A Petroquímica União, principal empresa do Pólo Petroquímico de São Paulo, vai ser privatizada. Depois de cinco anos de estudo, o Conselho de Administração da Petroquisa (Petrobrás Química S/A), holding que controla a Petroquímica União com 67% do capital votante, decidiu, em reunião realizada no Rio de Janeiro, aprovar a privatização da empresa sediada na divisa de Santo André e Mauá, no ABC Paulista. Centro gerador de matérias- prima do Pólo Petroquímico Paulista, a PQU vai sair da orbita do governo federal para ganhar a flexibilidade operacional e administrativa reclamada pelo presidente Henry Aidar.
O Conselho de Administração da Petroquisa ainda não anunciou oficialmente a mudança na Petroquímica União, mas a informação, exclusiva de “O Estadão” e Jornal da Tarde, foi confirmada ontem à tarde por Henry Aidar com um adendo: os 1.400 funcionários deverão participar da subscrição das ações.
Apesar de ser estatal de performance exemplar, contanto com estrutura funcional enxuta que proporcionou lucro líquido de CZ$ 3,4 bilhões em 1987, resultado direto de invulnerabilidade às injunções político-partidárias comuns nas empresas do governo federal, a Petroquímica União há muito busca a privatização como estratégia para ter maior eficiência e expandir atividades. As amarras da burocracia estatal, segundo o presidente Henry Aidar, são constante desafio para obtenção de melhores resultados. “Somos uma empresa que segue à risca o modelo privado, mas sofremos na carne as dificuldades de sermos tratados de uma forma genérica, como se fossemos administradores ineficientes” - disse o presidente.
A decisão do Conselho Administrativo da Petroquisa, empresa do Grupo Petrobrás, presidido por Osiris Silva e que conta com a participação de outros nove membros, deu-se por unanimidade de votos. Agora, espera-se que seja agilizado o tramite burocrático, que confirmaria a privatização, e que passa pelo Ministério das Minas e Energias, pela Secretaria Especial das Empresas Estatais até chegar às mãos do presidente José Sarney.
Afinal, embora o presidente da PQU, Henry Aidar, afirme desconhecer o assunto, há informações de que a privatização da empresa visa, também, possibilitar a construção de nova unidade no Pólo Petroquímico projetado para o Rio de Janeiro. O domínio tecnológico da empresa, especialmente no setor de etileno, propileno, polímero, butadieno, butenos e etano, seus principais produtos, seria elementar à implantação do pólo carioca.
A privatização da Petroquímica União será cuidadosamente preparada por um alto funcionário da Petroquisa e, apesar do sigilo que vai cercar a operação, o presidente Henry Aidar antecipou ontem que a Petroquisa vai continuar controlando a empresa, reduzindo evidentemente sua participação acionária com direito a voto de 49,9%, contra 69% atuais. O capital votante da Petroquímica União é complementado hoje com 28% de ações ordinárias de posse da Unipar, um grupo privado, e o restante é diluído entre o Banco Mundial e algumas instituições financeiras.
A previsão de Henry Aidar é de que, mesmo mantendo o controle da Petroquímica União S/A, a decisão do Conselho de Administração da Petroquisa, após ser referendada pelo Governo Federal e levada às Bolsas de Valores, deverá provocar uma corrida de empreendedores e investidores dado o conceito de eficiência e rentabilidade conquistado pela empresa. Henry Aidar CTA uma publicação inglesa especializada na área petroquímica - a Chamical Insight – como motivo de uma de suas maiores alegrias à frente da PQU. A revista, depois de analisar as principais 80 empresas mundiais do setor, concedeu à Petroquímica União e à Saudi Basic Industries Corporation o título de melhor desempenho no exercício de 1985.
Este é o resultado direto – segundo Henry Aidar – do cuidado com que a empresa é gerida, expresso nos índices de produtividade que batem recordes a cada ano. Em 1987 a Petroquímica União estabeleceu a produção de 368 toneladas alcançadas em 1982 e que se mantinham então como insuperáveis. Esta performance ganha maior relevância quando se leva em conta que o aumento da produção esta vinculado à produtividade, não a novos investimentos, já que com apenas 2% a mais de nafta, o insumo de etileno, chegou-se a resultado 4% superior. Apesar de todas as dificuldades impostas pelo padrão estatal brasileiro, a Petroquímica União espera aumentar capacidade em até 80 mil toneladas/ano para dar atendimento à demanda reprimida de etileno.
No ano passado a Petroquímica União atingiu faturamento bruto de CZ$ 17,2 bilhões entre produtos, efluentes retornados e serviços prestados (transporte por gasoduto e fornecimento de vapor d’água). As vendas no mercado interno registraram receita de CZ$ 16,6 bilhões, correspondendo a 96,7% do total faturado. As receitas de exportações somaram CZ$ 567,6 milhões, ou 3,3% do faturamento líquido total. A produção da PQU chegou a 1,2 milhão de toneladas entre petroquímicos básico e efluentes para retorno, superando 3% o nível obtido no ano anterior. Também houve acréscimo na geração de petroquímicos nobres, registrando aumento de 5%.
A exemplo de exercícios anteriores, a Petroquímica União operou em 1987 praticamente com recursos próprios. A exceção ficou por conta do financiamento de importações, compulsório nos termos da resolução 767 no Banco Central. A empresa destinou aos cofres públicos exatos CZ$ 5,6 bilhões em tributos e contribuições, isto é, aproximadamente um terço do faturamento bruto e 64% superior ao lucro líquido. Quantia suficiente para a compra de uma frota de oito mil automóveis Chevette 0 km.
A Petroquímica União reconquistou no ano passado os níveis de lucratividade e rentabilidade, contando para isso com o comportamento favorável do mercado petroquímico, da produção e das vendas da empresa, complementado pelo realinhamento dos preços dos produtos, autorizados pelo governo. A margem bruta alcançou 30,1% contra 16,7% do ano de 1986, voltando aos níveis habituais de anos anteriores. A rentabilidade obtida sobre o ativo total e patrimônio líquido indica igualmente recuperação dos níveis anteriores a 1986, com 11,5% e 13,7% respectivamente.
Os CZ$ 3,4 bilhões de lucro líquido da Petroquímica União significam 35% de lucro líquido da gigante Petrobrás e 18% do conglomerado Bradesco. Comparações que entusiasmam os diretores da PQU e sustentam perfil de eficiência da empresa. Eficiência que – garante Henry Aidar – será maior à medida que a Petroquímica União livrar-se do enquadramento estatal, que asfixia as empresas de desempenhos semelhantes, tratando-as como se integrassem a maioria deficitária.
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