Imprensa

Morando ignora sete questões
entre 24 de Entrevista Especial

DANIEL LIMA - 16/06/2017

Nesta segunda série que analisa as respostas do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, à Entrevista Especial desta revista digital, destacamos a ausência de atendimento a sete das 24 perguntas. Consideramos não atendidas e, portanto, com o custo de frustrar o interesse público, questões literalmente esquecidas ou respostas distantes da atenção desejada.

Na sequência, reproduzimos perguntas enviadas por CapitalSocial, as intervenções de Orlando Morando e, completando, “meus comentários”.

A pergunta de CapitalSocial

Seu antecessor deixou uma herança que chamaríamos de muito preocupante no uso e ocupação do solo. Trata-se dos chamados Cepacs, aprovados e ao que se informa ainda não tornados efetivos. Em suma, haveria superocupação do tecido espacial de São Bernardo, a favorecer fortemente grandes incorporadoras. O senhor pensa em revogar aquela legislação?

A resposta de Orlando Morando

Estamos avaliando essa questão. O Cepacs foi criado quando havia um boom no mercado, diferentemente do que ocorre com o atual cenário. A discussão é justamente para definir solução mais adequada.

Meus comentários

Não existe a menor possibilidade de os Cepacs ganharem constitucionalmente a roupagem de segredo administrativo, daí a incompreensão do distanciamento do prefeito Orlando Morando de uma resposta satisfatória. Que tipo de discussão está sendo realizada para definir solução mais adequada? Por que eventuais debates que se estão realizando, se de fato o estiverem, não contam com foro de múltiplos agentes privados e sociais para corrigir, inclusive, o desinteresse do antecessor de Orlando Morando em dar transparência a temáticas que impactam a qualidade de vida da população?

Quem disser que o uso e a ocupação do solo não são relevantes ao futuro de uma comunidade está alheio às consequências do crescimento urbano desordenado que se opõe ao desenvolvimento econômico. Fosse o que se espera de um dirigente público, Orlando Morando teria providenciado medidas transparentes para que os Cepacs saiam da seara corporativista do mercado imobiliário, expandindo-se ao conjunto da sociedade.

A evasiva contradiz os novos tempos anunciados pelo prefeito de São Bernardo. Mais que isso: fosse diferente do que se está apresentando, ou seja, um comandante público que rompesse com a mesmice dos antecessores e também com um padrão de gestor público ultrapassado, teria tomado iniciativas tanto à frente da Prefeitura quanto do Clube dos Prefeitos para romper os grilhões que tornam o mercado imobiliário enorme ponto de interrogação em moralidade e ética.

A pergunta de CapitalSocial

O então prefeito William Dib, num dos mandatos, tentou e não conseguiu harmonizar dentro do possível as relações entre capital e trabalho em São Bernardo. Encontrou barreiras esperadas de um lado que não abre mão de chamadas conquistas trabalhistas e de outro que prefere transferir os negócios a outros endereços no País a se desgastar em contendas que pareçam impraticáveis. O senhor projeta alguma iniciativa para tornar a relação capital e trabalho menos traumática em São Bernardo ou acredita no marketing de que o relacionamento melhorou muito nos últimos anos e, portanto, não carece de iniciativas nesse sentido?

A resposta de Orlando Morando

Nossa forma de atuação é pelo acompanhamento constante e fiscalizador em todos os relacionamentos que buscam o melhor resultado para São Bernardo.

Meus comentários

O histórico de relacionamento entre capital e trabalho em São resultou no caldeirão de improdutividades, privilégios e baixíssimo grau de aderência de investimentos. Esperava-se que o prefeito respondesse com algo a provocar algum entusiasmo. Ao lavar as mãos, o que Orlando Morando passa aos leitores é que não lhe apetece mexer nesse vespeiro.

Aparentemente é uma decisão sábia à sobrevivência política, mas, no fundo reveste-se de equívoco. Falta uma grande liderança municipal e regional para participar efetivamente do jogo entre capital e trabalho. Nada que sugira um salvador da pátria, mas alguém que aglutine extremidades desse jogo e, quem sabe, registre avanços que, por enquanto, parecem inatingíveis, até porque inexistentes.

A pergunta de CapitalSocial

O senhor pensou alguma vez em reduzir os níveis de demissões industriais em São Bernardo, as mais altas do País? Nos últimos 12 meses, por exemplo, São Bernardo demitiu quase três vezes mais trabalhadores industriais com carteira assinada do que a média do País. É uma expressão clara de esclerosamento das relações entre capital e trabalho. É impossível o Poder Público Municipal mobilizar forças e grupos para amenizar esses números?

A resposta de Orlando Morando

Temos mostrado, com fatos palpáveis, que trouxemos uma gestão que trabalha pela geração de empregos, conseguindo sintonia na relação do empregador e empregado.

Meus comentários

Principalmente pequenas e médias indústrias de São Bernardo sofrem muito com as exigências do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, entre as quais os comitês de fábricas com vícios socializantes. Os estrondos de demissões de trabalhadores industriais, portanto, não estão fora da lógica acaciana de ação-reação. A pactuação de um novo modelo de relacionamento do sindicato com empresas é mais que uma necessidade e não pode prescindir da liderança política de quem ocupa o comando do Paço Municipal. É intolerável que se observe um caudaloso rio de trabalhadores sem emprego enquanto as instituições mantêm-se impassíveis. Até parece que os dramas sociais não têm linha direta com o quadro trabalhista.

A pergunta de CapitalSocial

Como o senhor observa o desencontro entre as notícias que estabeleceram um cronograma otimista para a chegada do monotrilho à região, cortando São Bernardo em larga geografia, e a efetiva demorara à realização da obra? Não parece que houve completo desrespeito aos compradores de apartamentos próximos ao traçado, cujas peças publicitárias das incorporadoras centralizaram mote de vendas nas facilidades logísticas? O que o senhor tem feito nas relações com o governo do Estado para oferecer informações à sociedade, especialmente aos potenciais usuários e aos moradores que foram levados a investimentos residenciais pautados pelo noticiário cor de rosa?

A resposta de Orlando Morando

A geração de riquezas no Grande ABC ultrapassa R$ 120 bilhões, representação de aproximadamente de 4% no País. O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC foi idealizado pela busca de garantir ações e resultados para toda a região. É possível garantir isso trabalhando de maneira assertiva em torno de política prioritária.

Meus comentários

Pode parecer erro de edição, mas foi essa mesma a resposta de Orlando Morando. Ou seja, nada a ver com a pergunta de CapitalSocial. O desrespeito, quando não a agressão econômica e social aos novos moradores de São Bernardo que se instalaram no entorno do monotrilho que não chegou, seria um caso de polícia não fosse a solidificação de abusos que ganharam jurisprudência nas relações entre o mercado imobiliário e a sociedade.

Orlando Morando poderia ter respondido à indagação de CapitalSocial com a novidade publicada dois dias antes nos jornais locais: o Clube dos Prefeitos que ele dirige pretende substituir por BRT o monotrilho badalado durante anos e anos como a salvação da lavoura logística para quem quer chegar mais rápido à Capital. O BRT, de corredores de ônibus exclusivo, é uma versão do sistema de trólebus que já contempla alguns municípios da região, casos de Santo André, São Bernardo e Diadema.

Argumenta-se em defesa do BRT que os custos de investimentos seriam menores. Enquanto isso, quem decidiu morar próximo ao traçado do monotrilho que demora a chegar tem de se submeter a uma logística de transporte completamente diferente – e contraproducente – do que imaginava ao adquirir apartamentos cujos incorporadores anunciaram aos quatro cantos as vantagens daquele sistema de transporte sobre trilho. Mais que isso: a maioria das incorporadoras anunciou metrô em vez de monotrilho. O que agrava o estelionato informativo.

A pergunta de CapitalSocial

Já não passou da hora de o Clube dos Prefeitos abrir-se a integrantes da sociedade que tenham visão técnica sobre descaminhos da região na área econômica?

A resposta de Orlando Morando

Presido o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e desconheço essa denominação de Clube dos Prefeitos. Uma unidade do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC em Brasília foi pautada com objetivo de buscar mais projetos da União, de forma macro, a contemplar todas as sete cidades do Grande ABC. O trabalho é estruturado e foi estruturado na busca por resultados efetivos.

Meus comentários

Nada, absolutamente nada de resposta ao enunciado de CapitalSocial. Provavelmente Orlando Morando não se interessa pela participação efetiva e com valor agregado de representantes da sociedade desorganizada da Província do Grande ABC.

A pergunta de CapitalSocial

Especialistas experientes em organizações coletivas como o Clube dos Prefeitos afirmam que a melhor maneira de alcançar resultados que retroalimentem novos resultados positivos é a escolha prioritária de cinco temáticas que mais afligem municípios e transformá-las em focos especiais de atuação. Por que o Clube dos Prefeitos insiste em tentar agarrar o mundo regional, com uma imensidão de programas que patinam, patinam e não saem do lugar?

A resposta de Orlando Morando

Presido o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e desconheço essa denominação de Clube dos Prefeitos.

Meus comentários

De novo o prefeito ignora o questionamento de CapitalSocial.

A pergunta de CapitalSocial

Por que o senhor não adotou em São Bernardo critérios semelhantes aos utilizados pelo prefeito Paulinho Serra, de Santo André, que trocou dívidas de empresas privadas por atendimento médico? O senhor teria sido desaconselhado porque a legalidade da iniciativa poderia ser contestada ou a medida embutiria aspectos éticos que não seriam convenientes? 

A resposta de Orlando Morando

Nossa gestão tem a forma de priorizar e trabalhar projetos. Não me cabe como prefeito de São Bernardo avaliar gestões vizinhas. Além disso, cada um tem situação financeira em seu Município.

Meus comentários

Possivelmente Orlando Morando não pretendeu colocar em xeque a robustez legal do projeto em execução em Santo André porque, em São Bernardo, numa campanha semelhante de queixa da fila de espera no atendimento médico, optou-se por uma força-tarefa utilizando-se dos equipamentos públicos disponíveis. Ou seja: sem reciprocidade fiscal com empresas privadas para supostamente desafogar o atendimento público. Se não existe equívoco na política adotada por Paulinho Serra, provavelmente Orlando Morando estaria em desvantagem por descartar a iniciativa que reduziria os custos efeitos já que em Santo André as empresas parceiras da Prefeitura estão trocando dívidas ativas por prestação de serviços. 



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