Vou utilizar uma linguagem dilmista para tentar explicar por que deixo para amanhã a revelação das razões que me levaram a não explicar hoje o título acima. Não quero explicar hoje, embora pudesse, porque posso fazê-lo amanhã. Entenderam?
Coisa de jornalista que resolve parodiar a ex-presidente da República, adepta natural da filosofia do quanto mais enrolado for o pensamento verbalizado, mais possibilidades se teria para desmentir amanhã o que se disse hoje.
No meu caso específico, a jogadinha dilmista tem outra finalidade: transformar os fatos apurados cuidadosamente em insumos de conscientização de que há algo de grave a ser combatido.
O fato é que o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, avoca para sua Administração, mais precisamente a um programa pífio de potencialização da economia destroçada ao longo dos tempos, uma conquista que é puramente corporativa.
Estou me referindo ao investimento da fábrica de vidros da Wheaton, que acaba de anunciar a compra de uma unidade na Capital e, por conta disso, vai transferir a produção para São Bernardo. A medida não tem nenhuma aderência ao plano de incentivos lançado pela Administração Orlando Morando, que concede descontos do IPTU a empresas que gerarem empregos formais na cidade. É claro que Morando não perderia a oportunidade de avocar para si algo complemente fora do controle estratégico da Prefeitura. Se a maioria da Imprensa compra essa lorota, problema dos avalistas.
Futuro econômico
Como não quero revelar hoje as razões que me levam a afirmar peremptoriamente que o prefeito Orlando Morando é um grande marqueteiro cujos passos para quem conhece a economia da região não passam de andar cambaleante de alguém que busca fôlego para se manter nas manchetes, nada escreveria substancialmente sobre o assunto hoje.
Sei que a frase anterior ficou compridíssima, que é preciso retomar a leitura para compreender o que pretendi dizer. Tudo de propósito. Quero mesmo que os leitores queimem as pestanas, porque só assim terei certeza de que o assunto lhes interessa.
Que assunto? O futuro econômico da região cuja trajetória não pode depender de um prefeito falastrão. Sim, Orlando Morando tem o péssimo hábito de acreditar que todos lhe darão credibilidade quanto desfilar motivos que supostamente explicariam determinadas situações no campo econômico.
Muito mal assessorado nessa área, até porque o secretário de Desenvolvimento Econômico jamais trafegou pela estrada que agora representa, Orlando Morando faz das tripas coração para vender uma imagem de realizador.
Passivo que só cresce
Pode ser que até o seja ou venha a ser em outras searas. Na economia carregará para sempre, até prova em contrário, a fama mais que merecida de destruidor do que restava da regionalidade na área, à frente do Clube dos Prefeitos e também como detonador da bomba que tirou a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC da hierarquia de eventual reestruturação regional.
Tenho relacionamento cordial e respeitoso com Orlando Morando nos raros encontros casuais. Só estive uma vez no Paço de Bernardo, quando ele me entregou pessoalmente as respostas da pior “Entrevista Especial” que LivreMercado e CapitalSocial já publicaram em 30 anos. Lamento muito que não possa ocupar este espaço para reverenciar os 16 meses de gestão da Capital Econômico da região.
Desconfio tremendamente de tudo que Morando declara à imprensa. Vejo-o como um produto modesto em busca de uma embalagem extraordinária. Ainda há muita jornada pela frente, independentemente das complexas possibilidades de reeleger-se. Tanto o ex-prefeito por duas gestões Luiz Marinho quanto o deputado federal Alex Manente estão nos seus calcanhares.
Como escrevi outro dia, a votação de Luiz Marinho em São Bernardo na corrida já perdida rumo ao Palácio dos Bandeirantes pode traduzir muita coisa. Principalmente revelar o tamanho do cacife do petista após o dilúvio seletivo nas eleições municipais de 2016.
Dados comparativos
Mas, voltando ao que interesse, Orlando Morando transformou os dados de saldo de empregos formais em São Bernardo como o principal mote em defesa de políticas de Desenvolvimento Econômico. Uma esperteza e tanto ao simplificar uma questão mais que complexa. Conta, para tanto, com a tendência nacional de recuperação de postos de trabalho após três anos de recessão. Talvez não estivessem em seu horizonte, entretanto, dados comparativos que, por obrigação de ofício, não deixarei de mostrar neste espaço. Dados comparativos significam identificar até que ponto São Bernardo se distinguiria de concorrentes locais e estaduais no saldo de empregos formais, separadas as devidas especificidades produtivas.
Então, ficamos assim, à moda Dilma Rousseff: não revelarei agora os motivos que me levaram a identificar mais uma vez a oratória desenvolvimentista de Orlando Morando como blefe porque se posso deixar para amanhã o que poderia fazer hoje, por que esquentar minha cabeça? Que outros esquentem.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)