Olá gente, vocês se lembram de mim? Reparem bem no meu nome logo abaixo do título. Sou o Daniel Lima ao contrário. Ao contrário em tudo. Por isso sou o Leinad Amil. De vez em quando resolvo invadir esse barraco. Invadir é um ato falho que acabo de cometer. Este é meu lugar de verdade. A titularidade é minha, por mais vacância que acumulo.
O Daniel Lima é um impostor. Ele se mete a ocupar estas páginas porque é metido a besta. Devo reconhecer que é mais que isso, que é sério e independente. Por isso mesmo tem de ir para a cadeia. Minha turma está cuidando disso com zelo. Cada dia a gente aperta mais o pescoço dele. Temos de tirá-lo de circulação. Ele atrapalha os negócios da minha galera.
Diria que sou um ocupante efêmero de CapitalSocial, mas nem por isso deixo de entender que sou o titular do pedaço. Muita gente me confunde com o Daniel Lima. Insisto em dizer que sou o Leinad Amil. A confusão é por causa da ordem ou da desordem das letras. O que posso fazer se me batizaram assim e batizaram ele assado?
Somos os siameses mais opostos com os quais alguém poderia sonhar. Somos tão siameses que nem parecemos siameses. Repararam que quando se escreve Daniel Lima e Leinad Amil poucos capturam que somos o contrário um do outro? Quando se descobre que tudo é igual ao se desembaraçarem as letras, somos aparentemente siameses mesmos. Mas isso é pura ficção. Especulação, para ser mais preciso.
Cavando a sepultura
E não venham vocês com gracinhas de rima abestalhada ao me chamarem de Leinad Amil. Ponte que caiu uma ova! Só se for a ponte que caiu do Paulinho Serra, prefeito de Santo André. Não vou dizer que o Paulinho Serra é da nossa turma. Ainda estamos reconhecendo o terreno dele. Está certo que leva jeito para a coisa, mas não posso ultrapassar os limites, mesmo sendo eu, o contrário de Daniel Lima, porque sou Leinad Amil, mesmo sendo eu, como estava dizendo, louco para atrapalhar a vida do meu contrário.
Tenho feito movimento em torno de uma pendenga que colheu o Daniel Lima no contrapé. Demos um golpe nele recentemente, mas ele não desiste. Não se intimida. Enfrenta até quem aparentemente é imbatível quando toma decisões. Estão pensando em algo como um representante do Judiciário? Acertaram na mosca.
Eu e minha turma entendemos que, para lidar com jornalista como o meu contrário, que Deus me perdoe por essa semelhança paradoxal, só mesmo cavoucando a sepultura dele. Não, não estamos pesando em assassiná-lo. Já chegaram a propor essa medida, mas não achamos conveniente. Um acontecimento desse porte numa Província como a nossa viraria assunto nacional. E quando isso acontece, babau, todos os controles vão para o chapéu. Até porque dizem que o meu contrário é bem relacionado com gente diferente da nossa turma. Bicho besta de metido.
Comendo pelas beiradas
Não posso revelar quem participou do encontro que tratou da possibilidade de mandar o meu contrário para o cemitério. Fui voto vencido, porque queria ele a sete palmos da sepultura. Preferiram o caminho da legalidade controlada, como falam, e esse caminho tem nome e sobrenome: Poder Judiciário.
Longe de mim insinuar que temos um acerto com o Judiciário. Nem pensar uma coisa dessas. Nossos métodos são mais maquiavélicos e factíveis. Simplesmente atribuímos ao meu contrário uma porção de coisas nos escritos que ele edita e corremos para a galera. Sabemos como manipular o que o meu contrário chama de semântica e nós, entre nós, resumimos de forma menos sofisticada: manipulamos bem.
Sei eu e meus companheiros de jornada que, para quebrar a perna do meu contrário, é indispensável ter muito profissionalismo no que queremos e precisamos fazer. Nada de improviso. Quando a gente colocar na cadeia um peixe grande do jornalismo metropolitano de São Paulo, caso do meu contrário, o efeito imediato é o descredenciamento e a desqualificação de críticas aos nossos objetivos.
Quanto mais nosso adversário parecer ao público algo que eu poderia chamar de criminoso, porque o povo não entende determinadas filigranas, mais estaremos habilitados a continuar nossa jornada que os maldosos dizem ser nada republicana. Sem contar que vamos enquadrar os demais jornalistas. Isso não tem sido muito difícil. Os donos dos jornais, em grande maioria, não nos enfrentam. O meu contrário é que é muito atrevido.
Obra de engenharia
É claro que, mesmo sendo o contrário de Daniel Lima, porque sou o Leinad Amil, não vou aqui fazer besteiragens e assinar embaixo, repassando táticas e estratégias de combate para engaiolá-lo. Trata-se de uma engenharia muito especial. Estamos tão determinados a isso que tudo parecerá normal, absolutamente normal. Dentro das regras do jogo.
Não sei se partiu de nossa turma uma campanha que visava atingir a imagem do meu contrário. Distribuíram de forma anônima na Internet uma porção de boletins que, cá pra nós, não passavam de mentiras cabeludas. Gente do nosso grupo desconfia que o ataque internético tenha partido de um dos nossos, que preferiu individualizar a operação.
Fala-se também que o ataque teria sido requisitado a piratas digitais, como são chamados os especialistas em jogar sujo contra quem ousa nos enfrentar. Garante-se que houve uma associação desse dissidente circunstancial da nossa turma com gente então poderosa da política de São Bernardo. Estaria em São Caetano a sede da empresa detonadora de e-mails que os puristas chamam de ofensivos e mentirosos, mas que consideramos vitais como peça demonstrativa de nossas intenções e de nossos critérios éticos.
Sendo eu o contrário de Daniel Lima, dizem meus parceiros que o melhor mesmo é não me atribuírem muitas tarefas nesse jogo que seria sujo só porque não seguiria regras de civilidade, transparência e verdade. Também, querem o que? Imagine se a gente vai agir à imagem do meu contrário? Só se fossemos malucos.
O que quero mesmo com minha turma é pegar para valer o meu contrário. Ele vai ver com quantos Leinads Amil se faz uma clínica médica, com perdão do trocadilho infame. Não seria infame se eu não fosse o contrário do Daniel Lima, certo?
Cadeia para ele
Nosso lema, o lema da turma do Daniel Lima ao contrário, porque é assim que nos identificamos, é ver o meu oposto na cadeia. É nossa única possibilidade de aliviar um pouco a barra das lambanças que já cometemos em diversas praças. Enganamos a sociedade com informações falsas e cometemos outros delitos, dos quais estamos sãos e salvos até agora.
Quando falo no plural, quero dizer que o nós, no caso, somos exatamente nós, ou seja, o nosso grupo. Pode parecer redundância, mas é preciso deixar explícito essa diferença. Eu sou a soma dos integrantes do grupo. Leinad Amil é uma individualidade em contraponto ao Daniel Lima, não custa repetir, mas pensa e age exatamente no sentido oposto ao do intruso que se acha titular deste espaço.
Qualquer dia desses volto com novas informações. Como sou Leinad Amil, o contrário de Daniel Lima, tenho de honrar meu caráter Macunaímico de só dar as caras quando achar que devo. Ele, o meu contrário, que carregue diariamente este fardo jornalístico.
Só para encerrar: acho até que tenho um parentesco de fato com o meu contrário. Vocês não repararam? Temos o mesmo estilo de escrita, não é verdade? O que, graças a todos os santos, nos coloca em cantos opostos, além dos insumos propriamente ditos, é que sou muito mais satírico, debochado e largadão. A isso se pode dar o nome de alegria de viver. Cá para nós – alegria de viver com a certeza de que ninguém obstará meus passos e tampouco da minha turma, que é da pesada. Abraço a todos.
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