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Que tal o Clube Econômico do
Grande ABC? Custa sonhar?

DANIEL LIMA - 22/03/2017

Sei que é potencialmente um desperdício de tempo e de paciência, quando não tolice em forma de esperança, mas não custa sugerir o que vou sugerir agora porque, assim, quando o futuro mais distante chegar, alguém haverá de entender o que se passou na Província do Grande ABC em termos de apatia institucional. Indo reto e direto ao assunto: que tal os maltratados e sufocados representantes do empreendedorismo da região saírem do casulo corporativo e criar o Clube Econômico do Grande ABC? 

Quem acha que complicações específicas de uma determinada categoria empresarial se esgotam nos limites potenciais próprios está enganadíssimo: somos sistemicamente ligados uns aos outros e, enquanto todos não se derem as mãos, esqueçam o resto.  

Entre as inúmeras vantagens do Clube Econômico do Grande ABC estariam pontos focais como o direcionamento de baterias técnicas e diplomáticas ao fortalecimento da atividade produtiva na região, abandonando-se o autarquismo municipalista de entidades que pouco produzem entre outros motivos porque não questionam. 

A iniciativa promoveria também o encontro das águas de uma regionalidade que insiste em negar fogo porque as organizações municipalistas só olham para o próprio umbigo – com determinam estatutos forjados em meados do século passado. 

Enxergando o todo 

Sei que a criação e a consolidação do Clube Econômico do Grande ABC não passam pela cabeça crítica de muitos dirigentes classistas que querem manter o que entendem ser poder de aproximação individual ou grupal com o Poder Público Municipal. Esses aproveitadores são nocivos ao conjunto da sociedade -- como tenho cansado de dizer -- porque não enxergam o todo, quanto mais o amanhã que haverá de ser hoje. 

O Clube Econômico do Grande ABC reuniria dirigentes ou dissidentes das principais (ou mais tradicionais) organizações coletivas do setor empresarial da região, mas não se esgotaria nesse limite. Deverá contar também com empreendedores que jamais participaram de entidades de classe ou o fizeram e se afastaram decepcionados.  

No início da caminhada não se recomendaria abrir o leque a organizações e representantes avulsos que não tenham perfil empreendedor. A razão dessa restrição seletiva é simples: os empreendedores locais estão num mato sem cachorro de representatividade formal mais avançada e densa para uma atuação mais prospectiva e produtiva.

O que emperra a aproximação das chamadas lideranças empresariais reunidas em organizações de classe é o divisionismo territorial de uma região que de fato não passa de sete pedaços que mal se comunicam, quando não se hostilizam, e também os projetos individuais de cada organização. Não falemos de fraquezas humanas, porque aí seria muito triste.

Entidade de todos 

Ora, esses pontos que atravancam a aproximação e a consolidação de uma agenda de mudanças podem ser destruídos com a composição do Clube Econômico do Grande ABC, entidade à parte das entidades das quais se originariam alguma parcela de representantes. As demais parcelas seriam recrutadas do próprio mercado de expectativa de novas configurações institucionais. Há muito empreendedor inconformado com tudo o que está aí, mas não encontra espaço à participação efetiva. 

Há muito tempo sugeri um modelo que envolveria exclusivamente representantes de associações comerciais e industriais da região, rivais diplomáticas e cujos integrantes não ultrapassam os limites municipalistas para entender que o jogo precisa ser jogado de forma mais abrangente. A ciumeira precisa ceder espaço ao pragmatismo. Agora entendo que o processo de unificação de uma pauta transformadora passa por entidades em defesa do empreendedorismo e, principalmente, por empreendedores avulsos, decepcionados com a paralisia quase generalizada das organizações que supostamente os representariam.

Lista de emergências 

O caráter emergencial do quadro econômico da Província do Grande ABC exigiria que o Clube Econômico do Grande ABC filtrasse, num primeiro estágio, questões mais candentes e de resolutividade regional para estancar o derramamento do PIB (Produto Interno Bruto) e da qualidade de vida que estamos cansados de registrar. 

Sem essa premissa, a entidade correria o mesmo risco de seguir o cronograma que parecia auspicioso ao Fórum da Cidadania, maior movimento regional, criado em meados dos anos 1990. Tentar agarrar o emaranhado regional seria uma tremenda besteira. Definir uma pauta dependente de terceiros no âmbito estadual e também no federal eternizaria decepções e desmobilizaria o movimento. São lições do passado que não podem ser repetidas.

É indispensável elaborar uma lista de não mais que meia dúzia de questões inadiáveis, tornando-a obsoleta. Conceituar o que seriam pautas inadiáveis não é tarefa a polemizar além do pragmatismo. Peguem-se os problemas de âmbito regional, cujos resultados dependem fortemente de mobilização interna, e tudo estará bem encaminhado. 

Já passou da hora de os empreendedores da Província do Grande ABC deixarem a rabeira da importância social e econômica. Sindicalistas, agremiações partidárias e Executivos Públicos submetem o empreendedorismo regional ao quarto de despejo de relevância. Mal ou bem sabem ocupar espaços. Eles tomam conta da pauta jornalística e da comunicação com a sociedade consumidora de informações. Os empreendedores são párias da sociedade, segundo o olhar mais agudo dos observadores da cena regional. 

Resistências a superar 

Quando um grupo comprovadamente experiente e eficiente de dirigentes empresariais com amplo conhecimento da realidade regional se mobilizar num primeiro passo para dar formato preliminar do modelo do Clube Econômico do Grande ABC, tudo poderá ser diferente. 

É certo que haverá resistência de velhos caciques de entidades empresariais. Nada que não motivaria comemoração. O Clube Econômico do Grande ABC precisa saltar à realidade sustentado por novos padrões de ações. Seus integrantes, portanto, não seriam necessariamente egressos, pelo menos na totalidade ou em larga escala, das instituições já existentes. Haveria muitas dissidências nessas mesmas entidades, de dirigentes igualmente inconformados com o baixíssimo grau de enfrentamento à derrocada regional que rompe décadas. 

Em suma, o Clube Econômico do Grande ABC seria um espetacular golpe de mestre, quando não um chute nos fundilhos, na configuração convencional e defasada de organizações coletivas que não se comunicam e raramente se colocam a campo para, num primeiro estágio, empatar um jogo em que sofre constantes goleadas diante do Poder Público e do sindicalismo mais sagaz. 

Sei que a parada é dura. Os poderosos de plantão e os poderosos de sempre lutam para manter postos intocáveis. Eles querem que tudo se exploda, desde que preservem o que entendem ser conquistas que no fundo não passam de privilégios que distorcem o conceito meritocrático de empreendedorismo.  

Será que não temos uma dezena de mocinhos sociais ligados à economia regional dispostos a começar a alterar as regras desse jogo de cartas marcadas? 



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