Neste segundo capítulo de análise das respostas do prefeito Paulinho Serra, de Santo André, a esta revista digital, decidimos centrar breves baterias apenas numa das 25 questões formuladas. Vejam o que o tucano respondeu sobre o mercado de trabalho em Santo André e, na sequência, nossos comentários. Ainda faltam 22 respostas a avaliar.
Pergunta de CapitalSocial
Nos últimos 31,6 anos, Santo André perdeu a cada mês, sistematicamente, média de 95 empregos industriais com carteira assinada – de um total de 375 na região. Essa é uma das faces mais latentes do empobrecimento do Município, que desabou também no indicador de Valor Adicionado e do PIB (Produto Interno Bruto), entre tantos outros. O senhor concorda que desemprego industrial e empobrecimento são irmãos siameses quando não se encontra nada no horizonte de metamorfose econômica?
Resposta de Paulinho Serra
Santo André e outras tantas cidades sofreram diante de governantes que entendiam que a questão do emprego era de responsabilidade exclusiva do Governo Federal, por interferir direta na macroeconomia. Ao contrário, penso que o município tem um papel importante, em especial na articulação de ações que passem credibilidade ao setor produtivo. Dados divulgados pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho, mostram sinais de retomada na criação de empregos em Santo André. Segundo o levantamento, entre janeiro e agosto deste ano a cidade apresentou a melhor recuperação de postos de trabalho no ABC, com saldo positivo de 494 vagas.
Outra boa notícia é que, pela primeira vez em um ano, Santo André voltou a apresentar números de exportação superiores aos de importação. Segundo dados divulgados pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), o saldo da balança comercial no mês passado ficou positivo devido ao grande volume de exportação de Bens Intermediários (insumos industriais, peças e acessórios de equipamentos de transporte), com volume de 300 milhões de dólares (US$) em exportação contra US$ 236 milhões em importação -- uma diferença de US$ 64 milhões.
O desenvolvimento econômico da cidade é uma das prioridades da atual gestão, que segue buscando parcerias com a iniciativa privada para ampliar os resultados do Município.
Meus comentários
Quem esperava que o prefeito Paulinho Serra fizesse uma análise sintonizadas com a situação dramática da economia de Santo André esqueceu que, se há alguém que vai procurar dourar a pílula quanto a questões econômicas, entre tantos, é o chefe do Executivo. Mas não deveria ser assim. No altar do poder máximo do Executivo, o que diz um representante legitimamente eleito pelo povo carrega credibilidade que, deslocada da realidade, ultrapassa os limites do bom senso.
Juntamente com a vizinha São Caetano, Santo André esvai-se em força industrial desde que o Interior do Estado e outras áreas da Federação levaram a sério a conclusão mais que evidente de que indicadores sociais poderiam melhorar acentuadamente com a chegada de indústrias. Santo André conta no setor industrial com apenas 14 de cada 100 trabalhadores com carteira assinada, o menor percentual da região e um dos mais baixos dos municípios que pontuam no Estado de São Paulo.
A desindustrialização de Santo André chegou a tal ponto que, sem exagero, não há razão de ser, exceto quando entra em campo o histórico, de se manter a expressão “viveiro industrial” no hino oficial do Município.
Os dados repassados pelo prefeito com base no balanço da temporada do Ministério do Trabalho e Emprego – e mesmo assim com números pífios – não levam em conta os estragos nas matrizes industriais. O setor de serviços de baixo valor agregado cada vez é mais representativo do tecido econômico de Santo André. Nada pior para quem transporta um passivo social cada vez mais comprometedor.
Nem mesmo os dados relativos às exportações e importações devem servir de base a eventuais reconsiderações sobre o esfacelamento industrial de Santo André. Os números apontados são conjunção de um grupo restrito de grande e médio-grande porte, principalmente, com relações internacionais. As pequenas indústrias de Santo André, sobretudo no setor de autopeças, foram aniquiladas nos anos 1990 na esteira da politica de abertura econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. Tratou-se desigualmente uma maioria formada por empresas familiares e as grandes montadoras e autopeças de capital estrangeiro. Antes disso, o sindicalismo cutista que colocava empresas de tamanhos diversos no mesmo pacote de reivindicações, minou as forças de resistência das pequenas indústrias.
Fundada em Santo André no começo dos anos 1980, a Anapemei (Associação Nacional de Pequenas e Médias Empresas Industriais) chegou a reunir mais de 300 associados no período mais belicoso de relações com o sindicalismo. Há muito tempo não existe um exemplar sequer que tenha resistido à sucessão de crises individuais e da categoria como um todo.
Santo André é o caso mais grave de derrocada do emprego industrial na região, embora esteja em segundo lugar em números absolutos, atrás de São Bernardo. Desde janeiro de 1986 Santo André perdeu 37.268 empregos com carteira assinado do setor de transformação industrial. Ou 57,79% do total. Eram 64.491 trabalhadores e restaram 27.223 em agosto deste ano.
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