Imprensa

Duas cachorras, um juiz
e a sentença descabida (2)

DANIEL LIMA - 25/08/2017

O documento comprobatório de que o juiz da 3ª Vara Criminal de Santo André, Jarbas Luiz dos Santos, fez uso inadequado, numa verdadeira operação delitivo-processual -- e que tem minhas cachorras como personagens indutivas ao açodamento de uma sentença descabida -- é o artigo que escrevi na mesma data (6 de novembro de 2014) do interrogatório a que fui submetido pelo magistrado travestido de algoz. 

Municiado por um agente do Clube dos Construtores do Grande ABC – que lhe encaminhou uma cópia daquele texto de forma que não posso revelar para não trair as fontes, o meritíssimo da 3ª Vara Criminal de Santo André construiu algumas horas antes do julgamento uma teoria de desrespeito ao Judiciário e se preparou para uma guerra santa unilateral onde deveria haver racionalidade e compromisso com o devido processo legal. Uma guerra que teve como palco a sala de audiência. 

O juiz Jarbas Luiz dos Santos foi induzido a hostilizar este jornalista supostamente porque o texto seria desrespeitoso a ele e às instituições do Sistema Judiciário. Nada mais despropositado para quem entende de jornalismo e também para quem ama animais. Ou mesmo para quem não entende de jornalismo, mas ama os animais. Ou então para quem entende de jornalismo e não tem sentimento algum por animais. 

Um plano que deu certo 

O plano do presidente do Clube dos Construtores, Milton Bigucci, dera certo, garantem minhas fontes e os resultados obtidos: o meritíssimo fora envenenado e me aguardou para o interrogatório como se espera um inimigo a ser batido. E o fez com maestria. Tanto que, após o massacre disfarçado de interrogatório, me condenou a oito meses de prisão em regime semiaberto. 

Tudo porque escrevi artigos que não passavam de obviedades conhecidas de quem acompanha a vida institucional da região: o Clube dos Construtores não passava, sob a gestão de Milton Bigucci, de um grupinho fechado para manipular o mercado imobiliário, usando e abusando da generosidade da mídia sempre condescendente com o poder econômico, além do desconhecimento quase generalizado da sociedade sobre as nuances do setor.

Alerto aos leitores que imaginam que este segundo artigo da série desvenda o simulacro de julgamento de que fui vítima: que não revelarei ainda o ponto central que aniquila com qualquer tentativa de argumentação do meritíssimo. Não existe a menor possibilidade material e mesmo subjetiva de o meritíssimo deixar de pagar o preço ético e moral, quando não processual, de ter agido deliberadamente para transformar este jornalista em criminoso, quando, de fato, o criminoso central e único fora o autor da queixa-crime em nome do Clube dos Construtores. 

Relevâncias ignoradas 

Para interpretar como ofensivo o texto daquele novembro de 2014 em que me sentei horas depois da edição à frente do meritíssimo da 3ª Criminal de Santo André é preciso desconsiderar dois pontos centrais: primeiro, a paixão por animais, particularmente por cachorros; segundo, desconhecer os meandros do jornalismo, da liberdade de opinião, da liberdade de expressão. 

E um terceiro ponto também deve ser avaliado: não existe na Província dos Sete Anões, como identifico os sete municípios do antigo Grande ABC, um jornalista ou mesmo um agente social, porque é isso que sou de fato, com tamanha vocação à defesa do Sistema Judiciário. Tanto que tenho dito exaustivamente, para espanto dos bandidos sociais, que sou lavajatense de quatro costados. Entenda-se como lavajatense um defensor intransigente da força-tarefa que desbaratou muitas quadrilhas nos interiores e entorno da Petrobrás.

Artigo de novembro de 2014

Posta essa explicação direcionada aos leitores novatos desta revista digital, passo a reproduzir os principais trechos daquele artigo de novembro de 2014, sob o título “Uma tarde com Milton Bigucci em vez da companhia de Lolita e Luly”. Esse é a matéria prima básica – embora não faltem outras – que levou o meritíssimo de Santo André a ser colhido em flagrante equívoco processual. 

 Não me perguntem detalhes porque ainda não sei o teor de nova ação criminal que o milionário empresário Milton Bigucci, metido em falcatruas constatadas pelo Ministério Público e também pela Controlador-Geral do Município de São Paulo, move contra o titular desta revista digital. Devo ter mais informações esta manhã, antes portanto de me dirigir esta tarde à 3ª Vara Criminal de Santo André. Afirma meu advogado que Milton Bigucci se utiliza do Clube dos Especuladores Imobiliários do Grande ABC (Acigabc) para tentar me atingir. Ele é inimigo público da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa. Exceto se tanto uma quanto a outra forem manipuladas por ele e seus poderes tentaculares. 

Mais artigo de novembro de 2014 

 Para dizer a verdade, e isso serve inclusive para Milton Bigucci reforçar o processo judicial que me move agora de forma transversa, faz algum tempo que tive a informação sobre a ação criminal em nome da Acigabc. Até então, chamava aquela entidade inútil de Clube dos Construtores e Incorporadores do Grande ABC. Decidi alterar a denominação para Clube dos Especuladores Imobiliários por conta do fato de que não é mesmo outra coisa. Como seria se vive de favores de terceiros, no caso do Secovi, Sindicato da Habitação da Capital.  Tanto que conta com pouquíssimas empresas associadas.

Mais artigo de novembro de 2014 

 (...) Milton Bigucci está no comando do Clube dos Especuladores Imobiliários há tanto tempo que o São Paulo não contava com nenhum titulo da Libertadores da América e tampouco o título Intercontinental, que depois virou Mundial. O Muro de Berlim ainda sobrevivia a um socialismo em fim de estrada. Celso Daniel era candidato à Prefeitura de Santo André pela primeira vez, quando foi derrotado. Collor nem chegara à Presidência da República de tão breve estadia. 

Mais artigo de novembro de 2014 

 (...) Ter mais um encontro judicial com Milton Bigucci será sempre um desprazer-prazer. Desprazer porque há programação muito melhor numa tarde de quinta-feira do que olhar para aquela cara de quem tem compromisso com a manipulação dos fatos. Prazer porque será mais uma oportunidade para lhe dizer, se assim for permitido, o quanto o coloco na condição de pobre exemplo de corporificação institucional. Milton Bigucci só não pode ser chamado de atraso numa Província do Grande ABC atrasada por natureza porque é o suprassumo do ultrapassado como modelo diretivo. 

Mais artigo de novembro de 2014 

 (...) Espero, sinceramente, que, pelo menos desta vez Milton Bigucci não seja mal educado e não tenha comportamento infantilizado como num dos últimos encontros nos corredores do Judiciário, quando me atacou com gestos e, em seguida, no gabinete do juiz de Direito, ao me ofender verbalmente sem que tenha sido sequer censurado pelo magistrado. Aliás, o magistrado poderia também ter me advertido porque reagi em seguida, mas não consegui responder à altura às ofensas. É impossível competir com o empresário Milton Bigucci em matéria de baixaria. O fair play que exibe em algumas entrevistas sob encomenda não passa de uma encenação facilitada por entrevistadores que não fazem outra coisa senão cortejá-lo. São entrevistas mais que desejáveis. 

Mais artigo de novembro de 2014 

 (...) Prometo aos leitores que antes de me dirigir ao Fórum de Justiça de Santo André vou ler o necessário sobre a nova demanda judicial de Milton Bigucci. Certamente ele não cometeu falha reincidente de recorrer mais uma vez aos tribunais para retirar desta revista digital tudo o que já escrevemos sobre suas lambanças como empresário e também como todo-poderoso do Clube dos Especuladores. Num passado ainda recente o Judiciário lhe negou essa aberração bolivariana. 

Mais artigo de novembro de 2014 

 Mas como Milton Bigucci é esperto e bem assessorado por um profissional de Direito, sempre achará um caminho estranho para me conduzir a novas instâncias legais, caso sofra revés nesta Província. Milton Bigucci é amigo dos poderosos e pretende remover todos os obstáculos possíveis para me ver condenado. Mal sabe o que lhe espera na curva da razoabilidade do Direito. Certamente Milton Bigucci não me convoca ao Judiciário para entregar ante a presença de um juiz as respostas da Entrevista Indesejada que lhe enviei em 13 de setembro de 2010 (portanto há quatro longos anos) e também as respostas da Entrevista Indesejada de 26 de setembro do ano passado, a propósito de nova “disputa” eleitoral no Clube dos Especuladores Imobiliários. Fora esses duas iniciativas jornalísticas, outras três, chamadas de "Entrevista Especial", foram encaminhadas ao todo-poderoso presidente do Clube dos Especuladores Imobiliários. Inutilmente. Embora exerça cargo de interesse público notório, age como se presidisse alguma seita secreta. 

Mais artigo de novembro de 2014 

 Para os leitores terem uma ideia mais precisa dos insumos em forma de perguntas que enviei já em 2010 a Milton Bigucci, reproduzo entre aspas uma das questões: "Entre as várias questões que empreendedores de pequeno e médio porte colocam em forma de crítica à atuação do senhor à frente da Acigabc constam privilégios nos escaninhos públicos, atuando em favor de sua empresa. Há exageros nessa avaliação?". É claro que Milton Bigucci não respondeu. Já naquele momento este jornalista contava com informações preliminares sobre delitos cometidos pelo empresário. Daí em diante vieram a licitação fraudulenta do terreno público no qual a MBigucci constrói o empreendimento Marco Zero, os desvios denunciados pelo advogado que atuava no Semasa sobre a participação fraudulenta de Milton Bigucci num empreendimento milionário ao lado do Shopping Santo André e também a denúncia da Controladoria-Geral da Prefeitura de São Paulo sobre a Máfia do ISS, igualmente integrada pelo empresário. Sem contar, ainda, que o MP de São Bernardo alçou o conglomerado de empresas que Milton Bigucci dirige ao patamar de campeão regional de abusos contra a clientela. 

Mais artigo de novembro de 2014 

 Estou pensando seriamente, após a audiência marcada para hoje, em preparar nova bateria de questões de "Entrevista Indesejada" direcionada a Milton Bigucci. Seria a sexta tentativa de retirá-lo do esconderijo empresarial e institucional. Nada mais apropriado para que preste contas de suas atividades econômicas à sociedade. Nada que envolva sua vida privada, sobre a qual jamais me preocupei. O foco será sempre jornalístico.  Milton Bigucci preside aquela que poderia e deveria ser uma das entidades mais republicanas da Província do Grande ABC. Massa crítica e financeira não faltariam, mas o Clube dos Especuladores Imobiliários  virou quintal de interesses privados do eterno presidente. Tanto que até mesmo a atuação corporativa de Milton Bigucci à frente do conglomerado MBigucci ocupa espaço privilegiado de divulgação nos canais de marketing do Clube dos Especuladores Imobiliários.  .

Trecho final do artigo de 2014 

 Juro que preferiria nesta tarde de quinta-feira, se tempo houvesse, dar um passeio com a Lolita e a Luly, cachorrinhas da família. Que posso fazer se Milton Bigucci se considera o imperador da Província e não suporta jornalista que ousa enfrentá-lo. O espirito totalitário não lhe dá trégua.

Audiência viciada

O que reproduzi é uma seleção dos principais trechos daquele artigo. Na verdade, poucos parágrafos foram descartados porque, de alguma forma se tornaram redundantes neste momento. Deixo como perspectiva ao próximo capítulo a pedra no caminho de um processo em que o juiz encarregado de fazer justiça cometeu uma barbaridade de erros. Muitos desses erros já foram revelados nesta revista digital, com base na defesa do advogado Alexandre Marques Frias, todos relativos a equívocos processuais, além, claro, da hostilidade de que fui vítima durante a audiência. Mas o episódio envolvendo minhas cachorras, nesse o meritíssimo conseguiu se superar. O Conselho Nacional de Justiça receberá um caso típico de monstruosidade de imprecisões de um magistrado, acrescentado de um equívoco processual insofismável.

Como antecipou há muito tempo o advogado Alexandre Marques Frias, não existe outro destino à queixa-crime do rei dos arranjos do mercado imobiliário na região, segundo definição do Ministério Público do Consumidor de São Bernardo, senão a lata do lixo da nulidade processual, quando deveria, numa escala inicial, ser tratada como uma ação reversa às intenções dos autores, abrindo alas a investigações do Ministério Público Estadual sobre o modus-operandi daquela organização corporativa em detrimento da sociedade.  



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