Imprensa

Caçapa cantada

DANIEL LIMA - 26/06/2007

Está na edição desta semana de Carta Capital, revista semanal comandada pelo jornalista Mino Carta, uma caçapa cantada publicamente por mim e provavelmente intramuros por atentos jornalistas e leitores.


A substancialidade da informação é que a postura anti-Lula na cobertura eleitoral do ano passado está respaldada por estudo científico, como poderia ser rotulado o recém-concluído trabalho sobre a atuação dos principais jornais brasileiros nas duas últimas eleições presidenciais.


O trabalho do Doxa, Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública, vinculado ao Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) tem, como diz a matéria, a finalidade de investigar processos eleitorais e de formação de opinião pública.


Fiquemos apenas nas eleições do ano passado. Os gráficos preparados por Carta Capital para racionalizar o estudo sintetizado numa matéria elucidativa mostra a condescendência com que os grandes jornais, principalmente o Estadão, trataram a candidatura Geraldo Alckmin e o quanto foram rigorosos com Lula da Silva.


Comparam-se naqueles gráficos tanto a parcialidade dos jornais em espaços de informação quanto em espaços de opinião. Os números de Lula da Silva são piores na medida em que deixam as páginas dos noticiários e vão para os editoriais e páginas de colaboradores. No Estadão, então, é uma barbaridade. Nada mais natural, porque o jornal paulistano lançou mão quase que exclusivamente unilateral de um batalhão de colaboradores de lustro acadêmico, social e econômico para desancar a primeira gestão de Lula da Silva e, num esforço tão estúpido quanto inútil, de tentar levar o antecessor Fernando Henrique Cardoso à consagração. Uma luta inglória, como se sabe.


O problema não é um ou mais jornais postarem-se contra determinado candidato ou presidente. Muito pelo contrário: fosse este um País em que as opiniões não precisassem passar por controle de audiência para adaptarem-se aos leitores, ouvintes ou telespectadores, o Estadão não assumiria dupla face, como tantos outros jornais. O invólucro vende a imparcialidade, a independência, a grandeza d’alma jornalística; o conteúdo, entretanto, destila toda a fúria contra um concorrente ou um eleito que não lhe satisfaça interesses, sejam quais forem os interesses. Falta coragem típica do jornalismo do Primeiro Mundo de afirmar que veste determinada camisa. Afinal, não convém fechar as portas diante de eventual derrota do preferido da casa.


Resumo da ópera ética do jornalismo brasileiro: vive-se ambiente de “engana que eu gosto” sem que vozes se levantem contra a hipocrisia institucionalizada.


O retrato falado da desfaçatez com que o Estadão trata os leitores quando o assunto é política está no conflito de avaliação reproduzido por Carta Capital. Ouvido por aquela reportagem, o editor de opinião, Antônio Carlos Pereira, explicou que o jornal tem sérias restrições ao governo Lula; “Evidentemente, não aplaudimos o governo, também não poderíamos aplaudir a reeleição”. Enquanto isso, acima do editor de opinião na hierarquia corporativa, o diretor de conteúdo do Grupo Estado, Ricardo Gandour, afirmou que não trabalhava na empresa no período das eleições de 2006, e completou: “É natural que o candidato à reeleição seja objeto de mais críticas à medida que está no poder”.


Uma desculpa esfarrapada, como se vê, porque Geraldo Alckmin atuou seis anos como governador do Estado mais importante do País onde, como se sabe, fez administração que oscilou entre a incipiência administrativa e o charlatanismo publicitário que colocaram São Paulo mais distante do crescimento médio dos Estados brasileiros.


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