Economia

Quando a união vai além da
força e gera desenvolvimento

MALU MARCOCCIA - 05/07/1998

Uma palavra, associativismo, pode interromper a série de anos de gestão inadequada, atraso tecnológico e perdas de mercado do setor moveleiro do Grande ABC. O associativismo vai ser o tema eixo do seminário que a indústria de móveis promoverá no final deste mês no Anfiteatro Cacilda Becker, em São Bernardo, em mais um esforço para reerguer uma das forças econômicas da região.


Para falar sobre essa que pode ser uma das trilhas que levam à indispensável modernização, a Câmara Regional do Grande ABC convidou o consultor João Araújo Pinto Neto, coordenador do Pólo de Desenvolvimento do Setor Moveleiro de Votuporanga. Esse Município do Noroeste Paulista conseguiu resgatar a tradição de grande produtor de móveis por meio de série de iniciativas, entre as quais a criação de central de compras, forte carga de treinamento gerencial e da mão-de-obra e absorção de tecnologias avançadas.


O Grande ABC, onde se estima existirem 450 fabricantes de móveis, quer aproveitar algumas das experiências de Votuporanga, que inclusive negocia a instalação da primeira filial do Cetemo (Centro Tecnológico Moveleiro), erguido em Bento Gonçalves (RS) e considerado o mais avançado laboratório brasileiro de pesquisas e desenvolvimento do setor. “Não há saída. Se não se unirem as indústrias perdem força, já que a maioria tem perfil de pequeno e médio porte” – afirma Silvana Pompermayer, gerente da agência São Bernardo do Sebrae-SP, organismo que desempenhou papel chave na reestruturação promovida em Votuporanga junto com a Associação Comercial e Industrial local.


Silvana destaca entre as vantagens do associativismo a soma de ativos para obtenção de empréstimos de maior valor, o aumento do poder de barganha junto a fornecedores e a formação de consórcios de produtividade para se chegar ao mercado internacional.


O presidente do Sindicato dos Moveleiros de São Bernardo e Diadema, Hermes Soncini, acredita que a central de compras possa ganhar versão mais ágil no Grande ABC por meio do Cadastro Geral de Compras, espécie de banco de dados onde estarão disponíveis nomes de todos, ou da maioria dos fornecedores do setor. “É questão de agregar esforços. Vamos cadastrar por produto, localização e preços. Cada empresa poderá acessar o cadastro no sindicato e continuar fazendo pedidos individualmente, com a diferença de que nesse bando de dados estarão fornecedores que conhecem nosso potencial e poderão fazer vendas em grande escala” – explica Soncini. Sua preocupação é dar acesso direto aos grandes produtores de matérias-primas e eliminar distribuidores e intermediários aos quais os moveleiros, isoladamente pequenos, têm de recorrer.


O associativismo também pode ser a porta de entrada para duas outras engrenagens que os fabricantes da região querem colocar em movimento dentro do projeto de reestruturação: a criação de um Centro de Design no qual todos possam desenvolver novas linhas e a implementação do Centro de Apoio e Difusão Tecnológica, por onde atualizariam os processos de produção. “Vamos centrar o foco do seminário na importância da associação. Não vamos dispersar os debates, pois o temário central será de motivação à indústria, para o Grande ABC recuperar seu pólo produtor” – diz Hermes Soncini.


Dentro desse enfoque, comporão a mesa de expositores o novo presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Horácio Lafer Piva, e o secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo, Fernando Longo.


A indústria de móveis do Grande ABC concebeu projeto de libertação do atraso em maio do ano passado, a partir de pesquisa que o sindicato de classe realizou com 20 empresas. Estacionado durante os longos anos de inflação da década de 80 no comércio varejista, o setor deixou de investir em fábricas modernas e colocou a produção em plano secundário. Os resultados da pesquisa não poderiam ser outros: 60% estão com a linha de mercadorias necessitando de atualização, 70% têm maquinário convencional com mais de 10 anos e 90% da mão-de-obra são considerados com qualificação insuficiente.


As Associações Comerciais foram chamadas como primeiras parcerias para auxiliar no cadastramento do setor, chegando ao número de 450 fábricas e cerca de seis mil empregos diretos. O Sebrae São Bernardo também aderiu ao papel de bombeiro: desde novembro do ano passado treinou 700 vendedores, atendeu a 95 empresários dentro do ciclo de palestras de capacitação, dividiu com o Sindicato o mapeamento de 350 empresas para formar o Banco de Dados do Setor Moveleiro da região e promoveu visita ao Cetemo gaúcho cujo fruto resultou em projeto na área de pintura de móveis por meio do Patme (Programa de Tecnologia para Pequena e Média Empresas). Sete fabricantes já estão sendo atendidos pela parceria Cetemo/Senai/Patme.


A Câmara regional, que criou em janeiro deste ano um grupo de trabalho específico, também tem animado o processo. O mais recente parceiro é a FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), que por intermédio do Ipei (Instituto de Tecnologia) atendeu a três empresas dentro do programa Patme e promoveu palestras, mês passado, sobre custos e planejamento da produção. O Ipei também passou a trabalhar sobre projeto de utilização de resíduos dos moveleiros da região, que desconhecem o destino dos descartes da produção.


Caminhões são contratados para dar fim a esses resíduos, que em Votuporanga, por exemplo, são processados e comercializados para carvoarias e padarias por uma empresa terceirizada. Na experiência de Votuporanga também constam conquistas como o fim de ociosidade de até 70% há seis anos para aumento de 35% da produtividade, redução de 42% nos custos e início de operações em escala no mercado exportador.


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