Só os românticos poderiam duvidar que o Grande ABC, mais dia menos dia, perderia o controle da CTBC, por força da privatização em massa do setor de telecomunicações. Agora, que a intervenção do Ministério das Comunicações, através do Sistema Telebrás, se desse de forma tão abrupta, intempestiva, violadora da lógica e do relacionamento respeitoso que deve prevalecer entre o Estado a sociedade, ah, isso ninguém poderia imaginar. Sobretudo porque é unanimidade não rodrigueana que a diretoria comandada por Ademir Spadafora vinha reconstruindo uma empresa que, até virar moeda política, disputou cabeça a cabeça a liderança de qualidade do sistema de telecomunicações do País.
Esse novo solavanco na história político-administrativa da CTBC surpreende mesmo quando não deveria surpreender, porque desde que a chamada Nova República se instalou em Brasília e fez escola ao flexibilizar o conceito de governabilidade o comando da CTBC viveu sob o controle remoto do poderoso de plantão. A suposição de que o Estado brasileiro já chegara ao fundo do poço em mesquinharia e que, por isso mesmo, já não tinha mais como chafurdar-se em mediocridade administrativa, foi candidamente subestimada.
Se em outras ocasiões as assembléias na CTBC geralmente tiveram caráter hitchkokiano, tantos eram os interesses em jogo, desta feita a reunião não gerou qualquer expectativa que transgredisse a sensatez de que uma diretoria competente seria prontamente mantida. Mal se poderia imaginar que não um, mas quatro corpos caíssem numa armadilha política apropriada a regime ditatorial.
Avaliando os Legislativos
Certamente, o esvaziamento regional da CTBC foi o fato político mais expressivo de abril, mas não o único. Da CTBC tratamos na matéria de capa desta edição. Do outro assunto -- a avaliação permanente dos vereadores das Câmaras locais -- o Diário do Grande ABC tem se ocupado com luminosidade, independência e ineditismo nacional. Os poucos opositores do projeto, entre os quais o prefeito de Diadema, Gilson Menezes, parecem perfeitamente identificados com os tempos de autoritarismo, embora espertamente façam brandir o contraponto da democracia.
Podem parecer fatos dissociados, até porque os atores estão distantes geograficamente, mas há muito mais intimidade entre o mandonismo de Brasília em relação à CTBC e esse rastreamento científico do Diário do que se possa imaginar. O que está em xeque é a qualidade do Poder Público nacional. O Congresso Nacional e suas ramificações daninhas são resultado da mediocridade que infesta os Legislativos municipais, escola de formação básica da classe política.
O argumento de que quem elege é o melhor fiscal soa falso, porque se sabe o quão frágil ainda é o grau de cidadania dos eleitores. Poucos atores sociais e econômicos escapam de permanente avaliação seletiva. Esse privilégio está ruindo na região.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)