Imprensa

Leiam nossos contrapontos às
respostas de Paulinho Serra (10)

DANIEL LIMA - 31/10/2017

Chegamos à penúltima edição dessa série que analisa as respostas do prefeito de Santo André à Entrevista Especial publicada recentemente. Foram formuladas 25 questões centrais a Paulinho Serra. Leiam as perguntas que se seguem, as respostas do tucano e os “meus comentários”.  

Pergunta de CapitalSocial

A Província vive o pior estágio institucional da história. Falta Capital Social entre agentes públicos, econômicos e sociais.  Especialistas ensinam que uma sociedade sem o equilíbrio desse tripé é uma sociedade a caminho do cadafalso. Como superar essa debacle coletiva? Como retirar as instituições do enclausuramento em que estão metidas. Como amadurecer a ideia de que sem coletivismo não existe saída à cidadania? 

Resposta de Paulinho Serra

Como disse anteriormente, estamos passando por período de perda de representatividade e legitimidade das instituições. E participação só se obtém se forem criados efetivamente canais concretos de diálogo e que gerem credibilidade. Tivemos a iniciativa e a coragem de realizar o 1º Meeting Empresarial de Santo André, oportunidade em que estiveram reunidos os maiores empregadores, os principais clubes e associações e as principais academias, todos discutindo e identificando os novos caminhos e as novas oportunidades. 

Meus comentários 

O Meeting realizado pela Prefeitura de Santo André não pode sequer tangenciar o conceito de representatividade social. Tratou-se de um evento circunstancial, de baixa capilaridade juntos aos formadores de opinião e ao empresariado e, mais que isso, ganhou ares pré-eleitorais com a enchida de bola do prefeito João Doria, recepcionado por um de seus amigos mais íntimos, o empresário Sérgio De Nadai, cujas lambanças nas relações com o Estado, sobretudo no setor de merenda escolar, são tenebrosas. Há muito o que fazer para encaminhar algo que possa ser construído tijolo por tijolo no processo de institucionalização da sociedade em Santo André e na região. 

Pergunta de CapitalSocial 

Defendemos a tese de que a sociedade regional se despersonalizou, se esvaziou, se esvaiu, também graças às redes sociais. Muitos acreditaram que a democratização tecnológica colocaria a região na trilha de uma densidade colaborativa que mudaria completamente a história local, mas o que temos é quase que um completo alheamento. Temários nacionais e internacionais prevalecem entre os usuários das redes sociais. Questões locais sobrevivem em guetos polarizados, sobretudo no campo político-administrativo. O que fazer? Até que ponto tudo isso beneficia os administradores públicos locais, secundários na avaliação da população mais preocupada com a crise federal? 

Resposta de Paulinho Serra

De fato, a democratização tecnológica está mudando a realidade de Santo André e do mundo. Se hoje conseguimos fazer um contato direto e individualizado, perdeu-se, e muito, a noção de coletivo. As redes sociais ainda são solo fértil para ataques, muitas vezes realizados com base em um suposto anonimato. A ampliação do debate político, ainda que em temas nacionais, pode ser um sinal de melhora no interesse das pessoas em participar da vida política. E, se isso se concretizar, teremos uma maior participação também no debate local. 

Meus comentários

Por enquanto e não se sabe por quanto tempo as redes sociais significam seguidos ataques à regionalidade em nome de partidarismos políticos, principalmente. Ao invés de uma sociedade integrada em torno de questões essenciais à reestruturação econômica, temos nichos de interesses tão específicos quanto diversos. O encaminhamento de mudanças rumo à regionalidade passa distante dos poderes limitados de um prefeito ou de sete prefeitos, caso desta Província, mas o temário precisa ser democratizado em várias instâncias de modo que haja reação no sentido de colocar algumas questões regionais como pontos prioritários. 

Pergunta de CapitalSocial 

O senhor discorda de uma sentença jornalística que produzi já faz muito tempo e que dá conta de que a Fundação do ABC, cujo orçamento ultrapassa a R$ 2 bilhões e que poderia ser chamada de Clube da Saúde, é a única regionalidade que deu certo porque atende a todos os interesses político-partidários na Província?  

Resposta de Paulinho Serra

Pergunte aos usuários do sistema público de saúde se eles estão satisfeitos e se concordam com a máxima de que a regionalidade na saúde deu certo. 

Meus comentários 

A resposta do prefeito Paulinho Serra carrega duplo sentido. Aos incautos poderá parecer que o tucano discorda das premissas do questionamento, mas, uma leitura mais tranquila seria condenatória ao Clube da Saúde: não faltam indicadores que apontam a saúde como grave deficiência do sistema público em qualquer instância de governo. 

Pergunta de CapitalSocial

O senhor não aprovou duas análises deste jornalista no desdobramento de uma pesquisa divulgada em maio último dando conta do comportamento do eleitorado em relação a cinco dos prefeitos eleitos em outubro do ano passado. Publicamos que o senhor perdeu capital eleitoral quando se comparam os votos válidos que recebeu e o nível de aprovação do eleitorado. Também elaboramos uma segunda análise, na qual o senhor superava apenas o prefeito de Diadema, quando a definição do resultado levava em conta a aprovação do eleitorado em contraponto ao total de votos obtidos, levando-se em consideração o conjunto da obra, ou seja, votos válidos, votos nulos, votos em branco e abstenções. Que argumento o senhor utilizaria para desclassificar tanto uma quanto outra avaliação? Comparar votos válidos com aprovação e também aprovação com o total de votos do colégio eleitoral seriam equívocos? O senhor teria uma proposta alternativa de análise que pudéssemos utilizar? Ou o senhor já se deu conta de que os 78% de votos válidos conquistados em outubro do ano passado foi um acidente ditado pelas circunstâncias eleitorais e que jamais se repetirá em Santo André, faça o senhor ou qualquer outro prefeito uma administração eficiente? 

Resposta de Paulinho Serra

O nosso sistema eleitoral contabiliza apenas os votos válidos – dado a determinado candidato, desprezando os votos nulos, brancos e as abstenções. Já as pesquisas de opinião, trabalham as amostras que levam em consideração 100% da população. Assim, nos parece incorreto comparar porcentagens realizadas com amostras distintas. 

Mas independente disso, a avaliação que mais interessa é a dos quatro anos do meu mandato. E para atender a expectativa dos 78% dos eleitores que votaram em mim na última eleição, tenho trabalhado e me dedicado diariamente para fazer o melhor para Santo André e os seus moradores. 

Meus comentários 

Mantenho as análises fundamentadas em dados efetivamente apurados. O prefeito de Santo André parece já ter entendido que não é estrategicamente inteligente alardear quaisquer números de avaliação de governo que possam ser objetos de comparação no futuro. Paulinho Serra certamente começou a perceber que fatores extraordinários, que passaram distante do prestígio que supostamente teria então como candidato, o alçaram a um total de votos válidos incompatível com as possibilidades reais em qualquer situação de normalidade política. A ojeriza do eleitorado ao PT nas últimas eleições e a fragilidade dos adversários complementares, entre vários aspectos, deram a Paulinho Serra números vitoriosos que devem ser guardados como relíquia eleitoral. Expô-los significa compará-los com os próprios dados de aprovação no cargo. Aliás, uma segunda rodada de pesquisas do Instituto Paraná revelou isso não só em relação a Paulinho Serra como também aos demais prefeitos da região. Ou seja: há um nível crítico acentuado que precisa ser observado com máxima atenção, porque o desgaste, se permanente, comprometeria sonhos de reeleição. 

Pergunta de CapitalSocial 

O senhor tem sido tratado com certo desvelo pela Imprensa da região. De maneira geral não lhe faltam espaços generosos. O seu governo aos olhos dos leitores é uma sucessão de acertos. Até mesmo eventuais falhas, como a falta de comunicação ou algo parecido no fechamento de sete unidades de saúde, situação que causou problemas com usuários, foi ignorada ou minimizada. Ao contrário da Rede Globo, que aqui esteve para uma reportagem crítica. Afinal, nesse caso específico, quem errou? Os usuários que desprezaram as opções colocadas à disposição para substituir as unidades fechadas para reformas ou a sua Administração, que, supostamente não fez a leitura correta das medidas que deveriam ser tomadas? 

Resposta de Paulinho Serra

A população, melhor do que ninguém, será capaz de identificar e apoiar os acertos do governo após o remodelamento que será feito na saúde de Santo André. Uma coisa é certa: a saúde pública na nossa cidade estava em colapso. Não dava para continuar como estava. 

No ano que vem a cidade irá contar com 11 unidades no padrão Qualisaúde. Prontuário eletrônico do paciente, controle de medicamentos por códigos de barras, histórico do paciente na consulta e nos exames, médicos, enfermeiros e recepcionistas treinados e com rotina de trabalho. É esse o modelo que queremos para a saúde pública da nossa cidade e que está sendo implementado com planejamento, responsabilidade e um grande desejo de atender a população com respeito e dignidade.

Meus comentários

O desafio da Administração Paulinho Serra em colocar a saúde de Santo André nos eixos é extraordinário. Construir um cenário de eficiência num futuro próximo é um grande risco. Há incompatibilidade latente entre orçamento público e demanda por atendimento. A generosidade da Imprensa tem valor relativo nestes tempos de redes sociais. Não faltam grupos de combate às políticas administrativas dos prefeitos da região. A tendência de massificação de uso de aplicativos deverá elevar a temperatura crítica. 



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