Já está deflagrada a primeira ação efetiva de redução do chamado Custo ABC, coquetel explosivo de entraves que desestimulam investimentos na região. A Estação de Recuperação de Água (ERA), unidade produtora de água não-potável para fins industriais lançada pelo Serviço Municipal de Água e Saneamento de Santo André (Semasa), deverá reduzir em cerca de 80% o custo para consumidores da indústria, ao mesmo tempo em que aumentará a oferta de água potável à população, que sofre com déficit de 20% da produção da Sabesp.
O projeto da água industrial em Santo André pode até contemplar já na primeira etapa algumas das indústrias do Pólo Petroquímico de Capuava, que se mostraram interessadas, e numa segunda etapa, com as necessárias adaptações técnico-operacionais do sistema, todo o conjunto de 11 empresas, desde que estejam situadas nos limites do Município.
A Estação de Recuperação de Água do Semasa pode não ter garantido a eleição do superintendente da autarquia que cuida do abastecimento de água e coleta de esgotos na cidade, Ajan Marques de Oliveira, derrotado como concorrente a vice-prefeito na chapa de Duílio Pisaneschi. Mas assegurou-lhe entre várias conquistas o título de Engenheiro do Ano, outorgado por entidades da classe sediadas na região. A obra, orçada em R$ 22,7 milhões, será custeada pela própria autarquia. A execução caberá a um consórcio formado pela Etesco Construções e Gêva Engenharia, vencedor da licitação. O prazo de 11 meses para desenvolvimento do projeto mais a construção e de um ano para a pré-operação deixa evidenciado o caráter emergencial do sistema. O Custo ABC é um componente de desestímulo regional que precisa ser combatido.
O primeiro módulo da Estação de Recuperação de Água contemplará previstas 40 empresas que fazem vizinhança ao Tamanduateí, na Avenida dos Estados, e mais algumas vias próximas e densamente ocupadas por indústrias. O Pólo Petroquímico de Capuava não participa do grupo inicial de interessados, pois não houve manifestação oficial de adesão ao sistema. Mas o Semasa está empenhado em projetar e construir um segundo módulo para atender às necessidades do Pólo como um todo, avalia Ajan Marques. Com sistema próprio de tratamento de água, em parte através de captação do Tamanduateí e em parte com abastecimento de água potável da Sabesp, o Pólo de Capuava consome perto de R$ 2,5 milhões por mês com o insumo, segundo Jorge Manuel de Souza Rosa, técnico do setor de processos da Petroquímica União, empresa-mãe do Pólo e responsável por 60% do consumo.
A expectativa é de que nos próximos anos o Pólo exija quase a duplicação dos atuais 400 litros por segundo. Parte dessa defasagem já está sendo reparada com novos investimentos na estação interna de tratamento. A outra parte poderia ser suplementada pelo segundo módulo da estação produtora de água industrial do Semasa. Jorge Manuel explica que o custo médio do metro cúbico de água tratada no Pólo de Capuava oscila entre R$ 2,50 e R$ 3,00, resultado da mixagem dos R$ 4,26 pagos diretamente à água potável da Sabesp e ao tratamento próprio da mistura do líquido com as impurezas do Tamanduateí.
Embora inferior ao custo médio da água potável que abastece a quase totalidade das indústrias de Santo André, comercializada e distribuída pelo Semasa, e que chega a R$ 5,00, incluindo a distribuição de água e coleta de esgoto, o valor é substancialmente superior aos R$ 0,60 que as indústrias petroquímicas do Pólo de Camaçari, na Bahia, e Copesul, no Rio Grande do Sul, desembolsam pelo insumo.
A água industrial do Semasa, produzida a partir do tratamento do esgoto doméstico e que poderá ser utilizada em sanitários, para o resfriamento de caldeiras, lavagem de instalações, entre outras finalidades, terá custo estimado de R$ 1,00 por metro cúbico. A água utilizada pelas indústrias hoje é potável, como a que qualquer família utiliza para preparar pratos, tomar banho e ingerir. Esse desperdício está no limite físico e econômico da Região Metropolitana de São Paulo, segundo Paulo Nobre, diretor da Lins Engenharia e autor do estudo de viabilidade e projeto básico Estação de Recuperação. A água domiciliar acaba sendo subsidiada pela indústria e representa fator de peso nos custos. Bem superior a qualquer outra região do Estado.
A tecnologia que marcará a construção da estação de tratamento, segundo explica Paulo Nobre, foi desenvolvida com base na experiência da África do Sul, líder em matéria de valorização da água, porque convive com escassez alucinante. “Eles chegam a reutilizar a água oito vezes” — afirma Paulo Nobre.
A produção de água industrial é questão mais técnica do que muitos podem imaginar. Dependendo da finalidade, alteram-se o padrão e as formas de tratamento. O perfil da água que será produzida na estação do Semasa é resultado da compatibilização do uso por parte de um conjunto de indústrias interessadas e cujo volume de produção previsto, quando em plena operação, será de 450 litros por segundo. Já para o Pólo Petroquímico de Capuava, a característica da água industrial deve obedecer a especificidades que determinarão efetiva redução de custos no aproveitamento para caldeirarias e resfriamento.
Takeshi Murakami, gerente de engenharia industrial, e Wilson Vasque, chefe de Utilidades e Manutenção da Eluma, uma das muitas empresas que aderiram ao chamamento do Semasa para dar viabilidade à estação de tratamento, ressaltam a importância do sistema não só pelos valores monetários envolvidos na amenização dos custos com o insumo, mas como peça redutora do desconforto social que a falta de água provoca.
Ajan Marques, do Semasa, sorri e balança a cabeça afirmativamente. O Semasa, com o pioneirismo de uma obra que não tem paralelo na América Latina mas que é símbolo de racionalidade no Japão, Europa e Estados Unidos, inclusive com futura distribuição de água não-potável para residências, postos de gasolina e manutenção de equipamentos públicos, acabará perdendo receitas porque venderá em domicílios e a preços mais baixos volumes distribuídos em unidades fabris. “O atendimento social e a necessidade de reverter o Custo ABC compensam fartamente esse diminuição de receita”– afirma o superintendente.
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