Imprensa

Tragédia politizada

DANIEL LIMA - 24/07/2007

Li absolutamente tudo que o Estadão e a Folha de S. Paulo publicaram sobre a queda do avião da TAM em Congonhas.


Depois das estripulias da mídia no caso Celso Daniel, ocorrência que acompanhei de perto e vi o quanto foi estuprada ao sabor de conveniências políticas inclusive daqueles dois jornais, decidi que só me manifesto sobre assuntos polêmicos depois de muito ler e ouvir. E mesmo assim com cautela.


Não confio nos jornais, nas emissoras de rádio e de televisão. Tampouco nas revistas. Menos ainda nos sites. Aliás, não é apenas este jornalista que duvida do jornalismo verde-e-amarelo. Uma pesquisa que a revista CartaCapital acaba de publicar garante que o presidente Lula da Silva tem mais credibilidade que a mídia, principalmente nas classes mais populares.


Os mais escolarizados ouvidos pelo Instituto Vox Populi confiam mais na Imprensa do que estratos educacionais menos privilegiados. Em ambos os casos, tanto do presidente quanto da Imprensa, os índices de confiabilidade são discretíssimos: 39% dos pesquisados disseram acreditar mais no presidente e 35% mais no noticiário da Imprensa. Os demais 27% se declararam sem opinião formada a respeito.


É do confronto do noticiário impresso e eletrônico que retiro conclusões precárias sobre o acidente da TAM. Não o faria nem mesmo preliminarmente se não contasse com a possibilidade de cruzar informações.


Certo mesmo é que há histórica combinação de fatores, de irregularidades, de negligências e de jeitinhos tipicamente brasileiros que se entrecruzam para explicar a desgraça. É difícil encontrar inocentes no vôo 3054, exceto as próprias vítimas.


Nada muito diferente do que ocorreu 11 anos antes, no mesmo Congonhas, com um outro avião da TAM, com metade das vítimas fatais deste.


Mas esse não é o núcleo deste artigo. Queria dizer que a cobertura jornalística da Folha de S. Paulo dá de goleada no tratamento do Estadão. Diferentemente do caso Celso Daniel, a Folha não estabeleceu juízo de valor sob o jugo da politização partidária à qual se entregou o jornalão paulistano. O próprio enunciado do Estadão, “A tragédia anunciada”, cava profundo fosso subliminar de crítica ao governo federal. As matérias foram direcionadas a tipificar e a cristalizar culpabilidade concentradora em instâncias federais. Diferentemente da Folha que não só ouviu outros lados como lhes deu tratamento editorial e gráfico de destaque, como manda o jornalismo isento. Para os leitores do Estadão, o governo federal é o único responsável pela tragédia. Para os leitores da Folha, os responsáveis são muitos, principalmente a TAM esfomeada de receitas, como todas as companhias aéreas.


Os truques editoriais do Estadão são tão antigos quanto desgastados porque colocam interesses corporativos e ideológicos acima de qualquer outro objetivo. Os editoriais e os convidados a ocupar espaços de opinião são geralmente os mesmos de sempre, com os vieses de sempre, com a malandragem semântica de sempre.


A Folha é diferente, mais criativa, mais plural, mesmo que aqui ou ali tropece e caia do alto da proclamada magnitude de imparcialidade.


Os desequilíbrios do caso Celso Daniel devem ser catalogados como efeito-cascata de um processo aterrorizador de manipulações explícitas e de subserviências às fontes de informações que permaneceram soltas para destilar versões furadas, enquanto os condutores das investigações foram silenciados pelo governo do Estado. O caso TAM não oferece barreiras de informação, exceto para quem como o Estadão prefere adernar à direita.


Poderia discorrer alguns metros de exemplos da arrogância da cobertura do Estadão no caso do avião da TAM, porque acondicionei em meus arquivos todas as páginas impressas de pegadinhas, mas não vou me dar a esse trabalho. O que posso é sugerir que os leitores minimamente interessados em formar opinião não se deixem levar por traquinagens editoriais. Desconfie sempre.


Faço esse desabafo porque o Estadão precisa saber que ainda há quem leia jornal com senso crítico e não aceita terrorismo disfarçado de liberdade de expressão.


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