Imprensa

Nova série vai mostrar melhor
jornalismo regional do Brasil

DANIEL LIMA - 03/05/2018

Quem acompanha o jornalismo regional (que exclui as grandes capitais, somente as grandes capitais do Sudeste) sabe que existe uma diferença abissal entre o conceito de maior e a constatação do melhor. A revista LivreMercado, que criei no começo de 1990, logo após o Plano Collor, teve descontinuidade física em dezembro de 2008. Em janeiro de 2009 ganhou mais robustez uma publicação digital que já tinha atuando em paralelo com LivreMercado. CapitalSocial é o somatório das duas publicações (ou o multiplicatório, segundo o dialeto de Odorico Paraguaçu). Nada melhor, portanto, que tratar de CapitalSocial e de LivreMercado em nova série. 

Uma série que vai durar um bocado de tempo. Afinal, são quase 30 anos de jornada em que a regionalidade virou mantra em permanente conflito com os bandidos sociais que tomaram conta da região.  

Afinal, são 5. 697 artigos publicados até agora. Esse número não é definitivo. Teremos muito chão editorial pela frente. Também não entram nessa contabilidade algumas centenas de mátrias publicadas no período de quase duas décadas de Livre Mercado, as quais resgato metodicamente. Nem 40% do total à disposição dos leitores de CapitalSocial. E olhem que não considero textos de perfiz de organizações privadas, os cases na linguagem jornalística, um dos alicerces editorias de LivreMercado e base do Prêmio Desempenho na categoria empresarial. Uma premiação disputadíssima durante uma década e meia. 

Transfusão incompleta  

Estamos transferindo gradualmente às páginas digitais de CapitalSocial somente parte dos textos mais relevantes no aspecto de cidadania, de economia, de regionalismo, de comportamento. 

Grande nomes do jornalismo regional passaram por LivreMercado. Vários novos talentos também. Todos os trabalhos serão catapultados à nova série. Também vamos incluir texto que produzi para outras publicações, casos do Estadão, do Jornal da Tarde e do Diário do Grande ABC. Além da Agência Estado, que distribuía os insumos a uma imensidão de veículos de comunicação do País. Tudo isso integra o acervo de CapitalSocial. 

Melhor jornalismo significa ir muito além da reprodução de declarações de terceiros, prática que prevalece no jornalismo regional brasileiro feito, na maioria dos casos, sob medida aos mandachuvas e mandachuvinhas locais. 

Jornalismo declaratório

O jornalismo declaratório não contribui com muita coisa quando se pretende mudar o estado de insolvência informativa. Se já o era atrasado no passado, imaginem agora com as redes sociais tumultuando o ambiente da comunicação. Tumultuando em todos os sentidos, inclusive no bom sentido de questionar jornalismos declaratórios de conveniência, quando não de cumplicidade. 

O jornalismo declaratório carrega também o vírus da ineficiência quando se procura dar nova dimensão e profundidade aos anseios da sociedade. Charlatães não faltam nas praças. Eles enfiam goela abaixo dos leitores mentiras adocicadas e meias verdades. 

Mais que isso: o jornalismo declaratório pode incidir numa prática comodista e deletéria de manter tudo como está. E quanto mantém tudo como está a lógica é de que vai piorar relativamente a outras geografias. 

Desindustrialização prova

Chegamos a esse ponto de desfiladeiro claramente na área econômica. Somente agora, depois de anos e anos de batalha, começam a ser admitidos os dramas da desindustrialização. Até recentemente, CapitalSocial seguida isolada na sustentação de constatações de LivreMercado de que a região viveu catástrofe econômica, principalmente nos anos 1990. Nada que tenha se resolvido neste século. A quebra de mobilidade social está aí escancarada. 

O jornalismo entregue docilmente às forças de pressão praticado na Província do Grande ABC e na quase totalidade das regiões brasileiras homenageia Pilatos. O jornalismo que praticamos e com o qual conduzimos LivreMercado por duas décadas, e esta CapitalSocial por quase novos 10 anos, é o jornalismo comprometido com conceitos, ideias, propostas e, principalmente, cidadania. Mesmo que a cidadania seja rarefeita na região. Sobramos ante a realidade dos fatos, na maioria das vezes atirada à escanteio. 

Quem confunde maior com melhor puxa a sardinha para a própria brasa de deficiências na interpretação da vida nesta região. O conceito de maior, de mais antigo, de mais tradicional, de mais isso ou aquilo quando se refere à cronologia jornalística, muitas vezes é o cadafalso do reformismo. O envelhecimento editorial é algo como uma musculatura inativa, entregue à própria sorte. 

Província merecidíssima

A troca de Grande ABC por Província do Grande ABC possivelmente expresse o inconformismo deste jornalista à frente de LivreMercado e de CapitalSocial. Mas não há expressão mais rigorosamente poderosa e sintetizadora da realidade histórica da região do que o Complexo de Gata Borralheira. 

A periferia geográfica com fundos efeitos culturais da região em relação à pujante Capital do Estado é um estado de alma em forma de metástase. Deixamos isso bem claro durante os longos anos de LivreMercado e de CapitalSocial. Os breves períodos de exceção só confirmam a regra. 

Pobres daqueles que, inebriados pelas facilidades das redes sociais, se imaginam sabedores do chão em que pisam. As lições do passado não foram absorvidas pela maioria da população da região. Ainda há quem acredite, por exemplo, que o sindicalismo só correspondeu às expectativas positivas. Ou quem entenda exatamente o contrário, que o sindicalismo é um mal sem perdão. Estamos cansados de provar que o sindicalismo idolatrado e o sindicalismo odiado estão distantes de justificativas tanto de um lado quanto de outro das torcidas organizadas. 

Mentiras adocicadas 

Esse é apenas um dos muitos entreveros que demarcam a sociedade regional cantada em prosa e verso como ponta da lança de nacional de politização madura. Pura bobagem de estranhos ao ninho regional. Na maioria dos casos eles só querem ser simpáticos aos atribuírem qualidades que não temos. Ou são completamente ignorantes. E os nativos repetem outros nativos que não resistem ao canto da sereia de galanteadoras oportunistas ou estúpidos. 

LivreMercado e CapitalSocial estão na história do jornalismo regional brasileiro como veículos que se antepuseram ao oba-oba que permeia os meios de comunicação longe das grandes capitais. Não que essa trajetória tenha interditado movimentos positivistas. O apoio ao Fórum da Cidadania até que as primeiras fissuras começaram a aparecer é prova de que nos engajamos em iniciativas progressistas e reformistas. Mas não nos amarramos a ponto de ignorar desarranjos. 

A sensibilidade editorial de LivreMercado, seguida por CapitalSocial de forma mais autoral, e, portanto, menos coletiva no sentido de multiplicidade de autores de textos jornalísticos, não se furtou a acompanhar possíveis golpes no atraso que insistia e insiste em dominar nossas entranhas culturais. Pena que na maioria das vezes, principalmente LivreMercado, errou ao observar a cena regional com otimismo.

Fórum da Cidadania 

Foi assim até determinado ponto com o Fórum da Cidadania, de novo como exemplo. E vários outros. Mas nada que comprometesse a linha mestra editorial, moldada a atuar de forma rigidamente crítica nas questões sociais e econômicas, porque uma coisa está ligadíssima à outra. Nossos estudos e análises sobre a desindustrialização da região são imortais. Na mesma dimensão de a falta de estudos e de análises sobre o mesmo assunto, de outros jornais, é o retrato do descaso informativo e analítico. O jornalismo ao sabor dos interesses do momento jamais permeou a trajetória de LivreMercado e CapitalSocial. 

Vamos começar essa nova série, na edição de amanhã, com a Editoria de Economia. Vamos poder mostrar aos leitores que, dependente de LivreMercado e de CapitalSocial, a Província do Grande ABC seria totalmente diferente das almas vivas que a conduzem. O estado atual de governabilidade e governança regional é lastimável. Muito pior que no século anterior. Até então dominava a cena regional uma expectativa de potenciais mudanças. 

Hoje, e esse hoje vem desde o começo deste século, o que temos nas praças regionais é um amontoado de protagonistas do caos. O oportunismo político e corporativo centraliza atenção de gente que não tem horizonte sequer próximo, exceto o egocentrismo político em busca de estrelato a qualquer custo. 

Uma raia única 

Como jornalista que entende a função como sacerdócio, como algo que transcende interesses pessoais e corporativos, não é fácil chegar à constatação de que LivreMercado e CapitalSocial estão numa raia única em matéria de continua responsabilidade social.

A captura dos veículos de informação da região (situação comum no Brasil de regionalidades que não se sustentam) por forças de pressão externas às redações é o lugar-comum que, ao ser negado, transforma tragédia em comédia pastelão. Os gritos de alforria de editoriais soam falsos, porque despidos de sensibilidade história e de provas práticas. Situação que mostraremos na próxima semana com um breve manual de gataborralheirismo regional. Os apequenamentos culturais da região passam obrigatoriamente pelos veículos de comunicação.

Um exemplo? Quando se dá a corda a uma aberração desfilada pelo então governador Geraldo Alckmin, a aberração de que São Bernardo conta com “a melhor esquina do País”, após a entrega do trecho sul do Rodoanel, o que a mídia local sacramenta é burrica homérica. Uma burrice comprovada por inúmeros estudos econômicos de CapitalSocial. 

Inconformismo e desconfiança 

Aliás, “por falar em inúmeros estudos econômicos de CapitalSocial”, os leitores já leram ou ouviram falar de algo semelhante em se tratando de outras publicações da região, exceto LivreMercado, antecessora de CapitalSocial? É tradição alimentada durante anos por LivreMercado e mantida, quando não aperfeiçoada por CapitalSocial, ir muito além de informações de especialistas, sobretudo na área econômica. Produzimos jornalismo em que o inconformismo e a desconfiança formam parcerias indestrutíveis.

Afinal, não foi também assim que destruíamos as mentiras estatísticas do Clube dos Construtores do Grande ABC, então chefiado pelo empresário Milton Bigucci? Ele desfilava a cada três meses números irreais, turbinados, para embalar o mercado imobiliário especulativo. Tudo invencionice que, finalmente, foi desativada pelo sucessor. Mas que causou sérios danos aos compradores de imóveis, ludibriados por informações fraudulentas. Bigucci transformou o Clube dos Construtores em algo chinfrim, mequetrefe. 

Enquanto isso, as demais mídias da região noticiavam as declarações do dirigente como verdade absoluta. E é assim como tantas outras fontes eticamente pouco escrupulosas. 

Acervo múltiplo

Esta nova série de CapitalSocial sucede “10 motivos de indignação com a condenação de jornalista”, cujo conteúdo de sugestão à leitura iniciou-se em 2009, na fase exclusiva desta publicação. A nova série vai contemplar todo o período de CapitalSocial, mas também da antecessora LivreMercado.

Teremos, portanto, textos de vários autores, além deste jornalista. Vão desfilar matérias de Malu Marcoccia, Vera Guazzelli, Carla Fornazieri, Tuga Martins, André Marcel de Lima, Rafael Guelta, Valter Venturini, Fernando Bela, Maurício Milani e outros que me fogem à memória. Eles atuam durante muito tempo na revista LivreMercado. 

Durante duas décadas quase completas os profissionais de redação e de suporte técnico da redação atuaram de forma integrada. O sincronismo era uma das marcas registradas de LivreMercado, quer na estrutura de profissionais que alimentavam a linha de produção, quer no conceito de fazer de cada edição a continuidade da edição anterior. 

Desafio aos leitores 

Reproduzir a cada dia nestas páginas uma pequena parcela das matérias disponíveis no site é uma forma de desafiar leitores que eventualmente questionam a garantia de que produzimos a melhor publicação regional do País desde 1990. 

Num linguajar simples, reto e direto, afirmo que não tem para ninguém o que os leitores encontrarão nestas páginas digitais. Absolutamente para ninguém. Tenho orgulho de dizer que não existe mesmo em qualquer praça regional (procurem, procurem) nada que se assemelhe às quase três décadas de LivreMercado-CapitalSocial. 

Aliamos à qualidade dos textos que contaram o comportamento regional nesse período, a ousadia de pautas que romperam os grilhões de mandachuvas e mandachuvinhas interessadíssimos em esconder a verdade sob o manto de um triunfalismo irresponsável, improdutivo e servil, além de vadio. Aguardem para conferir. 



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