Economia

IBGE confirma inchaço
de nossas periferias

DANIEL LIMA - 05/02/1997

Os novos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, anunciados em janeiro, confirmam a tendência de periferização e empobrecimento do Grande ABC, fenômeno que também atinge a Região Metropolitana de São Paulo. O novo censo populacional do IBGE registrou discreto crescimento demográfico de 8,09% da região, levemente superior à média nacional de 7% registrada no período de cinco anos. Visto simplesmente de forma conjunta, o Grande ABC não teria com que se preocupar.



Mas a história é outra. Apenas Santo André, com 1,27% de crescimento populacional no período, Diadema, com 2,58%, e São Caetano, que teve a inédita taxa de decréscimo de 6,36%, ficaram abaixo da média de evolução nacional. Os demais Municípios da região apresentam taxas volumosas: São Bernardo ficou com 16,25%, Mauá com 16,23%, Ribeirão Pires com 17,16% e Rio Grande da Serra com 16,19%, isto é, mais de o dobro da média brasileira no período.



Os números são piores do que se apresentam se for considerado que o aumento de bolsões populacionais em quatro dos sete Municípios está longe de ter a correspondência de crescimento econômico de uma região que continua perdendo indústrias, sua grande base de sustentação.



Além disso o quadro de trabalhadores é emagrecido com as novas técnicas gerenciais, os investimentos tecnológicos e os efeitos da globalização econômica. Até mesmo Santo André, cuja população cresceu discretamente, viveu no período pesquisado pelo IBGE o fenômeno da periferização. Cada vez mais famílias se deslocam para zonas geográficas menos valorizadas, com infra-estrutura pública deficiente e maior vulnerabilidade no setor de segurança, onde o aluguel e o preço do metro quadrado de terreno têm estreita correspondência com a precarização da qualidade de vida.



Segundo o IBGE, a contagem realizada no ano passado constatou aumento de 21,4% da população favelada em Santo André, que se concentra em 52 núcleos e passou de 53.649 para 65.130 pessoas. Esses números são refrescos se comparados aos de São Bernardo, que conta com maiores áreas de suposta proteção dos mananciais e que, com 658.991 habitantes, passa a liderar o ranking populacional do Grande ABC, ultrapassando Santo André (624.866) pela primeira vez na história.



A explosão demográfica de São Bernardo concentrou-se na periferia e nos mananciais e tem relação também com a praticamente esgotada capacidade de Diadema absorver novas ondas de migrantes, pois é um Município de apenas 32 quilômetros quadrados de área e já densamente povoado. Houve bairros que apontaram crescimento superior a 200%, com invasão de loteamentos. Se em Santo André o crescimento da população favelada já é preocupante, em São Bernardo tornou-se caso gravíssimo, pois alcançou 60,85% entre 92 e 95, período pesquisado pelo IBGE.



No ranking dos maiores bairros de São Bernardo, o classe média Vila Baeta Neves foi destronado pelo quase todo favelado Montanhão. No Censo de 1991 do IBGE, a Vila Baeta contava com 45.598 habitantes, contra 45.204 do Centro (segundo colocado), 44.478 do Bairro Assunção (terceiro), 41.491 do Rudge Ramos (quarto), 38.690 do Ferrazópolis (quinto) e 35.018 do Montanhão (sexto). O Censo de 96 mostrou reviravolta fulminante do ranking. Com 60.878 habitantes, o Montanhão assumiu a liderança, ou seja, um avanço de 74% na taxa de ocupação demográfica.



São Caetano foi a grande exceção do Grande ABC, ao perder oito mil habitantes no período pesquisado. Do total de 149.203 moradores registrados há cinco anos, restaram 141.462. Detentora dos melhores padrões de qualidade de vida e de renda per capita da região, São Caetano tem o custo de imóveis e do metro quadrado muito valorizado. Situação que acaba por favorecer o êxodo diante de um quadro de esfarelamento econômico por que tem passado o Grande ABC.



Da mesma forma que a região vem se ressentindo do esvaziamento econômico, Guarulhos, também pegada à Capital e agora líder no ranking populacional, fora São Paulo, sofreu fortes danos nos últimos cinco anos. Nada menos que 480 indústrias fecharam as portas ou procuraram outros Municípios entre 90 e 95. Guarulhos atingiu total de 969.116 habitantes, um pouco acima de Campinas, e com uma taxa acumulada de 23% de crescimento demográfico.


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