Nada mais apropriado no combate à memória curta dos brasileiros do que chamar a atenção para questões do passado distante ou do passado recente. No caso específico da Província do Grande ABC, consagrou-se derivativo muito especial de jogar no lixo ou esconder sob o tapete de conveniências assuntos desagradáveis a determinados tipos de mandachuvas e mandachuvinhas. Por isso decidimos criar nova série nesta revista digital. “Quanto tempo faz?” será publicado sistematicamente.
Teremos uma contagem permanente, atualizada, de escândalos e também de promessas. O interesse público é o mantra dessa iniciativa. Os leitores precisam e têm o direito de saber o quanto é frondosa a árvore de desilusões ditadas por notícias que viraram manchetes mas, em seguida, submergiram no calabouço do desinteresse.
Para se ter, de imediato, ideia do que será a nova série, faço as seguintes perguntas aos leitores:
Há quanto tempo estourou o escândalo do Semasa, em Santo André, e os delinquentes seguem leves, livres e soltos?
Há quanto tempo o vereador Julinho Fuzari anunciou no Diário do Grande ABC que ingressaria com requerimento para abrir uma CPI do escândalo do Marco Zero da Vergonha, empreendimento da MBigucci, e tudo não passou de encenação?
E a Máfia dos Fiscais de São Paulo, com envolvimento de gente da região?
Quanto tempo faz que o governador do Estado, Geraldo Alckmin, anunciou que a região seria a esquina mais valiosa do País, por conta da inauguração do trecho sul do Rodoanel? O que tivemos foi uma nova etapa de esvaziamento econômico?
Martelar terapêutico
Repararam os leitores que a lista será bastante extensa? Mais que isso: repararam que a primeira fornada de “Quanto tempo faz?” será apenas a abertura de porteira por onde passará uma boiada de informações?
Por mais que me esforce, não tenho a menor ideia de quantos itens teremos a exibir nesta revista digital sempre sob o título “Quanto tempo faz?” como âncora. É certo que alimentaremos esse monstro de prostrações com o objetivo terapêutico de promover alguma reação da sociedade -- mesmo que inconscientemente.
Quem sabe ao martelar o quanto há de ineficiências sobretudo nos organismos públicos, mantidos pelos contribuintes, a semente de reações mesmo que localizadas não venha a aparecer?
Principalmente os donos do poder – no passado e no presente – vão começar a entender por que mantenho um arquivo físico que facilitará a missão de repassar aos leitores a passagem do tempo como elemento de cobrança à propagação de propostas que de alguma forma contribuíram e contribuem para o sentimento de desencanto.
Creiam todos que não haveria prazer maior do que, erigido esse monstro cronológico, a Província do Grande ABC seja contemplada com tempestade de resoluções e transforme em lixo tudo que passarei a catalogar publicamente como prova provada de que somos um território perfeito aos industrializadores de ilusões.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)