Imprensa

Paulinho Serra que se prepare
à dureza de Entrevista Especial

DANIEL LIMA - 31/07/2017

Tenho uma Entrevista Especial nesta semana com o prefeito Paulinho Serra. Apresentarei aos leitores um trabalho muito mais profundo do que o Diário do Grande ABC publicou hoje com o titular do Paço de Santo André. A entrevista do Diário é interessante, mas se fixou num polo temático e desprezou completamente outro. O polo lembrado foi de ordem administrativo-financeiro. O esquecido, mais importante que qualquer outro, refere-se ao Desenvolvimento Econômico. 

Para um Município que perdeu 5,8 de 10 trabalhadores industriais desde 1986, e se consolidou como a maior vítima nacional de desindustrialização, qualquer autoridade pública obrigatoriamente deve ser questionada\ sobre os planos para o futuro. Mesmo que o futuro seja um mandato apenas, de quatro anos.

Paulinho Serra sabe que não terá folga na Entrevista Especial que combinamos e cujo horário deverá ser alterado a meu pedido. Tenho de resolver questões que fogem da alçada do jornalista.  

Sabendo como sabe que este jornalista não lhe dará espaço a tergiversações da pauta, e que a pauta central é a atividade econômica de um Município que não honra mais o próprio hino que se canta nas escolas, é claro que Paulinho Serra vai se preparar para um embate republicano. Até porque o “embate” da frase deve ser interpretado como intersecção que reúne o interesse público acima de tudo. 

Prioridade de foco 

O comando da pauta de uma Entrevista Especial é do jornalista, não do entrevistado. Essa é a regra do jogo. Não há nada de desrespeitoso nessa premissa. O que se tem é a prioridade de foco. Para Paulinho Serra pode ser mais importante discorrer sobre o tão prometido e sempre adiado Polo Tecnológico de Santo André. Para o jornalista o assunto supostamente mais relevante seja o detalhamento setorial de arrecadação do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) como matriz de análises do custo de morar ou empreender no Município.

Aliás, por falar em IPTU, tenho engatilhada uma pergunta. Não condeno preliminarmente o aumento da Planta Genérica de Valores aprovada pelo Legislativo. Lastimo o método adotado, na calada da noite. Os valores que abrigariam não podem ser execrados sem aprofundar os dados. Será que a Prefeitura de Santo André os tem? 

As respostas de Paulino Serra ao Diário do Grande ABC de hoje indicam que não. Tudo teria sido chutometria. “Vamos aumentar e depois a gente vê quem tem razão nas reclamações” é a tradução que faço com certa dose de maldade mas também de realismo da resposta do prefeito ao Diário do Grande ABC.

Calote comprometedor 

É claro que não deixarei de indagar sobre outras questões administrativo- financeiras. Seria uma aberração esquecer que Santo André, além de desindustrializada ao longo de décadas, também conhece uma montanha de dívidas com precatórios que o coloca no topo da insolvência entre os municípios brasileiros. Aliás, sobre isso, a entrevista do Diário do Grande ABC foi bastante eficiente. Mas faltou contextualização. 

Se saltar dos atuais níveis financeiros de comprometimento compulsório com os precatórios para a estratosfera imposta por decisão que transformou em dívida consolidada o calote do Semasa à Sabesp, o que será de Santo André? Faltou o prefeito dizer o que parece que há de ser dito – que é impossível dar conta do recado. Estaria Santo André às portas da falência do Rio de Janeiro?

Mesmo sem o adicional de complicações dos precatórios Santo André é um Município condenado a rastejar por recursos orçamentários que deem conta do recado das demandas sociais e econômicas. 

Talvez pergunte a Paulinho Serra sobre o esvaziamento de cérebros do Município na esteira do continuo refluxo econômico. Mais da metade da População Economicamente Ativa de Santo André trabalha em outro endereço da região ou da Capital, na Região Metropolitana de São Paulo. 

A falta de lideranças em instituições de Santo André é mais acentuada do que no restante da região, considerando-se que ao longo dos tempos a Capital da Cultura da região – Cultura no sentido mais amplo da expressão – agitava a vida econômica e política e de alguma forma ditava a ordem regional. 

Tudo isso acabou. Santo André é um deserto de ideias e de ações. A casta de endinheirados não está nem aí com o conjunto da obra. Cuida especificamente de seus interesses. Tanto que manietou inclusive o PT de Carlos Grana durante oito anos.  

Registros à história 

Ninguém torce mais que este jornalista para que a Entrevista Especial com Paulinho Serra seja um retumbante sucesso. Exatamente o inverso do que se registrou com o prefeito de São Bernardo recentemente. Orlando Morando não tem ideia do quanto vai pesar no currículo de alguém que legitimamente sonha alto aquele apanhado mal-ajambrado de respostas a CapitalSocial. 

A eternidade desta revista digital está contratada muito além da efemeridade de minha passagem por esse mundo. Estas páginas digitais serão mantidas no ar por ordem testamentária. As próximas gerações precisam conhecer uma versão fortemente fundamentada do fracasso regional que começa no final dos ambos 1970.  

Orlando Morando vai precisar de uma nova oportunidade para recompor a imagem de administrador público à altura das pretensões que expõe diariamente nas entrelinhas. Paulinho Serra não deixará a oportunidade que lhe será apresentada.  O prefeito de Santo André não precisa agradar o entrevistador. Seu compromisso é não vender ilusões aos leitores. 

Os Sete Anões

Espero que a Entrevista Especial com Paulinho Serra corra num tom descontraído. Bastam as perguntas que serão inevitavelmente indelicadas. Um exemplo? Como ele encarou a decisão deste jornalista de acabar com a marca “Província do Grande ABC” e adotar “Província dos Sete Anões”? Mais que isso: como ele observou o fato de Santo André ser caracterizado Município “Displicente” entre os Sete Anões. Melhor que “Negligente”, de Mauá, e “Presunçoso”, de São Bernardo. 

Como viram, essa Entrevista Especial promete. Só não prometo a Paulinho Serra chamá-lo de Paulo Serra, como a maioria da mídia da região. A mudança se deu em período eleitoral para romper a imagem de protagonista cujo diminutivo nominal seria embaraçoso à amarração para saltos mais elevados. 

Paulinho Serra será Paulo Serra nesta revista digital no dia em que fizer uma grande revolução econômica em Santo André. Nada que os primeiros seis meses de mandato tenham indicado. Qualquer dia explico o que entendo como “revolução econômica”. É algo mais simples do que os maledicentes e precipitados sugerem.



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