O esgotamento dos eixos empresariais e a indisfarçável carência de áreas com status em São Paulo têm desviado os olhos de urbanistas e empreendedores para o Eixo Sudeste, que compreende o Vale do Rio Tamanduateí acompanhado pela Avenida dos Estados e pela linha férrea. A área despertou a atenção do urbanista espanhol Jorge Borjas quando em visita a Santo André e também de Raquel Rolmik. Marginal Pinheiros e Luiz Carlos Berrini, por exemplo, tiveram seus dias de glória e hoje não suportam mais novos empreendimentos. Ainda sem a maquiagem que torneia o perfil de Connectcut, nos Estados Unidos, o Grande ABC já ganha ares para disputar o filão que concentra maior poder aquisitivo. A começar pela porta de entrada, São Caetano, que apresenta nicho imobiliário com padrão de excelência exemplar. Há também o preenchimento dos espaços industriais por comércio seguido de intervenções viárias que beneficiaram a acessibilidade e deixaram a região mais perto do que nunca.
Nessa nova atmosfera regional onde a fábrica não pauta mais os hábitos das cidades, a Prefeitura de Santo André estabeleceu com a Pirelli pacto audacioso de R$ 200 milhões de investimento denominado Cidade Pirelli, que será edificada em área de 200 mil metros quadrados ao lado da Pirelli Cabos, no Bairro Homero Thon. “Este modelo de empreendimento de serviços já foi adotado com sucesso em Milão, na Itália” — empolga-se Horácio Galvanese, coordenador de Projetos Especiais da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano. No dia 24 de setembro, dois projetos de lei que normatizam a Operação Urbana Pirelli chegaram à Câmara Municipal — um que isenta os futuros desapropriados do pagamento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e outro que altera o zoneamento e autoriza o projeto em si — e devem ir a plenário ainda neste mês.
Simultâneos ao projeto da Cidade Pirelli diversos estudos convergem para o Eixo Sudeste. “Nunca houve planejamento para a sub-região Sudeste, apesar do fator histórico de expansão econômica propiciada pela ferrovia” — diz o arquiteto Sérgio Zaratin, especialista e coordenador de Planos Regionais da Emplasa, que tem comandado estudos para o Vale do Tamanduateí e o entorno da ferrovia, os quais envolvem cerca de 100 técnicos de diversas empresas públicas e privadas.
Além da Cidade Pirelli, os estudos incluem Proposta Orla Ferroviária, Requalificação Urbana no Macroeixo Ferrovia e Avenida dos Estados e Financiamento do Trem Metropolitano a Partir da Valorização Urbana, entre outros. “O Grande ABC ainda é grande mercado consumidor, está em local estratégico e, quando embaraços como dificuldade de acesso e poluição são retirados, as qualidades aparecem” — aposta Zaratin. São essas qualidades que os empreendedores buscam. “Faz parte da cultura das empresas internacionais propiciar qualidade de vida aos funcionários” — afirma Galvanese.
A Cidade Pirelli será o megaempreendimento de Santo André e concentrará centro comercial e de lazer com capacidade para cerca de 50 mil pessoas. O arquiteto Edo Rocha, responsável pelo projeto, prevê entrega da primeira etapa em cinco anos. Dos planos consta a construção de 20 torres de escritórios, um hotel com 360 apartamentos, centro de convenções para 400 pessoas, cinemas para três mil espectadores, casa de espetáculos para duas mil pessoas, praça de alimentação, conjunto comercial, estacionamentos e áreas verdes. Tudo isso preparado para funcionar 24 horas. “O projeto ocorre em momento crucial da transformação econômica da região” — garante Galvanese.
O protocolo de intenções assinado entre Prefeitura e Pirelli inclui construção de viadutos, alargamentos de vias, reurbanização e desapropriação de 48 imóveis comerciais e residenciais que ocupam cerca de 14 mil metros quadrados. De cara as desapropriações se mostraram como tendão de Aquiles do projeto. Muitos moradores questionam o pagamento. Horácio Galvanese afirma que a Prefeitura tem ciência do ônus e que baseia o pagamento no justo valor de mercado. “Pulamos a etapa do valor venal” — diz o coordenador. A Prefeitura poderia sob respaldo da lei ter decretado a área de utilidade pública, mas preferiu eliminar atritos.
A diplomacia da administração de Santo André tem transformado a cidade em pólo acolhedor de iniciativas. Para atrair investimentos, os incentivos seletivos também são ferramentas indispensáveis. Aos poucos, os espaços industriais ociosos vão dando lugar a empreendimentos comerciais e de serviços, sinalizando a tendência da região. Com o ABC Plaza Shopping, que remodelou a paisagem próxima ao terminal rodoviário, a futura instalação do Hipermercado Extra nos galpões da Armco e a chegada da UniABC, em futuro próximo, vão faltar motivos que justifiquem o nome da Avenida Industrial.
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12/11/2024 SETE CIDADES E SETE SOLUÇÕES