Esta é a sexta e última edição da série que analisa as respostas do prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, à Entrevista Especial desta revista digital. Com isso, completamos o ciclo de 24 questões centrais. Na edição de amanhã vamos publicar todo o material de forma consolidada, num único arquivo, portanto.
A série de análises é encerrada com a descoberta de uma mudança crucial da postura administrativa de Orlando Morando: as respostas encaminhadas no dia sete de junho não ofereciam perspectivas prioritárias ao Desenvolvimento Econômico de um Município em contínuo enfraquecimento na geração de riqueza -- como de resto a Província do Grande ABC. Esse é o escopo principal de CapitalSocial, como o fora também da antecessora revista LivreMercado, a qual comandei por 18 anos.
Entretanto, Orlando Morando mudou de rumo – e para muito melhor. No dia 19 de junho, quase duas semanas após remeter as respostas por e-mail à direção de Capital Social, o prefeito de São Bernardo anunciou que a Volkswagen do Brasil investiria na unidade da Via Anchieta.
O que os leitores vão encontrar nas respostas já publicadas por CapitalSocial -- e que são objetos de análises nesta edição no que se refere às três prioridades da gestão de Orlando Morando – não conta com nada que o levaria à atividade econômica. Melhor, portanto, que tudo tenha sido aparentemente reenquadrado. São Bernardo e a Província agradecem.
Tomara que a força simbólica e econômica da Volkswagen desperte no prefeito Orlando Morando a fome desenvolvimentista que faltou aos antecessores no sentido de que é preciso botar a mão na massa para valer e com persistência para reduzir os impactos da quebra de mobilidade social num Município e numa região cada vez mais semelhantes à média nacional – o que é um péssimo retrato de decadência.
A pergunta de CapitalSocial
A situação econômica de São Bernardo, por si só e também quando contraposta a inúmeros municípios paulistas, distancia-se do mínimo de tranquilidade. Perde competitividade a olhos vistos, com consequências sociais desgastantes. Como entender que o senhor compreende mesmo a situação se não conta com uma Secretaria de Desenvolvimento Econômico apetrechada a enfrentamentos que exigem iniciativas vigorosas? Tanto é verdade que há descompasso entre a realidade e os instrumentos que o senhor preparou a ponto de praticamente não existir noticiário sobre a economia de São Bernardo, em forma de reação organizada.
A resposta de Orlando Morando
Temos trabalhado de forma vigorosa por uma política de proximidade com o empresariado do Município. Conseguimos ao longo de cinco meses de gestão anunciar abertura de postos de trabalho com a chegada de novas empresas (M.Shimizu, especializada no desenvolvimento de softwares, máquinas e equipamentos voltados ao setor automotivo, e a Novemp, do setor de painéis elétricos e barramentos blindado). Foram mais de 300 novas vagas de emprego. Essa chegada foi conduzida pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, com minha participação também. Buscamos política de estreitamento que, em meio à crise, garantiu a São Bernardo resultado diferente da realidade. Com essa política do desenvolvimento conseguimos também que a B.Grob, uma das mais antigas fabrica do setor automotivo, aumentasse a planta, gerando mais postos de trabalho. A DXC Technology, empresa de tecnologia da informação localizada à margem da Estrada Samuel Aizemberg, no Bairro Alves Dias, está disponibilizando 200 vagas. Além disso, acompanhamos a Scania anunciar a abertura de 500 postos de trabalho. Toda essa tratativa teve participação incisiva da Administração. Perfil de atuação garantiu bom resultado ao Município, que apresentou o melhor saldo de geração de emprego, em maio, de acordo com os números do Caged. São Bernardo registrou a abertura de 479 vagas, o que corresponde a 56% do bom desempenho da região.
Meus comentários
Os exemplos citados pelo prefeito Orlando Morando, de investimentos em São Bernardo, não podem ser integralmente creditados, muito pelo contrário, ao novo comando do Paço Municipal. Mas muitos outros que poderão chegar devem ser relacionados a eventuais políticas de valorização da competitividade do Município. Uma semana após responder a essa Entrevista Especial, Orlando Morando ganhou as manchetes com o anúncio da Volkswagen do Brasil.
São Bernardo, como decidira a companhia multinacional alemã em associação anterior com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, vai contar com duas divisões de produção do Novo Polo, na fábrica da Via Anchieta. Foram decisões tomadas muito antes da vitória eleitoral de Orlando Morando, em outubro do ano passado, mas que podem representar o ponto de partida de politica industrial consistente – mesmo quando se ressalva que a montadora alemã praticamente não vai acrescentar emprego às novas unidades. Na verdade, vai fazer esforço redobrado para não rebaixar ainda mais o quadro de trabalhadores, que hoje alcança 9,3 mil carteiras assinadas.
Orlando Morando também declarou, na semana seguinte a esta Entrevista Especial, que pretende viabilizar mais investimentos daquela montadora em São Bernardo – e provavelmente de outras –ao destravar o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) que o governo do Estado retém por conta de diferenças de alíquotas interestaduais. É uma iniciativa interessante a demandar muita negociação. O fato de haver interesse em unir o Município ao governo do Estado em busca de alternativas de investimento pode sinalizar novos tempos.
A pergunta de CapitalSocial
O senhor tem anunciado profusão de medidas importantes no varejo administrativo. Acha isso suficiente para impulsionar a confiança de que São Bernardo viverá novos tempos ou reconhece que sem projetos e obras que dinamizem o Município não haverá saída para o encalacramento econômico?
A resposta de Orlando Morando
Sempre trabalhei ao longo da minha vida pública acreditando que uma boa política econômica passa por medidas conjuntas, conferindo vários setores. E acredito que justamente isso precisa ser estudado e executado no nosso País.
Meus comentários
A resposta do prefeito de São Bernardo, encaminhada por e-mail uma semana antes do anúncio da Volkswagen, mostra que até então não havia nada programado nesse sentido. Ou, se havia, o prefeito preferiu manter em segredo.
A pergunta de CapitalSocial
O senhor acha pouco provável criar na Prefeitura de São Bernardo algo semelhante ao que Fernando Haddad fez na Administração de São Paulo, caso da Controladoria-Geral do Município que, entre muitas ações de faxina, descobriu e denunciou a Máfia do ISS e do IPTU?
A resposta de Orlando Morando
A nossa gestão tem colocado, desde o início do trabalho, a transparência de toda situação encontrada na Prefeitura, como os contratos e déficits deixados pela gestão anterior. O trabalho pela transparência e fiscalização é prioritário em nossa Administração, independentemente de ter um órgão específico para isso.
Meus comentários
Nada melhor que uma Controladoria-Geral como a experimentada por Fernando Haddad na Prefeitura de São Paulo. Basta verificar o quanto aquele organismo, totalmente alterado pelo sucessor João Doria, representou de ganhos fiscais aos cofres públicos com a descoberta da Máfia do ISS, entre muitas irregularidades.
A pergunta de CapitalSocial
Agora que houve a negativa do Ministério da Cultura de reciclagem temática do projeto do Museu do Trabalho e do Trabalhador, o que o senhor pretende fazer para, quando a obrar estiver pronta, dar ocupação àquela área. Já fez consulta ao mesmo Ministério para tentar obter a resposta sobre a possibilidade de estender o núcleo de atuação daquele projeto ao campo empresarial, inclusive com nova denominação que contemple os dois lados da moeda econômica, o capital e o trabalho?
A resposta Orlando Morando
Caso a destinação do projeto não seja alterada, a Prefeitura não irá administrar o museu. Entretanto, vamos exaurir todas as possibilidades jurídicas para modificar a destinação do projeto, uma vez que foi rejeitado por grande maioria dos moradores da cidade. Mantendo no setor da Cultura, o projeto é que o local seja destinado a uma Fábrica de Cultura.
Meus comentários
Parece subjacente à resposta do prefeito Orlando Morando um desconforto politicamente natural de vinculação da obra à remissão popular de que se trata do “Museu do Lula”. Por isso a determinação de rejeitar algo que conduza à principal oposição político-partidária dos tucanos. Talvez a melhor alternativa ao local seja uma sugestão que defendo desde o princípio, em contraposição, portanto, ao unilateral Museu do Trabalho e do Trabalhador batizado pelos petistas.
São Bernardo deveria destinar o espaço -- com nova nomenclatura – em algo que entrelace as relações capital e trabalho. Não tem sentido a pretendida iniciativa petista de enaltecer exclusivamente os trabalhadores, quando se sabe que o capitalismo é a faca de dois gumes a cortar, quando bem exercitado, universos renitentes de pobreza e desigualdade social.
Portanto, o melhor antídoto ao trabalhismo discriminador do capital que a obra petista pretendia consolidar é complementação que remeta ao empreendedorismo de pequenas, médias e grandes empresas. Do limão azedo da discricionariedade surgiria uma bem temperada limonada que juntaria as duas metades da mais bem sucedida forma de criação de riquezas -- o homem sempre disposto à mobilidade social na forma de trabalho e os empreendedores sempre prontos ao desenvolvimento dos negócios.
A pergunta de CapitalSocial
O senhor já pensou em promover a cada três meses uma entrevista coletiva sem restrições como espécie de prestação de contas à sociedade? Essa é uma prática comum no Primeiro Mundo, de governos centrais, mas no Brasil é uma raridade.
A resposta de Orlando Morando
Nossa gestão é muito presente nas ruas e no contato com a sociedade, prestando contas e detalhando metas e desafios. Utilizamos vários meios de comunicação no nosso trabalho, bem como respondemos manifestações e indagações. Todas as agendas públicas são divulgadas à imprensa. Os repórteres têm conhecimento das demandas anunciadas e prestação de contas. Uma fórmula bem melhor do que um cronograma a cada três meses.
Meus comentários
O prefeito Orlando Morando está perdendo uma grande oportunidade de se mostrar e provar reformista. Nada substitui a relação transparente e responsável de dirigentes públicos e Imprensa. Nada melhor para colocar em ordem questões eventualmente nebulosas ou mal compreendidas que um encontro com os representantes da Imprensa, inclusive com a participação de titulares de várias pastas.
A pergunta de CapitalSocial
De forma sucinta, quais são os três problemas municipais principais que o senhor pretende encaminhar e eventualmente resolver nos quatro anos de mandato e sobre os quais estaria disposto a enfrentar cobranças?
A resposta de Orlando Morando
A herança deixada para mim em São Bernardo são inúmeras obras inacabadas e sérios problemas de caixa. Cerca de R$ 200 milhões em restos a pagar. Temos como desafio dar sequencia nestes entraves, principalmente detalhando contratos mal conduzidos. Um dos exemplos é com o projeto do Piscinão do Paço. D deparamos com uma obra morosa e com a empresa responsável pedindo mais dinheiro. Não autorizamos nenhum repasse e ainda colocamos o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) para apresentar um laudo real da obra, uma vez que meu antecessor prometia para o fim de 2016 e isso não se concretizou. Junto com isso há desafios no setor da Saúde. Temos feito um amplo empenho pela modernização e humanização do setor. Conseguimos instituir o programa “Saúde Prioridade” que, de, diminuiu à metade a fila de exames de 70 mil para 35 mil. Na Educação, inserimos o “Educar Mais” que, de maneira prioritária, inseriu escolas em tempo integral. Esse programa foi bem aceito e vamos aumentar participação de maneira gradativa. Na Segurança, um plano acertado foi a operação Noite Tranquila, desmontando e combatendo pancadões. Nesse setor, fizemos também ampla revisão de vídeomonitoramento, ação que tem rendido bons resultados.
Meus comentários
Uma semana após as respostas da Entrevista Especial, o prefeito Orlando Morando possivelmente encontrou a principal fonte de eventuais grandes transformações de São Bernardo—a potencialização do setor industrial como matriz ao financiamento de políticas públicas.
Desde 2010, São Bernardo perdeu 25% de repasse do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), basicamente porque a economia fragilizou-se e se fragiliza mais e mais quando o setor automotivo é impactado. A saída de São Bernardo, portanto, passa primeiro pela economia, segundo pela economia, e terceiro pela economia.
A pergunta de CapitalSocial
O prefeito Luiz Marinho deixou alguma coisa encaminhada que pudesse dar consistência à construção de um aeroporto em São Bernardo? Ele repassou os investidores dispostos a empreender? Há alguma documentação oficial que trate desse assunto?
A resposta de Orlando Morando
Não há nada relacionado a esse assunto.
Meus comentários
Nem poderia haver, claro. O Aeroportozão de São Bernardo foi um delírio do prefeito Luiz Marinho a bordo de megalomanias de gestores públicos quando tudo parece encaminhar à abundância de recursos ou diante de empreendedores privados, no caso específico jamais identificados, que se aproximam sorrateiramente dos poderosos de plantão.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)