Movido pela roda-gigante de ideias e decisões sistêmicas, decidi alterar novamente o mote desta revista digital. Deve aparecer nas próximas horas ou dias uma nova marca complementar na primeira página deste site. Sai “Regionalidade em primeiro lugar” e entra “Regionalismo sem partidarismo”. Tomei a decisão porque a regionalidade editorial de CapitalSocial é tão óbvia que reforçá-la tornou-se redundante. Então, quem deveria entrar no campo da explicitude conceitual? Escolhi “Regionalismo sem partidarismo” por razões que explico na sequência.
Talvez a motivação-mãe da mudança, o novo mote escancara algo nem sempre identificado nas páginas desta publicação. Como o mundo está dividido de forma obtusa entre direitistas e esquerdistas, vítimas de congelamento compulsório da inteligência, nada mais ajuizado que deixar bem claro e no alto da primeira página que não nos pegarão nem de um lado nem de outro desse muro de estupidez como ocupante permanente de nossas intervenções jornalísticas.
Entendam como quiserem os direitistas e os esquerdistas. A banda larga que alguns dizem existir para separar uns de outros muitas vezes ganha o terreno da subjetividade. Para mim está bem claro que direitistas são conservadores e individualistas, quando não corporativistas, enquanto esquerdistas são coletivos reformadores decididos a tudo para se converterem exatamente em direitistas.
Coerência e pano surrado
Mas não é isso que interessa agora. Tenho horror a esses dois lados da moeda ideológica porque lhes faltam nuances que os colocam em permanente saia justa. A coerência é sempre um pedaço de pano surrado com o qual se procura inutilmente sugerir que se está promovendo limpeza em regra.
Regionalismo sem partidarismo” é um recado reto e direto a todos os leitores. Aqui não vão encontrar modelos pré-concebidos nos laboratórios de hipocrisia para tornar o que é certo hoje em equivocado amanhã e tampouco o que é equivocado hoje em certo amanhã. Querem exemplo dessa prática que robustece a credibilidade do novo mote?
O histórico de nossa cobertura do caso Celso Daniel, especialidade nossa, exaustivamente nossa, duramente construída com base em diferentes investigações policiais, não limpará jamais a barra do PT no campo criminal em múltiplos escândalos que assombraram o País.
Os veículos de comunicação produzidos por militantes ideológicos misturam as duas coisas no mesmo saco. Para mim, os sacos são distintos. Ou seja: Celso Daniel foi assassinado em circunstâncias sem qualquer parentesco com os desvios financeiros na Prefeitura de Santo André.
Ingenuidade confessada
Aqueles que ligam diretamente uma coisa a outra por conta do Mensalão e do Petrolão, por exemplo, confessam ingenuamente a burrada de empacotar os casos no mesmo recipiente. Basta lembrar que a aberração do Ministério Público para justificar a tese de que o crime do prefeito foi obra de paus mandados cai por terra justamente diante dos acontecimentos posteriores.
Celso Daniel jamais lutou contra a corrupção e muito menos contra supostos desvios de recursos que seriam canalizados ao PT. Seu substituto na coordenação da campanha de Lula da Silva, não custa lembrar, lhe era semelhante em quase tudo, menos no brilho especial: Antonio Palocci, enredadíssimo na Lava Jato.
Um novo exemplo de ponto interessante que desnuda nossa flexibilidade pautada pela coerência editorial, a qual por sua vez é escrava dos fatos: não é por que Fernando Henrique Cardoso foi um péssimo presidente da República para a Província do Grande ABC (por motivos que cansei de analisar) que igualmente o foi para o País como um todo. Nada disso. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
FHC deixou legado de estabilidade monetária e ajuste fiscal que deve ser reconhecido sempre. Da mesma forma que Dilma Rousseff completou as obras de despautérios iniciada por Lula da Silva nos dois últimos anos do segundo mandato, tudo por conta das eleições presidenciais. O mesmo Lula da Silva, entretanto, que descobriu a obviedade ignorada até então pelos tucanos: o Brasil dos pobres não poderia continuar a ser esquecido. Aí vieram Bolsa Família e outros programas sociais, dos quais administradores públicos de todos os matizes se apropriaram com especificidades em ambientes municipais e estaduais. Inclusive na rica São Caetano, aqui na região.
Longe das patotinhas
Poderia dar muito mais exemplos de práticas editoriais que formulamos há muito tempo tanto nesta revista digital como na revista impressa LivreMercado. E também em outras situações, em outros veículos.
Essa independência ideológico-partidária é uma glória pessoal tanto quanto um problemão profissional. Quero dizer com isso que não pertenço a nenhuma patotinha de engajados à direita ou à esquerda que se refestelam com assemelhados e asseguram mutuamente certo conforto de empregabilidade e de solidariedade. Sou um jornalista sem partido num País em que a maioria dos jornalistas não esconde o que lhe passa pela cabeça, lutando por isso muitas vezes e de forma vergonhosa contra os fatos.
“Regionalismo sem partidarismo” é uma expressão-síntese de minha vida profissional. Nada mais adequado, portanto, que resplandeça no alto dessa primeira página de maneira serena, equilibrada, corajosa e até mesmo desafiadora.
Condicionalidades nocivas
Não consigo entender como normal condicionalidades praticadas pelo jornalismo partidário. Entre os problemas com os quais tem de conviver estão frustrações dos leitores que consomem informação. Inclusive daqueles que se acumpliciam de narrativas manchadas pela prévia adequação da informação ao formato ideológico e partidário: eles também, no fundo, procuram encontrar narrativas isentas de paixões até mesmo para, num exercício de auto entendimento, colocarem as próprias convicções em permanente bombardeiro.
“Regionalismo sem partidarismo” também é um recado aos agrupamentos e individualidades de redes sociais que em larga escala dividem opiniões com base no espectro ideológico que representam. CapitalSocial está a um clique de qualquer usuário de tecnologia de informação e, por isso mesmo, precisa ser imediatamente compreendido como endereço no qual não se praticam fanatismos de qualquer espécie.
Nem mesmo esportivo, se querem saber, por que, por cautela, dificilmente me manifesto sobre meu time de coração, embora o tenha há muito tempo menos invasivo à racionalidade em relação aos anos de juventude.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)