Imprensa

Lava Jato pela 191ª vez. O
que esperar da Província?

DANIEL LIMA - 07/04/2017

Este artigo trata da Lava Jato. Agora são 191 textos dessa operação editados nesta revista digital. Somos integralmente favoráveis aos federais. Sem qualquer tipo de restrição. Inclusive no uso de tecnologia tão condenada por alguns coleguinhas quando das ações que culminaram na criminalização do ex-presidente Lula da Silva. Que o método seja aplicado também a esclarecimentos envolvendo políticos de outras agremiações igualmente bandoleiras. Ou alguém tem dúvidas de que a maioria dos clubes de políticos reproduz finalidades que estão a léguas de distância do interesso público? Aliás, como entidades diversas, fora do âmbito partidário, que se dizem representantes de categorias que as ignoram, principalmente porque são ineficientes, quando não campo de manobras à corrupção irmanada com o Poder Público.

Os federais usaram recentemente Power point para explicar detalhadamente as denúncias envolvendo o ex-presidente Lula da Silva. Quem chiou na Imprensa desconsidera que do outro lado do gramado da ofensiva pelo controle e disseminação de informações existe ampla liberdade de atuação. Entrevistas coletivas viram verdadeiros espetáculos. Como, aliás, se fez naquela mesma data do Power point. A Globo News chegou a interromper a transmissão da entrevista da força-tarefa para priorizar a coletiva do advogado contratado por Lula da Silva. Havia como compatibilizar as duas partes sem sacrificar interesse público. 

Ora, diante de escaramuças verbais, por que não possibilitar que os federais paguem na mesma moeda de transmissão de informações? Sobretudo porque a moeda dos federais raramente apresenta inconformidade. E quando apresenta não passa de detalhes. Que podem ser instrumentos favoráveis à defesa dos denunciados. 

A lógica da transparência implica em responsabilidades e cuidados extremos. Questionar o direito à exposição de argumentos e de supostas provas dos acusadores é burrice. Só teme transparência quem deve.  A democracia tão decantada pelos meios de comunicação não pode ser aplicada de forma restritiva. Os representantes da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Justiça Federal têm mais que o dever, a obrigação de repassar à sociedade todos os detalhes das investigações. 

Filhote esperado

Mas não é sobre a legitimidade das operações e tampouco a metodologia aplicada que pretendo registrar esta que é 191a matéria sobre a Operação Lava Jato. O que quero dizer mesmo, franca e abertamente, é que lamento muito, muitíssimo, que a Província do Grande ABC não tenha até agora um filhote dessa que é a maior ação federal contra o crime organizado de que se tem notícia. 

Até mesmo uma Lava Jato Estadual, de forças estaduais, seria muito bem-vinda também, porque o que não falta aqui é matéria-prima de malandragens que passam impunes e mantêm os bandidos sociais livres para continuarem a dar as cartas. 

Tenho esperança de que a Lava Jato federal vai chegar com toda a força na região. Possivelmente vai demorar, porque a prioridade é o núcleo nacional das investigações. Depois, aparecem os mandachuvas e mandachuvinhas estaduais. Até que chegarão, e vão chegar, os poderosos dos municípios. 

Coisas estranhas demais 

Existe muita, mas muita coisa estranha na Província do Grande ABC. Há muita, mas muita sujeira multipartidária e multiempresarial a ser apurada na Província do Grande ABC. Tem muita, mas muito escândalo à espera de investigação na Província do Grande ABC. Quando, finalmente, teremos ações federais e estaduais, mesmo que separadas, para colocar os pratos a limpo? 

Sei que sei que a Operação Lava Jato e seus desdobramentos não estão a desencorajar maracutaias provincianas. Trabalham mandachuvas e mandachuvinhas com a certeza de que, por ser Província, por estar longe do poder político e econômico do País, jamais haverá razões para se preocuparem com o dia seguinte que colheu frontalmente bandidos sociais de outras geografias mais requisitadas pela mídia e pela audiência popular. 

A Operação Lava Jato chegou apenas tangencialmente à região. Há várias pendências a apurar e a penalizar. O dinheiro da Petrobras jorrou em administrações municipais que já tiveram o estoque de mandato esgotado. Há, por isso, muita gente que não tem dormido o necessário e desejado por conta do que pode vir. 

Demora-se muito, entretanto, para que reverberações ganhem manchetes e manchetíssima. Uma demora que favorece o ambiente de descontração para alguns novatos em gestão municipal. 

Golpes imobiliários 

O mercado imobiliário recheado de mercadores prepara novos golpes no território regional. Eles são mais gulosos que inteligentes. São mais gananciosos que prudentes. Consideram-se imunes a qualquer tipo de investigação porque acreditam que têm as costas largas. Contam com a falta de estrutura física e pessoal do Ministério Público Estadual, principalmente. 

Têm os mercadores imobiliários a certeza de que não estão ultrapassando os limites da segurança quando observam a lentidão com que se apuram as roubalheiras denunciadas há três anos e meio naquela que se convencionou chamar de Máfia do ISS, em São Paulo. Um dos promotores criminais do caso escreveu com todas as letras a este jornalista, em resposta à curiosidade sobre o andamento das investigações, que a falta de uma força-tarefa é a melhor explicação possível para o quadro de impunidade. 

Todas as matérias do acervo desta revista digital que fazem referência direta ou indireta à “Lava Jato” são resultados de textos deste jornalista. Não existe uma única matéria de terceiros, de agências de notícias, de reprodução de matérias de jornais. O que quero dizer com isso é que por quase 200 vezes encontramos motivos de sobra para regionalizar o tema. 

Assunto universal 

Lava Jato é assunto universal, mas no nosso caso é regionalismo comprometido com a informação que de alguma forma tem a ver com nossos cromossomos sociais. 

Se tivesse de escolher meia dúzia entre as quase 200 matérias que redigi sobre a Lava Jato juro que não conseguiria chegar a um resultado que me satisfizesse. A premissa de Lava Jato na região é abrangente. Nos links abaixo vou sugerir a leitura de alguns desses textos. Em março do ano passado produzi um texto semelhante a este, cujo título era “Faz muita falta à Província uma Lava Jato com força-tarefa local”. E se faz. 

Enquanto o lobo não chega, os bandidos sociais fazem a festa e ameaçam terceiros que insistem em apontar as mazelas regionais. A sociedade da Província do Grande ABC é uma abstração. Nenhuma entidade de classe econômica, política ou social mexe uma palha sequer para colaborar com as autoridades a fim de colocar um ponto final em determinados escândalos latentes. 

Degeneração generalizada 

Nossas instituições estão contaminadas. Mais que contaminadas, estão apodrecidas. As relações profissionais, sociais e corporativas colocam a Província do Grande ABC no matadouro da cidadania.

Perdemos vitalidade ética e moral na exata proporção da quebra do dinamismo econômico, resultado de desindustrialização incontornável que alguns pretendem tapar com a peneira da ilusão de que polos tecnológicos salvarão a lavoura. 

Polos tecnológicos são apenas uma das muitas peças do tabuleiro de desenvolvimento econômico. Isoladamente nada valem. Servem para populismos que a i maioria da sociedade sem filtro crítico julga ser uma boa saída. 

Instituições falidas 

A massa falida de institucionalidades da Província do Grande ABC é um convite à degeneração das relações sociais. A Lava Jato faria um grande favor à Província do Grande ABC se ajudasse a instaurar um ambiente de autoconfiança em cada morador que, em silêncio, espera por um milagre de mudanças que jamais virão se forças externas aqui não desembarcarem. Enquanto isso, o risco é de que bandidos sociais continuem a ser tratados como modelos a ser seguidos. O Rio de Janeiro de Sérgio Cabral também passou por esse estágio. Até que os federais apareceram. Será que teremos o mesmo destino? 

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