O engenheiro Edson Vaz Musa, que acaba de deixar a presidência do Grupo Rhodia no Brasil, perpetuou duas mensagens ao empresariado e à comunidade do Grande ABC em homenagens simples que marcaram, em dezembro, sua despedida do cargo. No primeiro encontro, com a direção e gerentes da Cooperhodia, Musa defendeu a necessidade de lideranças políticas, empresariais e sociais se unirem para buscar alternativas de crescimento da região, inclusive com medidas que aliviem a carga de problemas da infra-estrutura viária de uma região metropolitana incrustada na Grande São Paulo. Ele percorreu em desgastantes e demorados 90 minutos a distância entre o Centro Empresarial de São Paulo, sede do Grupo Rhodia, e Santo André. Nem o costumeiro fair-play que o caracteriza o impediu de lamentar as dificuldades do tráfego. Dez dias depois, na sede da Associação Comercial e Industrial de Santo André (Acisa), alertou o empresariado a acrescentar ao capitalismo uma boa porção de preocupação social, atuando de forma comunitária.
Os dois encontros realizados em Santo André sensibilizaram Musa, que durante muitos anos atuou nas unidades do Grupo Rhodia na região. Na Cooperhodia, ele fez questão de lembrar seu apoio à candidatura vitoriosa de José Monte à presidência da empresa. Monte e Musa dividiram os mesmos espaços no Centro Empresarial durante muitos anos. Na Acisa do presidente Saul Gelman, considerou Nelson Tadeu Pereira, também executivo da Rhodia e agora secretário municipal, seu continuador de projetos voltados à comunidade.
Logo após o encontro na Acisa, Musa se dirigiu para a sede da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do ABC para participar das homenagens ao mesmo Nelson Tadeu, eleito Engenheiro Emérito do Ano, título que lhe foi concedido na década passada. Musa foi convidado a falar em nome da entidade e traçou o perfil profissional e pessoal de Nelson Tadeu com riqueza de detalhes, lembrando que o conhecera 26 anos antes, quando egresso da FEI e participou do programa de trainee da companhia.
A homenagem a Musa na Cooperhodia, onde uma churrascada foi cuidadosamente preparada, possibilitou-lhe o reencontro com vários amigos e uma declarada inquietação com o futuro da região. Bateu na tecla de que o Custo ABC é um complicador que deve ser considerado, porque os investimentos produtivos no Interior significam melhor perspectiva de produtividade tanto pela melhor qualidade de vida como pelos menores custos indiretos com série de benefícios historicamente conquistados no Grande ABC, caso de transporte, alimentação, plano de saúde, entre outros.
E recomendou também que as lideranças regionais analisem cuidadosamente o que chama de necessidade de definição da vocação econômica, sem, entretanto, aprofundar-se no tema durante uma conversa praticamente informal acompanhada de arroz carreteiro e regada a cerveja. “Assim como as pessoas e as empresas, a região precisa definir sua vocação econômica” — disse.
Musa deu exemplo que poderia ser interpretado como intrigante, ao afirmar que uma empresa francesa, especializada em produção, venda e distribuição de calçados, acabou redirecionando os negócios, concentrando-se no setor de distribuição de produtos diversos, ao constatar que essa era sua maior habilidade empreendedora.
O consenso de que Grande ABC e indústria automotiva são partes indissociáveis poderia ganhar, por analogia, a mesma interpretação? Musa provavelmente não pretendeu essa ligação, mas insistiu muito em utilizar o termo vocação. É mais provável que pretendesse apenas alertar a região sobre a importância do tema.
Na Acisa, ele não foi nada enigmático. Seu discurso foi breve e contundente, mesmo com a sutileza que o caracteriza. Sem a variável do socialismo, que ruiu com o Muro de Berlim, Musa entende que o capitalismo não pode ser sinônimo de individualismo. Por isso, sublinhou às lideranças presentes a importância do conceito de participação comunitária dos agentes econômicos. Uma alternativa indispensável para o grau de exclusão social embutido na globalização.
O ex-presidente do Grupo Rhodia virou empresário juntamente com grupo de consultores. Ele detém 50% da MGDK & Associados, empresa de gerenciamento, não de consultoria, como faz questão de afirmar. Do alto da experiência de comandante de uma das maiores organizações com atuação no Brasil, Musa e seus associados irão aplicar os conceitos administrativos que considera indispensáveis para o mundo dos negócios em tempos de internacionalização da economia.
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