O prefeito Orlando Morando vai receber amanhã à tarde este jornalista no 18º andar do Paço Municipal de São Bernardo. Ele vai responder pessoalmente à Entrevista Especial enviada há duas semanas. Nada mais interessante. A opção de respostas por e-mail, por mais detalhada que possa ser, geralmente não comporta avaliação mais consistente. Nada melhor que olho no olho e a possibilidade de réplicas a cada questão.
São 24 perguntas centrais. Uma batelada e tanto. Orlando Morando é prefeito de São Bernardo e também prefeito dos prefeitos da região, à frente que está do Clube dos Prefeitos.
Já o prefeito de Santo André, Paulinho Serra, foge de CapitalSocial. Queremos que o tucano marque encontro com um representante do Ministério Público de Santo André. A pauta é um empreendimento imobiliário cujas irregularidades não foram expostas à sociedade. Mais que isso – estão sendo cuidadosamente escondidas. Por que tanto segredo?
Orlando Morando e Paulinho Serra são novas lideranças politicas na região, eleitos em outubro do ano passado na esteira dos abalos que impactaram duramente o PT por causa da Operação Lava Jato.
Entrevistar Orlando Morando e sugerir a Paulinho Serra uma ação vigorosa para abrir a caixa-preta do uso e ocupação do solo em Santo André, palco de vários escândalos, não são ações isoladas. Trata-se -- e devo confessar sem meios termos -- de duplo teste de responsabilidade social.
Chega de trivialidades
A Orlando Morando encaminhamos série de perguntas nada cômodas, mas indispensáveis à avaliação da capacidade de enfrentar questões que não podem ser catalogadas como triviais. A Imprensa em geral da Província do Grande ABC, com exceções de praxe, garante banda mais que larga de conforto aos gestores públicos.
Há certa preocupação em não parecer supostamente hostil com os entrevistados. Confunde-se autonomia com diplomacia. Duvido que exista jornalista que não fique feliz com respostas objetivas a indagações supostamente provocativas. Principalmente se o entrevistado mostrar-se competente nos argumentos.
Queremos de Orlando Morando muito mais que a mesmice ou a obviedade de pautas corriqueiras. Estou certo de que sairei do Paço Municipal mais seguro diante de uma bifurcação que me irrita: estamos diante de um novo padrão de gestor público ou o tucano seria uma repetição dos anteriores, embora com roupagem mais moderna?
Contagem progressiva
Quanto a Paulinho Serra, a providência que tomaremos a partir da próxima segunda-feira será produzir diariamente uma contagem progressiva do tempo de espera por aquele encontro com o representante do Ministério Público.
Tomara que nos próximos dias o tucano responda à formação de comitiva de poucos integrantes para ouvir o que tem a dizer o MP de Santo André. Não creio que será satisfatório ao jovem prefeito observar cronologia que a cada dia acrescentaria camadas de desconfiança dos consumidores de informação.
O caso em que sugerimos ação do prefeito Paulinho Serra envolve o Royale Residence, condomínio de classe média-alta ao lado do Shopping ABC. São oito torres e 640 apartamentos. Há informações de fontes do mercado imobiliário de Santo André – e também do ex-superintendente do Semasa, Ney Vaz – que dão conta de que o empreendimento infringiu a legislação de uso e ocupação do solo.
O promotor público da Habitação de Santo André, Fábio Franchi, não responde às solicitações de CapitalSocial. Desde novembro do ano passado enviamos ao representante do MP pedidos de informações. Achamos que o reforço do prefeito é essencial.
Num primeiro momento pós-publicação de recente matéria que trata do Royale Residence, o prefeito Paulinho Serra respondeu à mensagem de celular deste jornalista, quando se prontificou a atuar. Entretanto, por razões que provavelmente apenas ele poderá explicar, jamais voltou a manter contato.
Interesses em jogo?
Informações de bastidores dão conta de que o tucano estaria encalacrado. Ele teria sido pressionado por empresários que teriam se locupletado de irregularidades que o Ministério Público insiste em estimular ao se fechar em copas. Sabe-se que houve medidas do MP que convergiram à correção de abusos que deterioraram a logística do entorno do empreendimento.
O instrumento utilizado, TAC (Termo de Ajuste de Conduta), entretanto, não teria abrangido um dos pontos centrais do negócio imobiliário – o desrespeito à legislação federal com a construção dos imóveis sem obedecer à distância mínima em relação ao córrego que passa pelo terreno. Além disso, outras informações colocam o próprio empreendimento na marca do pênalti de irregularidades. Teria sido erguido muito acima das normas da Lei de Zoneamento.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)