Imprensa

Série pedagógica para entender
o que é liberdade de opinião

DANIEL LIMA - 03/04/2017

É claro que não vou ficar em silêncio após a decisão de um juiz criminal de Santo André que me condenou a oito meses de prisão porque antecipei e relatei verdades insofismáveis sobre o frustrante -- quando não farsante em termos estatísticos -- Clube dos Construtores do Grande ABC durante o reinado de 25 anos do empresário Milton Bigucci. O contrário, ou seja, o amedrontamento, seria um soco na cara do interesse público. E quanto o interesse público está acima de tudo, o que parece inexpugnável, ou seja, o direito de defesa, não passa de uma etapa a ser superada. A maioria, quando não a quase totalidade, prefere outro caminho. O Judiciário maduro e sensato jamais obstará os passos da legalidade que me foi surrupiada naquele julgamento, ou naquela sessão de tortura psicológica. 

Por tudo isso e muito mais decidi dar continuidade à pregação em defesa da liberdade de opinião com responsabilidade social. A partir da semana que vem iniciarei série de artigos que adotará o título "Já imaginaram se fosse eu a escrever esse texto?". 

Posso assegurar que essa série vai dar muito trabalho para selecionar os textos de terceiros, sobretudo da chamada grande imprensa. Não faltarão opções. É claro que não editarei um capitulo a cada dia, embora, repito, sobrem exemplares de liberdade de expressão que dinamitam os rigores e as imprecisões do meritíssimo de Santo André. Talvez prefira uma edição dessa nova série a cada semana.

Característica da publicação 

Tenho muito mais assuntos a tratar, mas como o que está em jogo, entre outros pontos, é a minha atividade profissional no sentido mais amplo da expressão, que vai muito além de uma sentença descabida, não vejo outra saída senão bater nessa tecla durante bom tempo. 

Produzir séries sobre determinadas temáticas é uma das características desta revista digital. Basta dar uma olhadinha no que temos nestes dias para constatar essa vocação. 

Escrevemos sobre o caso Celso Daniel em contraponto a um livro que violentou os fatos minuciosamente apurados por uma força-tarefa da Polícia de São Paulo, do governo Geraldo Alckmin. Também fazemos do Observatório de Promessas e Lorotas acompanhamento dos administradores públicos municipais da região. Recentemente passamos a recuperar o histórico da revista LivreMercado a partir de janeiro de 1997, para mostrar, mês a mês, o que se passou na região nos últimos 20 anos. Tudo isso tem muitas finalidades, mas o resumo é que, insisto, é o interesse público que está em jogo. 

Ensinando a entender 

A nova série não é uma contraofensiva ao meritíssimo, embora a imaginação e a criatividade que me levaram à iniciativa tenham tudo a ver com a queixa-crime do notório Milton Bigucci. Trata-se de ação pedagógica que pretende levar aos leitores as multifaces da liberdade de opinião, conforme prerrogativas editoriais dos mais diferentes autores e veículos de comunicação. Vou trazer o que chamaria de modernidade a quem é refratário ao entendimento do que é jornalismo, porque só está acostumado a balcão de negócios. 

Aliás, pensando melhor, fiz isso recentemente ao contrapor aos 11 artigos criminalizados textos de autores diversos da grande mídia. Aquilo acabou sendo um laboratório a essa iniciativa. Agora será diferente. Vou escolher a dedo os textos mais abrasivos, mais instigantes. Certamente os leitores detestam leituras que não passam de enrolação, não de jogo de cena. Complementarei cada nova edição dessa série com os destaques que os criminalistas do conglomerado empresarial escolheram nos 11 artigos criminalizados. Será chocante o confronto. Os argumentos do Clube dos Construtores vão se esfarelar ainda mais. A decisão do meritíssimo parecerá ainda mais disparatada. A liberdade de opinião foi solapada. 

Já imaginaram se, ao invés daqueles 11 artigos criminalizados pelo meritíssimo de Santo André, este profissional do jornalismo produzisse série de artigos que enaltecesse os mandatos medíocres de Milton Bigucci no Clube dos Construtores, entidade da qual foi apeado do poder  porque os passivos éticos e morais que acumulara já não poderiam persistir na representação formal de uma classe desunida, sofrida, abandonada, na região? Certamente receberia até diploma de reconhecimento daquela organização. Antes uma penalidade injusta a uma condecoração indecorosa. 

Estadão inspirador 

Tive a ideia de escrever essa nova série de análises após ler um editorial do Estadão. Principalmente um trecho que expressa a opinião daquela publicação mais que centenária sobre uma das instituições mais veneradas do País. Não é porque está possivelmente no topo das organizações do País que aquela entidade deva colocar-se acima do bem e do mal. O Estadão fez muito bem (e aqui não vai juízo de valor sobre o conteúdo em si do editorial, apenas e tão somente ao direito de opinião) ao escrever o que escreveu. 

Costumo dizer que a sistemática de Milton Bigucci em tentar calar este jornalista é um tiro que sai pela culatra, independentemente do que o Judiciário faz de suas fantasias autoritárias. Bigucci já deveria ter percebido que jamais obstará meus passos editoriais não só com relação à entidade que dirigia e da qual hoje é presidente do Conselho Deliberativo, mas sobre qualquer outra. Bigucci ainda não entendeu o seguinte: tenho missão desmedida com o compromisso de escrever criticamente. Por isso nada, absolutamente nada, interromperá essa caminhada. Exceto duas coisas, logicamente: no dia em que me der conta de que sou um idiota juramentado a perder tempo com uma sociedade que supostamente não mereceria a menor consideração ou, claro, quando o poderoso me colocar a nocaute. 

Mais uma contribuição

Portanto, a série “Já imaginaram se fosse eu a escrever esse texto”, é  uma nova contribuição que pretendo repassar aos leitores. Vou reproduzir trechos de terceiros que atuam longe da Província do Grande ABC. Serão todos eles, jornalistas, colaboradores e editorialistas,  testemunhas de defesa da liberdade de opinião. Os provincianos desta região vão perceber pelo efeito comparação o quanto sou brando. 

Dessa forma, quem sabe, alguns resistentes a produção diária desta revista digital, sobretudo quando determinados assuntos alcançam os mais próximos de suas relações e de seus interesses, passarão a compreender que este jornalista não é o soldado fora do passo da imprensa regional, mas exatamente o contrário. É a região que ainda não se apercebeu de que o uso contínuo da marca “Província do Grande ABC” tem muito mais profundidade filosófica do que de marketing. 

Portanto, temos um encontro marcado a cada semana com essa nova série. Tenho certeza de que os leitores vão adorar. Menos quem vive no mundo da lua ou é sabujo dos bandidos sociais. 



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