Não precisaria ser vítima de um meritíssimo cuja sentença é um exemplar de analfabetismo em comunicação (e também de um bandido social contumaz) para defender a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa. O que difere meu pensamento do pensamento convencional é que acrescento tanto a uma expressão quanto a outra o qualificativo “fundamentação”. Ou seja, para ficar mais claro: sou um soldado da liberdade de expressão com fundamentação, e da liberdade de imprensa com fundamentação.
O jornalismo vai muito além de fatos e mentiras, diferentemente do que está expresso numa campanha de veículos de comunicação que fazem bem em demonizar fake news e em enaltecer profissionais do ramo. Entretanto, há nuances que, desvendadas por quem é especialista, cheiram a pobre. São meias-verdades, quando não mentiras inteiras, preparadas por profissionais em manipulação. Mas isso é o outra história.
O jornalista Reinaldo Azevedo e o filósofo Vladimir Safatle, que escrevem às sextas-feiras na Folha de S. Paulo, são meus paradigmas. Considero-os tão próximos às esquisitices personalistas e a exageros mistificadores que, para encontrar o equilíbrio que sempre procuro, basta fugir dos modelos que exercitam. Eles se excedem em algo que chamaria de estupidez, para ser diplomático.
Para entender melhor
Para os leitores entenderem que não pratico um erro crasso do que chamaria de liberdade de expressão abusiva, supostamente sem fundamentação, explico primeiro que considero obrigação moral e ética repassar pontos de minha personalidade profissional que, quando somados ou multiplicados, ajudam a entender estas páginas digitais.
Construo uma matriz de jornalismo cujo entendimento só é possível, e também claro, com acompanhamento permanente. Quem cai de paraquedas nestas páginas corre o risco de meter-se em enrascada, porque, cuidadoso que sou, e tenho obrigação de ser, uso o acervo para ponderações explicativas. Alguém, por exemplo, pode se ofender com a utilização da expressão Província do Grande ABC ao invés de simplesmente Grande ABC, mas a história recente e não tão recente está aí para confirmar.
A leitura das colunas de Reinaldo Azevedo e de Vladimir Safatle na Folha de S. Paulo é um esforço indigesto a recomendar antiácidos preventivos. Defino-me com o lastro de jornalista sem militância de qualquer espécie, exceto em defesa da sociedade como um todo, o que não deixa de ser uma patetice. Por isso tenho obrigação de consumir todas as informações que julgar pertinentes. À direita, ao centro ou à esquerda. Confrontando-as em debates virtuais, por assim dizer, apuro a musculatura intelectual e cognitiva.
Direitista estigmatizador
Reinaldo Azevedo bate no que chama de “direita xucra”, mas é muito pior que isso. É um jornalista militante que canoniza os tucanos, agride deliberada e insistentemente os petistas e, para vender ares de equilíbrio, equilíbrio rarefeito, sai em defesa de causas perdidas de quem tanto aplica golpes implacáveis. Reinaldo Azevedo comete seguidos suicídios editorais, como se tivesse muitas vidas a perder, depois de ter perdido o principal para quem o acompanha há muito tempo -- a credibilidade como artífice de conhecimentos agregados.
Vladimir Safatle citado aqui como filósofo é na verdade professor de Filosofia da Universidade de São Paulo. Possivelmente uma coisa não tenha nada a ver com a outra no frigir dos ovos de competência. Não é porque alguém é professor de jornalismo que também é jornalista no sentido mais abrangente da profissão. Safatle é um extremista de esquerda que se faz de socialista, quando de fato não tem base cultural econômica que sustente teorias gelatinosas.
Para não ficar restrito ao campo da abstração, porque esse é um dos males dos acadêmicos como já o foi Reinaldo Azevedo e como segue a ser Vladimir Safatle, puxo exemplos das colunas que assinam nesta sexta-feira que, para simbobilizar o que eles representam ao colunismo, bem que poderia ser uma sexta-feira 13 de agosto.
No caso de Vladimir Safatle, puxo trechos do artigo “Dizer a verdade não basta”. Leiam:
(...) No fundo, todos sabemos que as verdadeiras decisões econômicas são impostas à classe política, e não fruto de decisões tomadas por ela. (...) Uma verdadeira política traria as decisões econômicas para a esfera pública, permitindo que a população decidisse diretamente a respeito de orçamento, engajamento e longo termo do Estado e pagamento de dívidas da União em situação de crise.
Socialismo impraticável
O rudimentarismo econômico do professor de Filosofia é um desprezo aos especialistas. Por mais que publicações estejam recheadas de especialistas não-jornalistas que fazem da escrita abordagens que concentram as atenções, diante da derrocada dos profissionais da área, um colunista sempre será um colunista, jamais um jornalista na extensão do verbete, cujas atribuições não cabem neste artigo.
Deixar para o povo ignorante em matéria de economia as decisões de economia é uma mistura de insensatez e populismo sustentada por teorias que já se provaram impraticáveis. A participação da sociedade é essencial, mas em determinados territórios não é possível delegar populismo em detrimento de conhecimento estrutural.
Cultura enganadora
Já o jornalista Reinaldo Azevedo, ex-professor universitário que impressiona os leitores pela intensidade cultural que usa como carro-chefe para pretender solidificar teses alquebradas, numa espécie de contaminação com aparência de robustez, o caso é outro. Ele ocupa o lado ideológico oposto ao de Vladimir Safatle. Mas faz de tudo para ludibriar a plateia de leitores ao estigmatizar a direita. Uma esperteza que só os imprudentes de plantão engolem.
Mais uma vez na Folha de S. Paulo de hoje Reinaldo Azevedo esgrime cantilena que o lança ao rés da desmoralização: bate na Operação Lava Jato, atribuindo à iniciativa federal mais extraordinária da história do País o caos político-partidário destes tempos. Certamente prefere um passado ainda recente, retroalimentador de um passado bem mais distante, de roubalheiras e corrupção generalizadas.
Reinaldo Azevedo usa vestes ardilosamente jurídicas para agredir o bom senso. Pretende fazer de Lula da Silva, antigo desafeto e vítima de críticas nem sempre ponderadas, porque enraivecidas, mártir do juiz Sérgio Moro. Incoerente, esquece o próprio passado de criminalizar um inocente do caso Celso Daniel, guiado, claro, pela ferocidade ideológica que, repito, espertamente, tenta dissimular.
Time só no futebol
Diferentemente de tanta gente, sobretudo em redes sociais, não formo, aprimoro e desfaço opiniões para repassar alguma coisa que seja isenta aos leitores tendo como métrica o descarte ou o privilégio de matriz ideológica.
Costumo dizer que sou um privilegiado no campo jornalístico: não tenho time de preferência (exceto no futebol) nem modelo político-ideológico impermeável a avaliações permanentes. Jogo um jogo com a vantagem de entender o que terceiros pretendem esconder ou reafirmar, porque na maioria dos casos usam armadura partidária.
Reinaldo Azevedo e Vladimir Safatle são maus exemplos de comunicadores. Mas é indispensável que os tenhamos em cena permanentemente. Só assim será possível distinguir alhos de comprometimento social com bugalhos de interesses particulares e grupais.
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)