A recomposição de empregos industriais no Grande ABC, região do País que mais sofreu nos últimos anos os efeitos da globalização e da abertura comercial porque detém o maior parque produtivo do setor automotivo, não passa de chuva de verão. As 550 vagas anunciadas com pompas no final de junho na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema pelo presidente Luiz Marinho e pelo diretor de Recursos Humanos da Volkswagen do Brasil, Fernando Tadeu Perez, de um total de 900 da montadora que também tem unidade em Taubaté, criaram a falsa interpretação de que o setor industrial estaria iniciando novo ciclo de ofertas de emprego. Essa ilusão não demorou uma semana, já que no dia 28 a CBC, Companhia Brasileira de Cartuchos, com sede em Ribeirão Pires, demitiu 140 dos 887 funcionários, depois de, no início daquele mês, já haver dispensado 30 colaboradores.
A indústria automobilística não deve servir de parâmetro rigoroso para o quadro de contratação de trabalhadores na região por motivo simples: diferentemente dos demais setores, conta com proteção alfandegária para manter a concorrência internacional convenientemente distante do seu principal mercado consumidor, o interno.
A realidade das autopeças é diametralmente diferente, porque estão mais expostas à competição internacional. Além disso, vivem sufocadas também pelas dificuldades de repassar custos às montadoras. Estudo do Sindipeças constatou que de agosto de 1994 a março de 1997 os preços das peças vendidas diretamente às automobilísticas subiram 15%, enquanto os preços dos carros nas concessionárias saltaram 48% em média.
É claro que as contratações anunciadas pela Volkswagen são bem-vendidas, mas foram exageradamente comemoradas. O presidente do Sindicato, Luiz Marinho, a quem não se pode atribuir o rótulo de alienado, simplesmente disse que contava com novas contratações por parte de outras empresas, transformando, pois, a exceção em regra.
Os salários na Volks para os candidatos com no mínimo Primeiro Grau completo e conhecimentos de informática oscilarão entre R$ 794,00 e R$ 2.344,00. Seus nomes saíram de um banco de dados com estoque de cinco mil desempregados. São preparadores de carrocerias, ponteadores, soldadores, tapeceiros, funileiros, pintores, eletricistas e mecânicos.
Perto do quadro de demissões da indústria metal-mecânica da região desde 1990, as 550 vagas repostas são gota de água no oceano de exclusão trabalhista. Nesse período, só os Sindicatos de Metalúrgicos empilharam 83 mil processos de demissão. A categoria, que já teve mais de 200 mil trabalhadores, agora conta com 120 mil.
Se à Volkswagen e ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema não faltou marketing, com a convocação da mídia para uma entrevista coletiva, à CBC sobrou discrição. Os 140 demitidos receberam telegrama em casa, comunicando a decisão da dispensa. Surpresas, lideranças do Sindicato dos Químicos do Grande ABC bufaram de ódio e junho terminou com a ameaça de greve na empresa. A Assessoria de Imprensa da CBC anunciou que os demitidos receberão pacote de benefícios e também orientação para recolocação no mercado de trabalho, algo surrealista na área química, também espremida pela abertura econômica.
A decisão da CBC se prende à necessidade de reduzir para um os três turnos de trabalho. Mesmo com as 140 demissões, há excedente de 70 funcionários, mas a possibilidade de redução da jornada poderá evitar novos cortes. Resta saber se o Sindicato concordará com isso. O prefeito Celso Daniel, petista e cutista, conseguiu medida semelhante em Santo André.
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