O setor comercial do ABC Paulista já não é mais o mesmo. Um misto de deslumbramento e susto modificou essa região de dois milhões de habitantes e o quarto potencial de consumo do País, atrás apenas de São Paulo, Rio e Belo Horizonte. O deslumbramento é da população, depois que, nos últimos meses, se instalaram em Santo André e em São Bernardo do Campo o Mappin Shopping ABC, o ABC Shopping Center e duas lojas do grupo McDonald’s e que, nesta quinta-feira, festejará a inauguração de uma loja Eldorado — um amplo hipermercado e um grande magazine. A constatação de que o ABC deixou o provincianismo no setor é o motivo do susto dos comerciantes tradicionais que acompanham atônitos o esvaziamento de tradicionais pontos comerciais.
Enquanto os novos empreendimentos dão sinais de vitalidade em pleno período de crise, a ponto de a loja Mappin ter desprezado os indicadores econômicos de retração e registrar o faturamento previsto para o período de normalidade, os varejistas mais antigos do ABC Paulista já se mobilizam. Eles buscam alternativas para recuperar consumidores conquistados pelos dois novos centros planejados de compra e pelas sempre disputadíssimas lojas do McDonald’s.
Leonardo Kurcis, coordenador de projetos de expansão do Mappin, não vê motivos para desespero. Experiente, acredita que a deslocação do eixo comercial para novas áreas não provocará evasões insuperáveis nos redutos antigos. Mas não será por preocupação com o futuro de corredores comerciais tradicionais que o Mappin deixará de investir na loja de departamentos e no shopping construído quase na divisa de Santo André e São Bernardo. Pelo contrário: os resultados de vendas (mantidos em segredo) indicam que há demanda reprimida no setor de lazer e recreação. Por isso, dentro de seis meses o centro de compras deverá comportar duas salas de cinema e áreas reservadas para prática de boliche e pista de patinação. Até mesmo sala de teatro integra os planos de expansão.
O Mappin Shopping ABC vai entrar para história do ABC Paulista como o detonador das transformações que já vislumbram. Além de ter despertado investimentos de outros grupos, o Mappin Shopping ABC provocou inesperado aquecimento no setor imobiliário. A tendência à verticalização é pronunciada. O metro quadrado nas regiões próximas ao Mappin, ao Eldorado, ao ABC Shopping Center, saltou de preço. O presidente da Associação Comercial e Industrial de Santo André (Acisa), Tite Girelli, destaca o fato como relevante: “Já que a especulação do mercado financeiro não conseguiu paralisar inteiramente o ABC”.
Girelli é um dos empresários preocupados com estratégias que fortaleçam o setor comercial do ABC. “O Mappin trouxe para cá mais que a consolidação de sua tradição e de sua força de venda, mas a necessidade de os comerciantes locais prepararem-se para a competição”.
Por enquanto, a preparação está apenas na retórica. Comerciantes da Rua Oliveira Lima (o principal corredor comercial de Santo André) da Marechal Deodoro (o pólo comercial convencional mais vigoroso de São Bernardo) e das vizinhas cidades Diadema, Mauá e São Caetano, buscam saídas para a nova concorrência instalada. As vendas caíram perto de 50% em janeiro, segundo dados da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Mauá e da Associação Comercial e Industrial de Diadema. Além da concorrência mais organizada e de maior poder de marketing, pesou sobremaneira no faturamento das empresas a tendência popular de se gastar o mínimo possível nesse período de inflação elevada e poupança rentável.
A intensa campanha de inauguração e de sustentação do Mappin no ABC atrai também grande número de consumidores da Zona Leste da Capital. Pesquisas do próprio Mappin, com base nas chapas de veículos estacionados em suas áreas, indicam que o público-alvo extrapola os 2,5 milhões do ABC. E a perspectiva é de que o comércio planejado do ABC vai atingir outras áreas quando o sistema de trólebus e o anel viário da Grande São Paulo estiverem completos. Foi exatamente por acreditar nessas variantes que a Lopes Consultoria de Imóveis decidiu instalar-se ano passado em São Bernardo, invadindo um território imobiliário até então exclusivo de empresas regionais.
Se o poder de fogo do Mappin Shopping ABC e também do McDonald’s foi capaz de convulsionar o mercado comercial do ABC, a expectativa é de que a partir desta quinta-feira o também poderoso grupo Eldorado colocará a região ainda mais nítida no foco de atração. Se os pequenos e médios comerciantes instalados em corredores convencionais estão perdendo com as novidades, há quem pegue a carona dos empreendimentos para aumentar vendas. É o caso do Center Shop São Bernardo, inaugurado há seis anos numa das extremidades da Avenida Pereira Barreto, a via de ligação entre Santo André e São Bernardo onde o Mappin e o Eldorado estão construídos.
Primeiro centro planejado de compras do ABC, o Center Shop São Bernardo, com 59 lojas, temia pelos novos vizinhos. Tanto que procurou o combate publicitário, anunciando para valer no mesmo período da campanha de inauguração do Mappin. Três meses depois, segundo José Sérgio Medina Braga, administrador contratado pela Norcenco, proprietária do shopping, os resultados dos lojistas entusiasma. Aumentou a frequência de consumidores em pelo menos 30%. “Foi só um susto imaginar que perderíamos com o Mappin. Estamos mais vivos do que antes” – afirma o administrador.
Também o recém-inaugurado ABC Shopping Center, em São Bernardo do Campo, próximo ao Km 18 da Via Anchieta, a mil metros do Center Shop São Bernardo e a dois mil metros do Eldorado, faturam em cima da explosão comercial dos centros planejados de compras no ABC. Os 150 lojistas estão atravessando estes tempos de crise sem acusar as mesmas baixas do comércio convencional. Dois cinemas, pequenas áreas de lazer e lojas bem dispostas e em pleno período de promoções de vendas asseguram movimento intenso, principalmente à noite e aos fins de semana.
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