Podem esconder à vontade: enquanto houver CapitalSocial a sociedade saberá o que acontece nesse Bicho de Sete Cabeças envolvendo mandachuvas e mandachuvinhas de vários setores. O Clube dos Construtores do Grande ABC, sob nova direção há pouco mais de dois anos, confirmou no balanço de venda de imóveis novos verticais do ano passado (e também nos anos anteriores), o quando o ex-presidente da entidade, Milton Bigucci, usou e abusou de pedaladas estatísticas.
Anteriormente, no começo do março, publicamos análise sobre a confirmação de manejos nada republicanos de lançamentos de imóveis em 2017. Estendemos as informações a anos anteriores para reiterar o quanto Milton Bigucci deitou e rolou diante de jornalistas omissos, crédulos, coniventes, seja lá o que for.
Agora desmascaramos o ex-dirigente com dados de vendas de imóveis. Os cromossomos são os mesmos. A sociedade foi ludibriada pelo então presidente do Clube dos Construtores. Tudo denunciado neste espaço durante todo o tempo.
Fugindo da realidade
Lançamentos e vendas são modalidades distintas, mas uma tem tudo a ver com a outra. Quando se brinca de estatística com uma, brinca-se com outra. Bigucci brincou o tempo todo. Como foi denunciado por este jornalista, colocou em campo uma equipe de advogados e recorreu à Justiça. Não contestou os dados, porque não pretendia se incriminar. Preferiu o atalho malicioso da subjetividade. Relatou ao meritíssimo da 3ª Vara Criminal de Santo André que o uso dos verbetes “mequetrefe e chinfrim” atentava contra a entidade. Mais: procurou criminalizar o uso da expressão “Clube”, como me refiro didaticamente à entidade do mercado imobiliário.
Como pegou um magistrado que não entende minúcias de jornalismo, alcançou o que queria. Os crimes cometidos por Milton Bigucci não foram considerados pelo meritíssimo, por mais que este jornalista os enfatizasse durante o massacre na audiência realizada no Fórum de Santo André. Já contei essa odisseia.
Não estou preso porque recorri a tribunais superiores. A imprensa da região se calou ante os malfeitos de Bigucci porque temia maquis que represálias judiciais. A preocupação era outra. Muito menos nobre. Ganhar em parceria com Milton Bigucci é a pior das derrotas para quem leva à sério a função de informar.
O mercado imobiliário é muito mais importante do que a maioria imagina. O sonho da casa própria não pode ser violado com o comprometimento por anos a fio de recursos maliciosamente elevados. E foi isso que se deu durante o período em que o setor encontrou em Milton Bigucci uma alavanca à especulação. Há fartura de provas documentais que o identificam como propagandista do paraíso.
Mas vamos ao que mais interessa. E o que interessa é desnudar mais uma vez a gestão estatisticamente fraudulenta de Milton Bigucci no Clube dos Construtores. Ele cansou de levar à sociedade consumidora de informações números irreais. Com o atual presidente, Marcus Santaguita, tudo mudou. Quem abastece a entidade com dados que revelam a realidade do mercado imobiliário da região é a mesma empresa (Embraesp) que atende há muitos anos o Secovi, o Sindicato da Habitação.
Noticiário descomprometido
Os jornais da região (impressos e digitais) publicaram a informação rarefeita de que no ano passado a região vendeu 2.457 unidades verticais novas, com queda de 9% ante a temporada anterior, de 2016. Esses dados não querem dizer muita coisa. Ou quase nada. Um enfoque mais apropriado, entre muitos que mostram o tamanho da crise na região, seria comparar o quanto a cidade de São Paulo vendeu de imóveis no mesmo período de 12 meses do ano passado. Foram 23.629 unidades, com crescimento de 46% sobre o ano anterior. Esta Província, portanto, vendeu 10,39% do total paulistano.
Quero acentuar a participação relativa da região no universo de vendas de imóveis verticais novos em comparação com a Capital. O então presidente do Clube dos Construtores cansou de vender uma miragem à imprensa local e aos consumidores de informação, Milton Bigucci sempre reiterou que tínhamos participação relativa de 30%. Tínhamos mesmo, mas apenas nas contas viciadas do dirigente que ditava as ordens, inventava dados e os anunciava com ares de sabedoria.
No ano anterior, 2016, já sob o controle ético de Marcus Santaguita, os números relativos começaram a entrar nos eixos. Foram anunciadas 2.962 unidades vendidas, ante 16.170 da Capital. Uma participação relativa de 18,31%. Muito menos que os 30,17% que Milton Bigucci divulgou no começo de 2014 como balanço do ano anterior, 2013, no embate com a Capital: teriam sido 10.054 unidades novas verticais vendidas na região contra 33.319 de São Paulo.
Inventando histórias
Tudo invencionice. Sem qualquer tipo de embasamento, exceto a deliberada intenção de especular, de aquecer artificialmente o mercado imobiliário. Por isso, contamos com uma das maiores reservas de micos imobiliários do País. Há perto de cinco mil salas comerciais à espera de ocupantes, compradores ou locatários. O total de apartamentos nas mesmas condições também é elevadíssimo. Faltam estatísticas oficiais sobre esses dois pontos. Quem conhece a região e ouve fontes do setor sabe que esses números estão ancorados em fatos.
Quem acha que a participação relativa de 30,17% de vendas da região frente à Capital foi o ápice da trambicagem informativa do Clube dos Construtores sob o controle de Milton Bigucci está enganado. No ano seguinte, quando anunciou o balanço de 2014, Bigucci declarou que foram vendidas 6.680 unidades, ante 21.600 na Capital, ou seja, 30,92%. Bigucci mantinha-se coerente à pregação de inverdades. Mantinha os 30% firmemente como âncora regional.
Pressionado pelas críticas publicadas nesta revista digital, Milton Bigucci não se limitou apenas a ingressar no Judiciário contra a liberdade de opinião fundamentada, na tentativa de calar este profissional. Também reduziu a gulodice estatística. Em 2015 o dirigente a MBigucci anunciou que foram vendidos na região 4.939 unidades verticais, ante 20.148 na Capital. A participação relativa emagreceu. Passou a 24,51%.
Foi necessário que saísse diplomaticamente do Clube dos Construtores, após ser denunciado como integrante da Máfia do ISS na Capital, para que a verdade do mercado imobiliário começasse a aparecer. Os 10,41% de participação no ano passado está mais próximo da verdade. As receitas de São Paulo com o ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Intervivos), que regula a temperatura de negócios imobiliários, é nove vezes superior à da região. Ou seja: os alegados 30% de participação regional na venda de imóveis reiteradamente afirmada por Milton Bigucci sempre foram uma ferramenta de enganação.
Troca de presidente
Houvesse por parte do então dirigente do Clube dos Construtores algum cuidado em tratar o mercado imobiliário com ética (e não levasse à entidade os critérios de seu aglomerado de empresas, considerado campeão de abusos contra a clientela em denúncia do Ministério Público do Consumidor de São Bernardo) a empresa especializada que já era contratada pelo Secovi e afiliados no Estado de São Paulo forneceria informações sobre o ambiente do setor na região. Foi preciso a troca de presidente naquela entidade para a seriedade prevalecer.
Em sete de março último analisamos o balanço imobiliário do ano passado na região com base nos lançamentos. Tudo produzido pela Embraesp e divulgado pelo Clube dos Construtores. Apontamos que a cidade de São Paulo contou com o lançamento de 28,7 mil unidades residenciais, volume 48% superior às 19,4 mil unidades de 2016. Na região, segundo a mesma fonte estatística, foram registrados 2.311 lançamentos de imóveis residenciais no ano passado, com crescimento de 23,75% sobre a temporada de 2016. Os 8,50% de participação da região em relação a São Paulo aparecem quando se confrontam os lançamentos da região e os da Capital.
Protecionismo total
O mais lamentável em toda essa situação é que o protecionismo histórico às inverdades e manipulações a Milton Bigucci pela imprensa da região não é um caso específico. Faz parte da regra geral. Há quase que uma aversão à checagem de informações. A imprensa regional, de maneira geral, faz tudo o que pode para, em circunstâncias normais de temperatura e pressão, não mexer em nada que eventualmente possa se tornar vespeiro. Pratica-se jornalismo de relações públicas. Os consumidores de informação que se danem. A corrente para a frente de endeusamento regional deu no que deu: somos uma área economicamente cada vez menos importante na Região Metropolitana de São Paulo, no Estado de São Paulo e no Brasil (há fartura de análises sobre tudo isso nesta publicação), com sequelas compulsórias no campo social.
Quem pretender promover qualquer iniciativa, com a finalidade de reestruturar a economia da região, precisa lidar com essa realidade. A imprensa não pode ser cúmplice de vendedores de ilusão. E tampouco escolher adversários para exercer o papel indispensável de porta-voz da sociedade.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)