Imprensa

Conselho providencial (II)

DANIEL LIMA - 17/08/2004

É interessante como saltam para o estrelato da defesa de suposta liberdade de imprensa colaboradores de publicações de grande porte que vivem num mundo à parte, longe das redações mas muito perto dos leitores.


Usufruem esses jornalistas especiais de ampla visibilidade e nenhum contrapeso funcional. Muitos deles estão ligados a partidos políticos e contam com benesses de diretores e acionistas, quando não de chefes de redação subservientes.


Aparecem eles geralmente em páginas de artigos como espécies de porta-bandeiras seletivamente pinçadas pelas escolas de samba da ordem delineada pelos esquadrões da morte da diversidade de opinião.


São geralmente figurões que circulam por ambientes faustosos e desfilam todo o garbo da notoriedade sem a contrapartida do empenho estressante dos fechamentos editoriais.


Para essas figurinhas carimbadas, a prática profissional de ocasião, meramente complementar em suas ocupações diárias, é uma benesse. Que se danem os jornalistas com hora marcada para tudo e com a responsabilidade de que o produto que vai às bancas no dia seguinte obedeça rigidamente ao cronograma industrial.


Não faltam entre membros desse grupo de jornalistas, convidados a ocupar espaços nobres, motivações para bajular amigos donos de jornais. A inserção destacada de seus arrazoados lhes abre muitas portas, lhes oferece a generosidade dos áulicos, lhes sustenta o ego.


Principalmente porque dispõem de algo que a maioria dos profissionais de comunicação de verdade, da labuta diária e insana não consegue em meio ao turbilhão de compromissos: eles dispõem de tempo para deleitarem-se em pesquisas para produzir artigos fundamentados em dados. Pena que muitos deles, compromissados com os pressupostos condicionantes do próprio convite, prefiram o jogo de cartas marcadas do alinhamento com os donos da mídia. São generais de uma guerra em que apenas os recrutas-zero correm riscos.


Por essas e por outras que essas estrelas não têm o necessário arcabouço prático para se manifestar sobre o Conselho Federal de Jornalismo em nome dos profissionais de fato. Afinal, eles vivem na estratosfera de uma função social cuja camada de ozônio de credibilidade e isenção geralmente está comprometida pelos favores de ocasião. Não são eles, portanto, porta-vozes de uma classe cujos obstáculos para transmitir informações mais qualificadas superam a imaginação do mais cético dos leitores.


Os jornalistas de ocasião, de horas vagas, mal sabem o que ocorre nas redações desde que donos de mídias resolveram entrar de corpo e alma na modernização tecnológica e imaginaram que cérebros podem ser substituídos por computadores. Como se já não bastasse a formação educacional comprometedora do berço até os bancos de universidades.


A produção de informação é uma atividade em crise que donos de grandes jornais, principalmente, transformam em insumo de dominação empresarial. Não são poucos os proprietários de veículos de comunicação que jogam fora qualquer tentativa de contraditório em nome de interesses nem sempre confessos. A fragilização do jornalismo é uma benção para todos eles. Assim, podem deitar e rolar sobre profissionais já pressionados por excesso de oferta de mão-de-obra e pelo achatamento salarial.


Quando se junta a fome da raquitinização financeira das empresas com a vontade de comer da escassez de qualificação dos jornalistas, as forças externas da sociedade, de governos de plantão, políticos de oposição, lideranças econômicas e sociais deitam e rolam no sequestro das pautas.


Os debates sobre o Conselho Federal de Jornalismo estão marcados pela via de mão única de donos dos grandes veículos que se sentem ameaçados não com a possibilidade de o governo federal introjetar-se no vácuo de dificuldades financeiras e técnicas das empresas, mas com o que pode ocorrer com a classe profissional manietada ao longo dos anos.


A democracia do País corre sérios riscos não porque há no horizonte a possível formação do CFJ. O que nos leva ao risco de violações da ética é o estágio em que se encontra a imprensa no País, presa fácil dos aproveitadores de sempre que, agora, ocupam páginas de revistas e jornais para se dizerem assustados com o projeto de lei enviado pela Federação Nacional dos Jornalistas.


E entre esses oportunistas estão os jornalistas de ocasião. Eles precisariam ocupar a linha de produção dos veículos que frequentam apenas na vitrine dos artigos especiais para conhecer de perto algumas histórias escabrosas de manipulação informativa a partir do topo da hierarquia.


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