Imprensa

Lista dos 60 do Diário tem
até zona de rebaixamento

DANIEL LIMA - 29/03/2018

Possivelmente por confundir Jesus de Notabilidade com Genésio de Notoriedade, acrescentando pitadas de ativismo de ocasião, o Diário do Grande ABC incluiu na relação parcialmente anunciada de 17 dos 60 Destaques o prefeito mais jovem então eleito no País, o primeiro prefeito eleito pelo PT no território nacional e um longevo presidente de entidade de classe. Aarão Teixeira, Gilson Menezes e Valter Moura são furos nágua de um conjunto parcial de nomes anunciados em entrevistas de páginas inteiras pelo jornal mais tradicional da região. A falta de transparência do processo eletivo é a raiz das contradições. 

Parte dos demais destaques já revelados não sofre reparos. Esse grupo não poderia deixar de constar de relação que, independente de aspectos comemorativos específicos, é referência de exemplos a seguir. Outros nomes conhecidos em nichos específicos e com trabalhos que precisariam passar pela curadoria de um colégio eleitoral ampliado, com representantes da sociedade. 

Acho que tenho bagagem suficiente para opinar depois de dirigir por 15 anos seguidos o maior evento regional do País, o Prêmio Desempenho, da revista LivreMercado. Mais de duas centenas de individualidades foram contempladas naquelas festas que fizeram história ao consagrar com rigorosos critérios 1.718 concorrentes coletivos e individuais.  Eis a lista dos primeiros 17 destaques do Diário do Grande ABC: 

 Valdineia Cavalaro, educadora. 

 Gilson Menezes, prefeito de Diadema.

 Laís Elena Aranha, ex-jogadora e técnica de basquetebol.

 Marta Angela Marcondes, meio-ambientalista.

 Manoel Acopiara Moreira Júnior, escritor.

 Dom Pedro Carlos Cipollini, bispo da Diocese de Santo André.

 Antonio José Monte, ex-presidente da Coop.

 Terezinha Sardano, assistencialista.

 Aarão Teixeira, ex-prefeito de Rio Grande da Serra.

 Kátia Carvalho, assistencialista.

 Antonio Carlos Moreno, ex-jogador de voleibol.

 Sonia Varuzza, promotora de eventos.

 Marcelo Gil, ativista de gênero.

 Valter Moura, presidente da Associação Comercial e Industrial de São Bernardo.

 Ariel de Castro Alves, ativista de Direitos de Crianças e Adolescentes.

 Dalila Teles Veras, escritora e ativista cultural. 

 Vanderlei Retondo, consultor e ativista midiático. 

Duas divisões e rebaixamento

Falta ao Diário do Grande ABC nessa empreitada um mínimo de transparência metodológica. O processo de eleição dos destaques jamais foi levado ao conhecimento dos leitores. A iniciativa, por isso, abre campo a idiossincrasias. Aarão Teixeira, Gilson Menezes e Valter Moura não desqualificam a lista parcial já divulgada. Eles não sabotam os demais homenageados, mas constroem certa penumbra sobre o brilho geral. Num colégio eleitoral amplo e diverso, jamais passariam pela depuração que consagraria ainda mais vários dos nomes intocáveis desta lista. 

Tomo a liberdade que o direito de opinião me permite e o conhecimento regional me obriga para formar três grupos distintos entre os até agora 17 nomes divulgados pelo Diário do Grande ABC. Vou dividir os eleitos pelo jornal em três categorias distintas, porque mais que providenciais para estabelecer juízo de valor mais condizente com a realidade histórica dos fatos. Vamos formar agrupamentos de Primeira Divisão, Segunda Divisão e Zona de Rebaixamento, os quais valerão também para os demais a serem anunciados pelo jornal. 

Primeira Divisão – Valdineia Cavalaro, Dom Pedro Carlos Cipollini, Laís Helena Aranha, Antonio José Monte, Terezinha Sardano, Kátia Carvalho, Antonio Carlos Moreno, Marcelo Gil, Ariel de Castro Alves e Dalila Teles Veras. 

Segunda Divisão – Marta Angela Marcondes, Manoel Acopiara Moreira Júnior, Sonia Veruzza e Vanderlei Retondo.

Zona de Rebaixamento – Gilson Menezes, Valter Moura e Aarão Teixeira. 

Representatividade da sociedade 

É impossível e seria hipocrisia omitir diferenças entre a listagem do Diário do Grande ABC e a relação nominal do que consagramos à frente do Prêmio Desempenho como “Imortais do Grande ABC”, que envolveram destaques esportivos, sociais, empresariais, culturais e públicos. 

Desenvolvemos com o Prêmio Desempenho medidas cautelares e também qualificadoras para minimizar o risco de se escolheram nomes menos apropriados. E mesmo assim eventuais desvios seriam inevitáveis. O Conselho Editorial da premiação, o mesmo da revista LivreMercado, chegou a reunir duas centenas e meia de formadores de opinião. Nomes indicados em larga maioria por eles mesmos, os conselheiros. Quando a primeira edição do Prêmio Desempenho foi realizada, em 1994, não chegava a 10 os integrantes do Conselho Editorial. A lista inicial de conselheiros partiu da direção de LivreMercado. Depois deixamos que os próprios participantes chamassem novos representantes. Eram agentes sociais com atuação em várias áreas. 

Com tanta gente no Conselho Editorial nós reduzimos o peso relativo individual das notas atribuídas aos concorrentes em cada categoria. Quanto menor o peso relativo individual, mais a segurança de que eventuais deslizes não pesariam no conjunto da obra. Gilson Menezes Aarão Teixeira e Valter Moura dificilmente passariam pelo escrutínio amplo. 

Costumo dizer que comandava o Prêmio Desempenho o ano inteiro, porque o processo se iniciava logo após o encerramento da edição anterior. Muitos dos nomes indicados às premiações individuais (nas primeiras edições o PDE só contemplava corporações) não constavam de minha admiração, mas isso não queria dizer nada. Afinal, como coordenador-geral da premiação, não tinha um voto sequer a oferecer. Sempre botei fé na autocorreção dos próprios conselheiros. Um empresário muito conhecido pelas peripécias que aponto constantemente concorreu várias edições ao título de Imortal, indicado por conselheiros. Jamais foi eleito, embora até então não houvesse notícia alguma que o desabonasse.  

Auditorias e auto verificações

Se fosse discorrer sobre o Prêmio Desempenho, tomaria todo o espaço deste artigo. Afinal, introduzimos tantas novidades e cuidamos tanto da credibilidade do evento que as explicações se tornariam extensas. Não se chegou à entrega de 1.718 troféus e não se lotaram todos os locais das festas por outra razão que não fosse a certeza de que não havia espaço algum para protecionismos comuns em prêmios análogos. 

Duas empresas de auditoria externa asseguravam a seriedade do evento. Sem contar que todos os conselheiros, indistintamente, eram auditores dos demais. Eles recebiam planilhas com todas as notas e as respectivas identidades codificadas. Bastava checar as notas atribuídas para que exercessem vigilância indispensável. 

Dirigentes políticos jamais participaram diretamente da lista de concorrentes ao Prêmio Desempenho. Não havia espaço para eles tanto quanto não existia para quem exercesse funções no jornalismo. Tudo para que se evitassem preferencias que poderiam dar margem a interpretações maliciosas ou não no terreno da meritocracia. Prefeitos no exercício do mandato ou prefeito fora de mandato, mas com olhares na próxima eleição, poderiam adicionar pitadas de partidarismos que não eram e continuam a não ser recomendáveis. 

Administração Pública 

A decisão de não individualizar premiação a agentes políticos não significava, entretanto, ranço discriminatório. Era apenas uma medida protetiva. Mas o setor público participava do evento com cases administrativos. Criamos uma categoria para tanto. Houve chiadeira. Alguns entendiam que o setor público não deveria ser representado num evento do gênero. Bobagem. Programas públicos provaram que a gestão pública conta com servidores preocupadíssimos com a sociedade. Da mesma forma abrimos espaço para os cases não-governamentais. O título de “Melhor dos Melhores”, que reunia como competidores cases de todos os segmentos da sociedade, chegou a ser comemorado por entidades não-governamentais.

Aarão Teixeira, Gilson Menezes e Valter Moura não estão à altura dos demais nomes anunciados pelo Diário. Tomara que outros não venham a entornar ainda mais o caldo de discernimento. Premiar Gilson Menezes, principalmente Gilson Menezes, é um acinte. A primeira gestão na Prefeitura de Diadema é condenatória em qualquer concurso de horrores administrativos. De Aarão Teixeira têm-se mais folclore que frutos, à frente de Rio Grande da Serra. Valter Moura dirige a Associação Comercial de São Bernardo há quatro décadas. Teve participação importante no Fórum da Cidadania do Grande ABC há mais de 20 anos. A longevidade no cargo e a falta de representatividade da organização que dirige são espécies de causa e consequência.   

Os leitores do Diário do Grande ABC gostariam imensamente de conhecer os conceitos e os critérios da Lista dos 60. Por enquanto não há vestígio algum nesse sentido. Tenho razões de sobra para desconfiar de que se trata de algo feito de improviso, ou, no mínimo, descuidando-se da própria importância dessa relação desdenhada pelas demais mídias.  

Tomara que não apareçam mais políticos na lista. Nem eventual empresário corrupto, evidentemente tão dispensáveis quanto, acreditem, o clérigo de Santo André, cujo trabalho dispensaria a ocupação de uma vaga que pode faltar a quem se faria merecedor. Religiosos e políticos, portanto, não deveriam constar da relação. Por razões diametralmente opostas, de sagrado e de potencialmente profano. 



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