Economia

Economia é maior desafio
de candidatos socialistas

DANIEL LIMA - 10/11/1996

Os candidatos mais fortemente vinculados a questões sociais vão ocupar a maior parte das cadeiras dos Executivos municipais no Grande ABC. Excluindo da lista os petebistas Luiz Tortorello, de São Caetano, e Cido Franco, em Rio Grande da Serra, todos os demais eleitos têm biografia em comum de forte entranhamento social. Santo André, Mauá e Ribeirão Pires elegeram candidatos do Partido dos Trabalhadores. Diadema deu troco à arrogância de José Augusto Ramos consagrando o ex-petista Gilson Menezes. E São Bernardo, a não ser que o candidato peessedebista resolva brincar de macaco em cristaleira, dificilmente deixará de eleger o também ex-petista Maurício Soares.


Como São Caetano é um oásis em infra-estrutura e equipamentos públicos e goza as delícias de uma população nivelada razoavelmente por cima, e Rio Grande da Serra é minúscula demais para alterar o peso da balança regional, está posto que o Grande ABC viverá quatro anos sob intensa inquietação de investimentos públicos dirigidos para áreas sociais mais carentes.


Isto é bom, à medida que se agravam na região os indicadores de qualidade de vida, os quais têm nos índices de criminalidade e na avalanche de usuários de drogas sensores inquietantes. Esses novos prefeitos socialistas vão poder exercitar todos os pendores humanistas, porque matéria-prima não lhes faltará. Provavelmente abundará.


As experiências consolidadas pelo PT em Diadema, onde o modesto perfil sócio-econômico praticamente uniforme permitiu intervenções corretivas altamente produtivas e de repercussão interna e externa consagradora, não serão facilmente transplantadas para outros municípios da região com o mesmo grau de aceitação. Celso Daniel já sentiu as dores do parto em Santo André. Maurício Soares já percebeu que São Bernardo é uma equação mais complicada. Mauá e Ribeirão Pires também diferem de Diadema, porque têm classe média mais consolidada e mais crítica à redefinição de prioridades administrativas.


Muito mais que harmonizar demandas sociais das populações mais carentes, os prefeitos com forte vertente social sabem que vão ter de abrir em conjunto, através do Consórcio Intermunicipal e com o suporte do Fórum da Cidadania, muitos espaços para o desenvolvimento econômico de uma região que dormiu no berço esplêndido dos investimentos espontâneos sem se dar conta de que um dia os recursos para novas fábricas seriam disputados aos tapas de incentivos fiscais e aos berros de doação de terrenos, entre outros critérios nada ortodoxos de seleção.


O destino talvez tenha reservado uma peça ao elenco de novos governantes da região, preparando-lhes a armadilha do rebaixamento da qualidade de vida associado não somente a fatores historicamente combatidos por eles, como a má distribuição de renda decorrente de um País de oligarquias.


A dificuldade específica que se lhes apresenta é de âmbito regional e por força de fatos locais, como o descaso das lideranças sociais em organizar-se para fazer frente aos tempos de vacas magras, agravados, sem dúvida, por aspectos macroeconômicos. Caso específico da globalização econômica e da devastação no parque industrial brasileiro, particularmente do Estado de São Paulo.


Embora não se deva duvidar do anunciado interesse dos prefeitos socialistas em dar tempero capitalista às suas administrações, tanto que Celso Daniel, Gilson Menezes e o eventual eleito Maurício Soares já propalaram disposição de constituir Secretarias de Indústria e Comércio, a indagação que se articula é outra: qual a graduação de interesse que modulará as intervenções?


De maneira geral, o Poder Público do Grande ABC manteve-se completamente omisso durante os avanços e solavancos da economia regional. Mais que isso: teve a desfaçatez de, em muitos casos, exibir a empáfia dos ignorantes.


A intrincada rede de impostos e taxas municipais, a complicadíssima legislação sobre uso e ocupação do solo, os baixos investimentos nos sistemas viários intermunicipais, o distanciamento dos poderes constituídos na Capital e em Brasília, o desinteresse de estabelecer políticas industriais localizadas, entre outros motivos, colocaram os administradores e legisladores públicos da região, ao longo de décadas, muito distantes dos anseios desenvolvimentistas.


Aos novos eleitos, prefeitos e vereadores, está reservada intensa descarga de exigências que eles terão de saber absorver, controlar, hierarquizar, planejar e executar. A outra alternativa é o soterramento político-eleitoral que vários de seus antecessores jamais imaginaram enfrentar.


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