O prefeito de Santo André não quer ser o prefeito de São Bernardo. Pelo menos no que se refere à Entrevista Especial. Paulinho Serra pediu mais prazo para responder. Orlando Morando deixou de pedir e se deu mal ao responder de forma tão rasa que o trabalho jornalístico só serviu como descuido homérico na relação com a Imprensa.
Nesta segunda-feira vão se completar três semanas desde que Paulinho Serra recebeu 25 perguntas nucleares. O prazo de 15 dias está esticado. O prefeito terá mais uma semana para explicar muitas questões. Mais que prazos, aos quais não nos prendemos, o que interessa mesmo é o conteúdo.
Minha expectativa quanto ao conteúdo da Entrevista Especial com Paulinho Serra provavelmente é a mesma dos leitores que se preocupam com Santo André e com a região como um todo. Por isso, mais dias ou menos dias dentro de um limite de razoabilidade não vão interferir no resultado final.
Paulinho Serra anda com preocupações especiais em algumas áreas, casos de saúde e do mercado imobiliário. Em saúde por conta do fechamento de sete unidades de atendimento sem a correspondente compensação que permitisse aos usuários a manutenção da rotina logística e material. No mercado imobiliário porque há mobilizações contrárias a mudanças na Planta Genérica de Valores que catapultará o aumento na base de cálculo do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) do ano que vem a estratosferas ainda não dimensionadas. Prevê-se um caminhão de reclamações.
Respostas pífias
Dizer que Paulinho Serra não quer ser Orlando Morando no atendimento a uma demanda qualificada de perguntas é conclusão a que cheguei não porque o prefeito de Santo André tenha dado alguma indicação nesse sentido. É a própria sequência de fatos que o alerta.
A Entrevista Especial com Orlando Morando publicada por esta revista digital revestiu-se de tamanho grau de superficialidade por parte do entrevistado que melhor teria sido se houvesse solicitado adiamento do prazo. Como Paulinho Serra decidiu solicitar.
Há grande expectativa sobre os desdobramentos que seriam liderados pela Administração do tucano quanto às irregularidades no setor imobiliário em gestões anteriores. O caso do Residencial Royale, conjunto de oito torres residenciais ao lado do Shopping ABC, é um desafio e tanto para Paulinho Serra.
Duas das perguntas
Vejam os dois questionamentos enviados ao sobre o mercado imobiliário dominado na região por algumas construtoras de relações nem sempre republicanas com as administrações públicas:
CapitalSocial – O ex-superintendente do Semasa, Ney Vaz, declarou recentemente que há dezenas de torres residenciais em Santo André que infringiram a Lei de Uso e Ocupação do Solo. Inclusive as oito torres do empreendimento Residencial Royale, ao lado do Shopping ABC, no qual, entre muitas irregularidades, estaria o empreendimento como um todo por haver invadido espaço protegido pela legislação federal de preservação de nascentes. O senhor não acha que já passou da hora de interagir com o Ministério Público Estadual em Santo André para produzir varredura completa no mercado imobiliário? Até quando incorporadores e construtores poderão ser rotulados de empreiteiros urbanos, com poder de fogo eleitoral semelhante ao de empreiteiras metidas em encrencas na Operação Lava Jato? O MP da Cidadania de Santo André, pelas informações que obtivemos no próprio site da instituição, seria o caminho mais apropriado a uma relação que favoreça a legalidade. O senhor estaria disposto a consultar o promotor da área?
CapitalSocial – Sugerimos recentemente que o senhor nos convidasse a participar de uma reunião com o promotor de Justiça da Habitação de Santo André, Fábio Franchi, para esclarecimentos sobre o Residencial Royale. Também enviamos solicitação nesse sentido ao representante do Ministério Público Estadual em Santo André. Não houve resposta de um lado ou de outro, até que nos encontramos preliminarmente com vistas a esta Entrevista Especial. Vamos em frente agora que se abriu uma janela aparentemente mais ampla, na área de Cidadania?
Preparação do terreno
Há informações geradas no Paço Municipal e no Legislativo de que Paulinho Serra estaria incomodado com a Entrevista Especial preparada por CapitalSocial. Aparentemente, não se trata de algo que corresponda à realidade. Três dias antes da formulação das indagações, cujo material seguiu por e-mail, mantive reunião com o prefeito e o supersecretário Leandro Petrin. Trocamos diálogos sobre o que seria enviado. Procuramos antecipar questões mais complexas exatamente para preparar perguntas ainda mais consistentes. Paulinho Serra chegou a brincar com este jornalista ao perguntar se o trabalho estaria inserido no conceito de Entrevista Indesejada. Respondi que não. Que seria mesmo Entrevista Especial. Ele se prontificou a responder a Entrevista Indesejada quando bem entender este jornalista.
Entrevista Indesejada é algo do qual a quase totalidade dos escolhidos por CapitalSocial correram da raia. Só o famigerado empresário Milton Bigucci o fez sete vezes. Preferiu encaminhar queixa-crime contra este jornalista três vezes. Os demais mantiveram silêncio, que também pode ser entendido como omissão.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)