O Sindicato dos Químicos do ABC está no meio do fogo cruzado das transformações econômicas. Nem mesmo Sérgio Novais, que termina este mês espécie de mandato-tampão de Remígio Todeschini, presidente eleito que acabou indo para a CUT, considera essa imagem forte. O tiroteio vem de todos os lados. Os trabalhadores, cuja base encolheu de 45 mil para 32 mil nos últimos seis anos, lutam pelo emprego, não mais pela melhoria de salários.
As pequenas empresas, que formam a principal base dos trabalhadores, sofrem com a globalização econômica, com a seletividade de fornecedores das grandes organizações e com o tratamento não-diferenciado em relação às grandes. O próprio Sindicato, filiado à Central Única dos Trabalhadores e que está cortando a própria carne de recursos orçamentários para libertar-se de envelhecida estrutura do setor no País, agita-se para descobrir fontes alternativas de receita.
Tudo isso é agravado pela falta de política industrial para o setor, algo que inibe os próprios passos de reestruturação sindical, sobretudo para capacitação e reciclagem de mão-de-obra.
A receita prevista para este ano pelo presidente do Sindicato dos Químicos do ABC é de R$ 2 milhões. Se já é relativamente menor que nos bons tempos, quando contava com 60 funcionários contra 32 de agora, e quando terceirização era expressão usada apenas para reduzir custos de empresas privadas, não como alternativa para sair do sufoco da descapitalização do Sindicato, como de uns anos para cá, imagine então o que acontecerá em dois anos.
O Sindicato vai perder gradualmente, até o final do ano que vem, 40% da arrecadação atual, porque das três principais fontes de recursos financeiros, restará apenas uma. A mensalidade sindical, no valor de 1% do salário de cada trabalhador, será a contribuição única. A contribuição assistencial de 4%, descontada da folha de pagamentos em todo mês de novembro, será reduzida à metade este ano e desaparecerá no ano que vem. A contribuição sindical, que significa um dia de salário, também acabará em 1998.
Para compensar essas perdas, Sérgio Novais diz que receitas com a gráfica própria, em outros tempos deficitária mas agora já equilibrada, vão ser muito importantes. Tanto quanto a redução contínua de despesas fixas. Uma campanha para alargar o quadro associativo, hoje de 40% da categoria, também será deflagrada.
Ex-operador de eletroerosão da Cofade, em Mauá, integrante da moderada corrente Articulação do Partido dos Trabalhadores, Sérgio Novais sabe que o tiroteio das perdas financeiras é apenas uma das duras realidades que a diretoria do Sindicato dos Químicos enfrenta. O relacionamento com a base tem sido doloroso nos últimos anos. Micro e pequenas empresas fecham em cascata diante da globalização econômica. As grandes empresas exigem fornecedores cada vez mais qualificados e em quantidade cada vez mais restrita.
Quem sobra tem de submeter-se aos novos parâmetros internacionais que inserem os salários no mapa-múndi de custos comparativos. “Diadema tem metade das 620 empresas do nosso setor na região. São pequenas na maioria dos casos e muitas das quais voltadas à transformação do ramo plástico, para atender às montadoras e autopeças. A maioria dessas indústrias está no bagaço, pressionadas pela competitividade internacional que seus clientes repassam” — afirma Novais, crítico do que chama de abertura desenfreada da economia, a partir de Collor de Mello. “Fizeram terceirizações e demissões exageradas, que acabaram afetando a qualidade produtiva” — arremata numa linguagem simples o que bem-pagos consultores internacionais detalham em literaturas específicas.
O perfil da indústria relacionada aos trabalhadores químicos de Diadema é diferente do de São Bernardo e dos demais Municípios da região. Em São Bernardo prevalecem grandes empresas do setor de tintas e vernizes, casos de Glasurit, Renner e tantas outras. Já Santo André, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra convivem com empresas de tamanhos diferenciados. Sem contar o Pólo Petroquímico de Capuava, com empresas de primeira e segunda gerações no setor.
Essas diferenças se cristalizam também no perfil dos trabalhadores. Nas organizações de ponta, tanto petroquímicas como químicas e de tintas, transparecem cada vez mais os níveis de exigência da mão-de-obra. Nas menores, principalmente do segmento plástico, embora também a qualificação do trabalhador seja cada vez mais cobrada, os níveis salariais são mais modestos. Mas mesmo assim as pequenas empresas sofrem.
Tudo porque os acordos coletivos entre empresas e Sindicato não distinguem grandes de pequenos. As cláusulas sociais que valem para as maiores também pesam nos custos das menores. Casos de auxílio-creche, horas extras, entre outras conquistas extra-constitucionais. Sérgio Novais discorda desse tratamento. Ouve muitas lamúrias dos pequenos empreendedores, muitos dos quais impossibilitados de cumprir as cláusulas assinadas na Fiesp, muito longe, portanto, de sua realidade individual. Também considera complicada a generalização da obrigatoriedade de pagamento de participação nos resultados, como ficou decidido. São R$ 300,00 por funcionário.
Quase nada para empresas de porte. Um dilúvio para micros e pequenas. “Essa negociação é arcaica porque não se estabelece por segmento do setor, casos de plástico, químico e petroquímico, cujas realidades são diferentes. Para o pequeno, R$ 300,00 de participação nos resultados significam dobrar a folha de pagamentos; para os grandes é até pouco, mas eles, os grandes empresários, não entendem essas diferenças” — afirma Sérgio Novais.
A expressão Sindicato dos Químicos do ABC é apenas parte da extensa e complicada denominação da entidade. Na realidade, a denominação oficial é tão complexa quanto a administração de atividades que guardam fundas diferenças entre si. O nome oficial de Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas, Petroquímicas, Farmacêuticas, Tintas e Vernizes, Plásticos, Resinas Sintéticas, Explosivos e Similares mostra o tamanho do problema de gestão que se oferece para o presidente Novais e diretoria.
O quadro econômico de desemprego constante colocou o Sindicato na defesa, mas não se imagine que esteja omisso. A moderação no relacionamento com as empresas, garante Novais, não se confunde com submissão. É claro que a responsabilidade aumentou, porque pesquisas revelam que emprego, emprego e emprego são as três principais preocupações não apenas de quem está na rua da amargura, mas também na folha de pagamentos das empresas. Cuidado redobrado nas negociações, mas independência suficiente para, esgotadas todas as etapas, recorrer à greve. As duas maiores dos últimos anos foram a de 21 dias na CBC, Companhia Brasileira de Cartuchos, por causa de explosão que matou um trabalhador, e de 33 dias na Unipar contra a extinção da chamada quinta turma de revezamento, que implicaria na demissão de 40 profissionais na empresa e, em cadeia, por isonomia estratégica de custos, de mais de 600 em todo o Pólo Petroquímico de Capuava, ou perto de 20% de todo o efetivo local.
O Sindicato dos Químicos mostra as garras quando preciso, garante Sérgio Novais, candidato à reeleição neste mês. Mas o estilo do presidente e da diretoria é de comedimento, garante, porque a maré não está para peixe. A romaria de desempregados, empregados e até de pequenos empreendedores na sede do Sindicato, em Santo André, que o diga. Problemas de todos os tipos são expostos. O Sindicato quer qualificar muitos trabalhadores desempregados em informática. Tem um projeto pronto que Sérgio Novais diz depender de recursos federais, saídos do FAT, Fundo de Amparo ao Trabalhador. Tudo está preparado para retirar a mão-de-obra do analfabetismo tecnológico, quase tão cruel quanto o alfabético. É preciso amenizar o terrível fogo cruzado que tira o sono do Sindicato.
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