A série de reportagens que este site tem chamado à leitura (“10 motivos de indignação com a condenação de jornalista”) e que nesta quarta-feira chega à nona edição, é mesmo esclarecedora: quem não aprova jornalismo independente tem razões de sobra para pretender me tirar de circulação – ou torcer para tanto. Preferencialmente ao elaborar uma queixa-crime que ajude a construir uma sentença judicial que associa intolerância, despreparo ao entendimento da função jornalística e impetuosidade. CapitalSocial orgulha-se de não contar com Departamento Estruturado de Maquiagem.
Para dizer a verdade e sem me preocupar em ser politicamente correto, na medida em que novas matérias alimentam o vulcão de textos que retratam historicamente o ambiente regional, mais me surpreendo comigo mesmo.
Temos produzido manancial enorme de análises que, mantidas no site, vão retratar com clareza as últimas décadas na região. Para tanto, somam-se trabalhos de outros profissionais do jornalismo, principalmente até 2008, quando ainda comandava a revista LivreMercado e cujo acervo migra intermitentemente a este espaço.
Incômodo necessário
Sei que incomodo categorias formadas por bandidos sociais, administradores públicos que só contracenam com áulicos, prevaricadores informativos, manipuladores estatísticos e tantos outros mais. Provoco mais desconforto porque o perfil desta revista digital é exceção na praça. É verdade que de vez em quando há arroubos de libertação. Mesmo nesses casos o melhor a fazer é botar as barbas da credulidade de molho. Não faltam estratégias para transmitir falsos conceitos.
Tenho uma ideia na cabeça mas, como essa ideia pode esperar, não pretendo apressar os passos. O negócio é o seguinte: talvez me dedique durante algum período a mostrar que muito que parece independência jornalística não passa de correia de transmissão de embuste informativo. São artimanhas, apenas artimanhas.
É exatamente isso, esse tipo de drible da vaca de baixo risco, que permeia muito do que se lê no jornalismo regional. Mas o que na maioria dos casos mais pesa mesmo é o controle da pauta pelos agentes do outro lado das redações -- agentes públicos, privados, sindicais e sociais que, organizadíssimos e bem orientados, exploram como extrativistas as deficiências estruturais e técnicas dos veículos de comunicação locais.
Lambanças avalizadas
Quando um prefeito, como Luiz Marinho, anuncia um Aeroportozão Internacional em plena área dos mananciais em São Bernardo, ou quando um assessor do prefeito Aidan Ravin divulga que o PIB de Santo André crescerá 17% na temporada, e nenhum veículo de Imprensa toma o cuidado de questionar, está mais que na cara que os tentáculos das redações já foram abduzidos.
Esses são dois exemplos de um saco enorme de inconformidades funcionais do jornalismo regional. Quando alguém se opõe a tudo isso, quando alguém decide questionar e, mais que isso, propor medidas corretivas (como o fiz em 2010 ao Clube dos Construtores, por exemplo), toda a ira dos revoltosos se dirige a quem cumpre rigorosamente a função social de que está investido.
Com exceções circunstanciais, o jornalismo da região vive os piores momentos de sua história. Faltam recursos financeiros. Falta entorno de institucionalidade com suporte da sociedade. Faltam talentos, porque talentos não custam barato e demoram muito a se tornarem talentos. Falta competência técnica para distinguir o que é notícia importante e o que são matérias de fontes viciadas. Falta responsabilidade social.
Por essas e por outras, vamos levar até não sabemos onde essa série de matérias que simbolizam o histórico de comprometimento social de CapitalSocial – e também da predecessora revista LivreMercado. Uma passada de olhos diariamente nas manchetíssimas de cada matéria (a leitura é facilitada pelo link automático) é suficiente para compreender as razões que fazem deste jornalista troféu especialíssimo aos que vivem à margem do interesse público.
Entretanto, não falta a compensação de um público bem maior, de leitores que não participam dos grupos organizados que tomam de assalto os cofres públicos. Eles nos fortalecem no enfrentamento de borrascas seletivamente preparadas.
Credibilidade sabatinada
Pode parecer cabotinismo falar de CapitalSocial, mas não ligo para determinadas etiquetas de hipocrisia. Sei muito bem (e aí vai mais uma frase politicamente incorreta) o quanto há de ignorantes sociais incapazes de identificar bom jornalismo. Reiterar que CapitalSocial ocupa espaço qualificador nesta Província pode até parecer um flerte com a arrogância, mas isso não me incomoda. Colocamo-nos à prova de combatentes críticos legítimos a cada texto que produzimos. Somos sabatinados sempre. E os leitores não podem mesmo nos darem folga.
Vivo jornalismo 24 horas por dia porque respeito profundamente os leitores -- mesmo os leitores cujos interesses são contrariados, quando não abortados. Me imponho politica editorial de tolerância zero.
Vamos em frente com a série de artigos que refletem fiel e agudamente o que vivemos na região. O filme é de horror, mas aí é outra história. Talvez as próximas temporadas sejam ainda mais tenebrosas. O andar da carruagem da regionalidade é de dar pena. Quando os bons se juntarem, a biruta certamente virará.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)