A frequência com que produzia a newsletter interna (Capital Digital Online) para manter a corporação do Diário do Grande ABC motivada e integrada ao Planejamento Estratégico Editorial não poderia ser diferente: o intervalo de no máximo uma semana era rigorosamente obedecido. Geralmente produzia o material em meu escritório residencial. Precisava de certo isolamento para levar adiante os pontos de observações que anotava a cada dia no fronte. Leiam a edição de 16 de agosto.
Newsletter número seis
Uma semana depois, estamos de volta com mais uma edição desta newsletter especialmente preparada para os colaboradores, acionistas e diretores do Grupo Diário. Temos uma porção de assuntos para dar tratos à bola. É provável que nem tudo esteja aqui, mas temos certeza de que os pontos principais ocuparão os espaços que se seguem.
Lembramos a todos que não desgrudamos os olhos, a atenção e a preocupação com os pressupostos do Planejamento Estratégico Editorial que elaboramos em março e que passamos a aplicar efetivamente desde 21 de julho, quando assumimos a responsabilidade de compartilhar os destinos dos insumos editoriais do Grupo Diário. Trata-se de uma tarefa extraordinariamente importante.
Pautar, não ser pautado (I)
Temos insistido muito na importância de a redação pautar e de não ser pautada. Infelizmente, sofremos recaídas lamentáveis ao longo da semana. Principalmente na Política e na Economia. Apesar de tudo, considero a enfermidade curável com o repasse contínuo de conceitos. Precisamos de agregado de conhecimento mais sólido em todas as editorias para impedir que os manipuladores de informações tomem conta da redação, como ocorreu durante muitos anos. Temos dialogado frequentemente com editores a respeito do assunto e voltaremos a fazê-lo. Contarei com os profissionais da secretaria para adensar a conceituação-eixo que moverá nossos passos.
Pautar, não ser pautado (II)
Já disse que valemos o que escrevemos. Se damos destaque a determinado assunto que interessa mais de perto a um grupo específico, sinal de que usamos metralhadora para matar uma mosca. Entendo que é difícil romper com a tradição de abertura total e irrestrita das comportas do jornal a grupos de pressão, entregando-lhes a alma, o coração e a sensibilidade jornalísticas. Mas esses tempos acabaram, podem acreditar. Devagar, devagar, vamos colocar muita gente no eixo. Gente que estava acostumada a mandar na redação, enviando emissários que desfilavam versões estapafúrdias que o jornal repassava impunemente aos leitores. Agora somos nós que vamos brincar de rato e gato. Temos de ancorar os acontecimentos e as tendências na região. Não podemos perder a percepção de que nosso veículo é muito mais importante do que imaginamos.
Novo reforço
Finalmente contaremos a partir de hoje com novo reforço no jornal. A chegada de Marcelo Moreira, ex-Gazeta Mercantil, soma-se à de Eduardo Reina, ex-Diário de São Paulo, como forças de Secretaria. Marcelo e Eduardo se juntam ao Sasaki, ao Paulo Carneiro e ao Milani como linhas de frente da cúpula de redação. A eles delegarei maiores recomendações sobre a forma mais conveniente de atuar em busca de um produto melhor.
Nova social
Um novo desenho do Informediário deverá ser publicado a partir desta terça-feira. A coluna ganhou o reforço de Carla Fornazieri, da Editora Livre Mercado, que passou a ocupar áreas temáticas que o jornal cobria muito mal. Acredito que Cristie e Carla formarão uma grande dupla. Pretendo deslocar Informediário da editoria de Cultura & Lazer para a Secretaria. Vamos conversar a respeito do assunto hoje.
Fim da burocracia
Marcelo Moreira e Eduardo Reina chegam com várias missões. Entre as quais menciono a necessidade de desburocratizarem a operação do jornal. Escrevo no Planejamento Estratégico Editorial a respeito do assunto. Os editores do jornal precisam e devem escrever. Não é possível que grande parte deles não consiga aparecer nas páginas do jornal. Vamos retirar-lhes as funções de paginadores e colocá-los na linha de frente.
Banco de horas (I)
Sem apresentar detalhes da proposta à diretoria e acionistas da empresa -- antecipei apenas que pretendia ajudar a desenrolar o novelo criado por um estúpido que criou o banco de horas no modelo que o jornal apresenta --, sugeri uma margem de negociação aos representantes dos jornalistas desta empresa. Espero que o bom senso prevaleça. A situação financeira do Diário não é das melhores, como se sabe. Estou conseguindo negociar a não-demissão de profissionais da redação. Pedi e consegui tempo da diretoria para analisar o grupo. Acredito que o jornal precisaria, sim, reforçar a equipe de redação, mas essa é, ainda, uma posição precária. Acho que o jornal está esfacelado sob o ponto de vista estrutural de redação e só será possível melhorar com muita eficiência, cuidado, empenho e determinação. E sem o banco de horas.
Banco de horas (II)
Pretendo receber no próximo dia 22 o balanço dos meus primeiros 30 dias como diretor de redação. Preciso dos números sobre o comportamento do banco de horas entre 21 de julho e 21 de agosto, período que completa meu primeiro mês na empresa. Quero especificamente os números do banco de horas comparados com o período de três meses anteriores. Precisamos de dados referenciais para consubstanciar ações. Espero que os editores estejam praticando o que lhes recomendei em reuniões: façam a gestão do produto que está sob sua jurisdição. Isso significa não só o controle de insumos produzidos como também o tempo despendido individual e coletivamente pelos colaboradores. Precisamos de paradigmas de empreendedorismo interno para dar efetivas respostas aos desafios. O banco de horas é um bumerangue que, se não resolvido, vai fazer muitas vítimas na redação. É uma questão lógica sobre o ponto de vista empresarial porque avoluma-se terrivelmente o passivo nesse quesito.
Conselho de Jornalistas
Vou reproduzir numa edição específica desta newsletter, hoje, o artigo assinado por Mino Carta, de CartaCapital, sobre o Conselho Federal de Jornalismo. Com outras palavras e exemplos, o decano da imprensa brasileira escreve exatamente na mesma linha deste jornalista, cujas idéias preliminares foram impressas no "Contexto" de domingo. O fato é que precisamos, como classe, contar com muito mais proteção contra os malversadores de informações e de interesses. E isso só será possível com um Conselho Regional de Jornalismo democraticamente representado por jornalistas de diferentes veículos de comunicação. Abaixo os aproveitadores hierárquicos que mandam e desmandam em redações por esse Brasil afora, diante de uma classe jornalística omissa, quando não covarde.
Diário Online (I)
Falei rapidamente na sexta-feira com José Carlos Serrão, do Diário Online. Fiz ver-lhe, sem rodeios, que, até prova em contrário, o produto está superestimado em custos, comparativamente aos valores de receita. Mas que isso não significa, necessariamente, que os cortes devem ser profundos. O próprio Serrão admite que há possibilidade de redução de custos. O fato é que há determinação diretiva de melhoria de rendimento da empresa e nesse sentido o Diário Online, entre outros produtos, estaria na linha de corte. Dois especialistas em internet estarão nesta segunda-feira na empresa, a meu pedido, para avaliar o Diario Online sob vários aspectos. Ficaria muito feliz se a empresa conseguisse superar as dificuldades e tornar o produto virtual tão bom quanto sustentável.
Diário Online (II)
A avaliação preliminar que fiz sobre os custos do Diário Online leva em conta comparativos com editorias do jornal. É possível que chegará o dia em que o jornalismo virtual superará o jornalismo impresso, mas creio, também, que há muito tempo se construíram algumas alegorias fantasiosas a respeito do assunto. Debate-se muito sobre audiência, mas quando se confronta a necessidade de geração de recursos testados e aprovados pelo critério de consulta às páginas, os idólatras da internet ficam reticentes. Sou francamente favorável ao uso intensivo do campo virtual -- por isso criei Capital Social Online há quatro anos e uso este novo ferramental para me comunicar com a companhia --, mas não posso me tornar tiete irresponsável de algo que, por razões diversas, no caso do Diário Online, não só não se sustenta como canibaliza o jornal de papel. O Serrão me parece profissional sério e comprometido com resultados. Tomara que a empresa consiga superar as dificuldades financeiras sem precisar recorrer a medidas drásticas. A animosidade entre a redação do jornal de papel e o jornal eletrônico será superada sem problemas. Creio muito nisso, mas para tanto é preciso se respeitar limites editoriais.
Folgas na companhia
Sugiro aos editores que evitem gozar de folga às sextas-feiras. Como se sabe, o fechamento de sexta-feira tem grande influência sobre a edição de sábado, de domingo e de segunda-feira. Folgar na sexta-feira significa, entre outras questões, entregar a editoria a profissional que, por melhor que seja, não conduz o dia-a-dia do setor. Esticar o final de semana com a folga de sexta-feira é uma ótima alternativa para quem precisa descansar, mas não é a melhor das pedidas para quem quer fazer um jornal interessante.
Novos horizontes
A manchete de domingo do nosso jornal pode ter decepcionado alguns políticos que sempre fizeram mau uso de nossas páginas, mas mostra aos leitores o quanto temos nossa liberdade editorial reconquistada. Aqueles que imaginam que o Diário se submeterá às conveniências de plantonistas de tutela vão quebrar a cara. Não temos compromissos com ninguém e contamos com retaguarda acionária que nos assegura a execução de nosso projeto de potencialização do jornal. Seremos cada vez mais respeitados como publicação na medida em que não nos submetamos a injunções de qualquer espécie. Não faltam detratores a espionar nossas atividades porque eles imaginam que reproduziremos tempos nada gloriosos. Vão cair todos do cavalo. Poderemos errar, cometer deslizes, mas jamais sob o jugo de tiranos de plantão.
Questão de qualidade
Sonho com o dia em que o jornal terá a mesma qualidade, a mesma acuidade, a mesma precisão analítica da revista LIVRE MERCADO. Estamos utilizando alguns dos profissionais daquela publicação justamente porque precisamos ter alguns espelhos de qualificação. Sei perfeitamente o quanto a redação do jornal sofreu ao longo dos tempos e o quanto foi submetida a exercícios arbitrários, por isso a recomposição será gradual e sistemática. Nada mais interessante, portanto, que os leitores possam ser brindados com eventuais incursões de profissionais da revista. Temos em nossos quadros do jornal muitos profissionais que subirão de produção na medida em que se sentirem fora da zona traumática de indecisões editoriais do passado. Por isso estamos insistindo na importância de se descontaminarem. Não se deixem levar pelos falseadores de informações. Não tenham medo de avançar o sinal, porque, em última instância, os editores saberão como agir. E, se não souberem, estamos à disposição para dirimir dúvidas.
Cozinha e jornalismo
Se há algo com que não devemos nos preocupar ainda é com a venda de exemplares nas bancas. Temos inconformidades em várias áreas da empresa que acabam por entorpecer reações de qualidade da redação. É insensatez imaginar que um restaurante dará grandes saltos de receitas apenas por trocar de cozinheiro. Se o atendimento continuar falho, se os preços estão fora do mercado, se a higiene não for devidamente cuidada, se o marketing for canhestro, se a imagem de erros do passado não for devidamente neutralizada, se as mesas forem depósitos de mosquitos, se a iluminação for de má qualidade, se o som ambiente for de fanfarra, se tudo isso e muitos outros pontos não forem devidamente solucionados, o cozinheiro e seus auxiliares provavelmente serão dispensados -- se o dono do restaurante entender de tudo, menos de negócio.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)