Imprensa

Ademir Medici e Raddi
jamais se acovardarão

DANIEL LIMA - 14/03/2017

Estou autorizado a revelar a identidade do cidadão regional que imediatamente após eu escrever sobre uma sentença absurda do titular da 3ª Vara Criminal de Santo André (“O que fazer quando a verdade é condenada”), me encaminhou um e-mail que mexeu com minha estrutura emocional. Chama-se Ademir Medici, nome do jornalismo regional que dispensa adjetivações, o autor daquele e-mail que vai virar quadro na parede de meu escritório. Em seguida, outro jornalista, Donizeti Raddi, que publica um blog que é referência em independência e competência, também se manifestou em artigo que reboquei a estas páginas. Ter o apoio desses dois profissionais com os quais trabalhei muito anos no Diário do Grande ABC seria suficiente. Outras manifestações, de leitores fieis, me tocaram igualmente.

Não sou ingênuo para acreditar que toda a torcida está ao lado de quem foi violentado no direito de exercer a profissão com dignidade. Antes a ameaça de prisão do que viver à sombra de bandidos sociais. Entendam bandidos sociais agentes públicos e privados que ultrapassam os limites da ineficiência funcional e se jogam nas águas da corrupção denunciada por instâncias legais.

Sociedade acima de tudo

Aqueles que imaginam que esse novo caso da agenda de truculência de Milton Bigucci vai alterar a missão a que me propus há mais de 50 anos estão enganados. Eventual contrariedade ao interesse da sociedade por informações sem vícios e conveniências vai me tornar ainda mais prospectivo na busca da verdade. Quem perderia com eventual criminalização deste jornalista em nova instância do Judiciário seriam aqueles que acreditam que a Operação Lava Jato é uma exceção à regra de mudanças profiláticas neste País. Já escrevi e repito: precisamos de uma Lava Jato regional para colocar muita gente graúda atrás das grades. Meritocraticamente.

Escrevi na tarde de ontem este artigo e o outro que vou postar daqui a pouco. Adiantei a obrigação diária de escrever para esta revista digital porque quero estar livre, leve e solto nesta manhã de terça-feira quando o Tribunal de Justiça de São Paulo vai julgar a demanda tão rasteira quanto tergiversadora do Clube dos Construtores do Grande ABC então dirigido pelo notório Milton Bigucci.

Enquanto os desembargadores vão decidir o meu destino – sou um criminoso na versão do juiz de Direito de Santo André porque revelei as vísceras de uma entidade em que o presidente durante mais de duas décadas deitou e rolou com autoritarismo e incompetência – estarei confiando plenamente na Justiça ao correr nove quilômetros numa estrada tranquila.

Uma corrida sem nenhuma preocupação especial porque, mesmo com a péssima experiência da Primeira Instância em Santo André, confio plenamente no Judiciário e na defesa do advogado Alexandre Frias.

Aula de jornalismo

A grandeza humana do breve e-mail assinado e autorizado por Ademir Medici e o artigo de Donizeti Raddi me sensibilizaram profundamente. Eles me deram uma aula de jornalismo.

Ademir Medici foi brilhante ao introduzir um foco irradiador de objetividade que possivelmente passou despercebido da maioria dos leitores.  Ademir deixou evidenciado que, resultado do julgamento à parte, o futuro saberá reconhecer o que chama de coragem do autor daqueles artigos. E enfatizou um ponto tão verdadeiro quanto lamentável: estou praticamente sozinho no combate aos bandidos sociais que infestam a região e que só não são dimensionados por aqueles que se fecham às conveniências de compartilhar espaços e oportunidades geralmente impuras, ou então por quem não tem mais atividades e moradia na região e podem acreditar que ainda vivemos os anos dourados da indústria automotiva.

Donizeti Raddi sintetizou uma verdade que Ademir Medici utilizou como âncora discreta para chegar ao ponto de meu isolamento: disse com todas as letras que o peso institucional das grandes publicações jamais seria desafiado por criminalistas escolhidos pelo então presidente do Clube dos Construtores.

Traduzindo a questão: se este jornalista escrevesse o mesmo artigo numa publicação tradicional da Capital, por exemplo, Milton Bigucci jamais teria a petulância autoritária de mover-se em busca de retaliação. E qualquer um dos grandes jornalistas do País, todos mencionados por Donizeti Raddi, que escrevesse algo semelhante ao que este profissional escreveu nas páginas desta revista digital, o destino seria igualmente manipulado por um dirigente classista avesso ao contraditório. Imaginem então, sugeriu Donizeti Raddi, se eles escrevessem aqui o que costumam escrever nos veículos da Capital. São muito mais cáusticos que este profissional.

Fugindo da raia sempre

Nunca é demais lembrar que foram sete as tentativas de Entrevista Indesejada com Milton Bigucci. Ele mais do que ninguém sabe que fugir da raia era mesmo a alternativa menos traumática a quem usou e abusou de uma instituição mequetrefe, chinfrim e muito mais durante os mandatos seguidos que a presidiu com os olhos fixos nos interesses corporativos de seu conglomerado empresarial.

As declarações escritas de Ademir Medici e Donizeti Raddi não me surpreenderam. Eu os conheço bem. Não precisaria, necessariamente, de algo materializado e publicado para saber o quanto eles, mais que inquietos com um amigo de longa data, estão é mesmo preocupadíssimos com os rumos da Imprensa da Província do Grande ABC.

Uma imprensa em larga escala servil, amedrontada, manipulada por forças econômicas e políticas e pronta para, à ausência covarde de preocupar-se com terceiros no exercício de uma atividade em comum, acredita que a receita do bolo que levam aos leitores todos os dias é do agrado dos consumidores.  

A ausência de ameaças ou mesmo de ações biguccianas às demais publicações não significa que a Imprensa regional, com raras exceções, esteja a cumprir o papel a que se destina a atividade. Muito pelo contrário: é a prova mais lamentável de que o amordaçamento é prática corriqueira e por que não desmoralizante. Pareço o soldado fora do passo, não é verdade? Antes preso no passo individual em sintonia com a sociedade consumidora de informações do que escravo do passo coletivo de mentiras e manipulações.



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