsa. 


A debandada populacional rumo à periferia de áreas de mananciais, com a proliferação de favelas, está sincronizada com o rastro de violência e criminalidade anunciado pela Polícia. E nada indica que o recrudescimento desse quadro será substituído por abrandamento dos registros policiais, já que os investimentos no setor estão muito aquém dos explosivos índices demográficos de contingentes periféricos. 


Se já é assustadora a notícia de que o número de favelados de Santo André aumentou em 21,4% em cinco anos, contra taxa demográfica nacional de 7% no mesmo período, o que dizer da periferia de São Bernardo, que apresenta casos de até 200% de expansão e uma média de 60%? 


O momento por que passa o Grande ABC é delicado do ponto de vista social e econômico, porque o inchaço da periferia decorre principalmente do descompasso  do modelo industrial local, baseado sobretudo em montadoras de veículos protegidas por tarifas de importação e alimentadas por autopeças jogadas às feras da competição e da pressão de fornecedores internacionais. 


A globalização econômica, a abertura das alfândegas e o regime automotivo privilegiador das grandes montadoras, entre outros motivos, estão comendo a economia regional pelas beiradas.  


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