Vamos revelar na edição de amanhã as perguntas que já elaboramos e que vamos remeter ainda hoje ao prefeito Paulinho Serra. Estive durante uma hora no gabinete do chefe do Executivo de Santo André ao final da tarde de sexta-feira. Levei comigo não as perguntas previamente preparadas à Entrevista Especial prometidas aos leitores, mas os temas sobre os quais pretendíamos obter respostas. Queríamos sair do Paço Municipal com todas as respostas do tucano, mas mudamos de ideia. Trocamos a Entrevista Especial por uma pré-entrevista, ou uma entrevista preparatória à Entrevista Especial. Se não entenderam, vou explicar.
A ideia de mudança partiu deste jornalista. Não seria justo voltar do Paço Municipal com o gravador repleto de respostas do prefeito de Santo André, enquanto na Entrevista Especial com Orlando Morando, prefeito de São Bernardo, o procedimento foi outro, de encaminhamento de perguntas e o prazo de 15 dias às respostas por e-mail.
A bem da verdade é preciso dizer que Paulinho Serra estava prontíssimo às indagações. Mostrava-se tão seguro que até se dizia certo de que não se trataria de Entrevista Especial, mas de Entrevista Indesejada, cuja octanagem desafiadora é mais elevada. Respondi que não era hora da Entrevista Indesejada.
Tematização é a base
Ao levar comigo cópia de um conjunto de temas que registrei no computador para me orientar durante a entrevista estava certo de que sairia do Paço Municipal com todas as respostas. Alterei a programação porque não seria justo colher o prefeito eventualmente no contrapé de informações. Prefiro – como o fiz – deixar a cópia do roteiro temático que preparei e, em seguida, no escritório, elaborar todas as perguntas e remetê-las por e-mail. A diferença em relação à Entrevista Especial com Orlando Morando é que não houve uma pré-entrevista. Até porque o procedimento editorial foi outro – de envio das perguntas embutindo o prazo para respostas.
Conversei durante exatamente uma hora com o prefeito Paulinho Serra, com intervenções do supersecretário Leandro Petrin. Uma conversa muito útil porque ajudou a construir algumas observações que transferi ao questionário que será remetido ainda hoje. Seria improvável que, numa conversa entre um jornalista e dois representantes do Poder Público, não houvesse discordância. Aliás, alguns entrechoques foram providenciais, ao abrirem clareiras à Entrevista Especial.
Aumento do IPTU
Acreditaria o leitor que teria este jornalista perdido a oportunidade de dizer pessoalmente o que já escrevi nesta revista digital e que constará de uma das questões elaboradas à reposta do prefeito sobre o aumento do IPTU na calada da noite? Usei exatamente essa sentença (aumento do IPTU na calada da noite) como provocação à intervenção do titular do Paço Municipal. E nesse ponto subestimei a lealdade do supersecretário Leandro Petrin, que interveio em defesa da operação cujo resultado no caixa da Prefeitura de Santo André , no ano que vem, chegaria a R$ 150 milhões de receita adicional.
Foi interessante ouvir do prefeito Paulinho Serra o truque semântico de que o projeto de lei aprovado a toque de caixa pelo Legislativo que saia em férias não significava aumento do IPTU. Educadamente, não o deixei completar a explicação eufemística de que tecnicamente se trata de elevação dos valores da Planta Genérica de Valores, base de cálculo do Imposto Predial e Residencial Urbano.
Mais não anteciparei sobre o IPTU. Prefiro deixar tudo para a Entrevista Especial. Estou convencido de que a Administração Municipal agiu com esperteza ao repassar aos contribuintes a obrigação de tapar buracos orçamentários que a recessão econômica dos últimos anos e o esvaziamento industrial de longas temporadas impuseram aos prefeitos de Santo André.
Ambiente democrático
O bom do encontro no Paço Municipal é que o ambiente não fora contaminado por qualquer vírus partidário. Não me senti incomodado. Muito pelo contrário. Meus interlocutores foram respeitosos. Não me trataram como alguém a quem supostamente teriam de suportar por conta da operacionalidade da democracia. Eles parecem reconhecer que a transparência de um gestor público não pode ser simplesmente retórica. É preciso abrir as portas à efetividade.
Reconheço que não sou um jornalista de perguntas agradáveis. Seria impossível ser um perguntador agradável quando a tradição de entrevistas que realizo tem o interesse público como referencial. Não à toa muitos fogem de mim. Por isso tenho fontes que me abastecem naquilo que considero importante. Mesquinharias públicas não me sensibilizam.
O que posso garantir aos leitores é que a Entrevista Especial com Paulinho Serra, a julgar pela preliminar de sexta-feira, vai ser bem diferente da água com açúcar com a qual estamos acostumados na região. Paulinho Serra parece não ter vocação a fugir da raia, pelo que depreendi do encontro de sexta-feira, embora carregue no ventre argumentativo o que é tradicional entre os tucanos – uma tendência insuperável a trafegar por um mundo interpretativo mais suave quando se trata de cuidar da retaguarda.
O tratamento do tucano, portanto, se mostrou bem diferente, de tantos personagens da vida regional, para os quais este jornalista não é apenas desagradável com suas perguntas. Sou mesmo é alguém a evitado a todo custo.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)