Imprensa

Veja como encontrei o Diário que
Ronan Pinto comprou em 2004 (10)

DANIEL LIMA - 10/09/2018

É impossível entender o que se passa na Província do Grande ABC nestes tempos sem mergulhar no conteúdo sequencial do OmbudsmanDiário, publicação digital que criei em junho de 2004 (portanto há mais de 14 anos) e que precedeu minha indicação ao comando editorial do Diário do Grande ABC. O que vamos reproduzir na sequência é a newsletter de 22 de junho, quando voltei a analisar as últimas edições do jornal, após apresentar nos dias anteriores parte do texto do Planejamento Editorial Estratégico que levei àquela corporação para ajustar a atuação à frente da redação. 

Edição número nove 

Não nos concentramos em nenhum momento, ainda, especificamente nas questões estruturais de textos do jornal. Trata-se de conversa mais longa, mais complicada, que, portanto, não caberia nesse instante. De modo geral, e sem qualquer intenção de ferir suscetibilidades, mas também longe de parecer omisso, diria que no conjunto da obra diária que levamos aos leitores estamos aquém das necessidades informativas -- em forma e em conteúdo. 

Nada mais natural. Afinal, em uma redação que passou anos e anos a assistir a banda da qualidade passar seria mesmo exigir demais que se encontrassem uniformidade e alto rendimento individual e coletivo. Essa constatação deriva de uma soma de conhecimentos e de exigências que balizam minhas atividades profissionais. 

Não será com açodamento gerencial, com intolerância xiita aos erros, com substituições aleatórias que haveremos de melhorar o produto. O problema central da redação é estrutural e isso ultrapassa em muito os limites funcionais de cada um. Como um time de futebol ao longo de temporadas mal orientado, mal preparado, é pecaminoso tentar torná-lo vencedor sem que um conjunto de medidas seja aplicado. Um time desarrumado exige tempo e muito trabalho para reencontrar-se. 

Espero que forças colaborativas sejam a maioria entre os profissionais do jornal. Uma caçada intensa às chamadas inconformidades só será possível com empenho de todos; portanto longe de qualquer estereótipo que, mesmo que vagamente, seja correlacionado a salvadores da pátria.

Vamos agora à análise do jornal desta terça-feira: 

 Universidade Federal

Não nego que estou tendo um orgasmo editorial ao ler o jornal à página de abertura de Setecidades, e constatar que um representante do Ministério da Educação exigiu no encontro de ontem com o Consórcio de Prefeitos que as forças produtivas estejam no grupo que vai debater o formato da Universidade Federal do Grande ABC. Há muito estamos esgrimindo essa obviedade no Capital Social Online e na revista LivreMercado. 

O jornal entrou atrasado na pregação, depois esqueceu o assunto e hoje, infelizmente, dedicou apenas alguns parágrafos. Preferiu, como se vê no título "MEC quer pressa na universidade", percorrer um caminho já mencionado e relativo ao cronograma dos estudos. A grande matéria está na introdução das forças produtivas nos ensaios para retirar de acadêmicos e burocratas o controle conceitual da universidade. 

Está difícil o jornal entender quais os caminhos que nos reconduzirão aos tempos de mudanças efetivas. É por essas e outras que estou distribuindo a toda a audiência os pressupostos do Planejamento Estratégico Editorial. Quem se opuser àqueles preceitos de regionalidade estará dando um tiro no próprio pé -- e atrasará ainda mais o cronograma de modernização do Grande ABC. 

 Doença em Mauá

Apesar de pecadilhos no texto, está boa a cobertura da matéria "Doença misteriosa: 8 no hospital". 

 João Avamileno (I)

Praticamente relatorial a matéria "Avamileno faz balanço e promete bilhete único para setembro". Nos sonhos de um jornalismo interpretativo e competentemente entranhado na avaliação dos gestores públicos, às declarações do prefeito de Santo André sucederiam contrapontos do especialista.

 João Avamileno (II)

O desempenho do orçamento participativo, que consta da matéria, poderia ser destrinchado em reportagem específica. Quem tem razão sobre os números apresentados? A administração ou o vereador oposicionista? Da forma que está, a matéria deixa os leitores diante de enorme ponto de interrogação.

 Inclusão Digital

A entrega do Ônibus de Inclusão Digital pela Prefeitura de Santo André poderia ter sido melhor estruturada, especialmente se contextualizasse a realidade do Município em relação aos vizinhos da região e, mais que isso, aos principais municípios paulistas. O Instituto de Estudos Metropolitanos (www.ieme.com.br) apresenta ranking imperdível. 

 Mananciais

O Estadão de hoje publica matéria interessante ("Mananciais: só 66 fiscais para evitar invasões") que poderia, com arte, ser regionalizada à nossa realidade. Afinal, quem está fiscalizando 56% do nosso território atingido pela Billings?

 Eleições paulistanas

A OAB da Capital realizou ontem manifesto em que solicitou compromisso de ética aos candidatos à Prefeitura local. Como estariam se comportando as unidades da OAB no Grande ABC quando se sabe que há atrelamento com forças políticas, ou seja, são correias de transmissão de interesses localizados? 

 Frente de Trabalho

Consta da retranca (matéria auxiliar) "Contrato de trabalho valerá por 9 meses", referindo-se à Frente de Trabalho em Mauá, que o consultor técnico da Secretaria de Emprego e Relações do Trabalho do Estado disse que o governo não paga o mínimo de R$ 260 e sim R$ 210 porque não existe vínculo empregatício. O que pergunto é o seguinte: não estaria o próprio Estado (como instância) surrupiando direitos trabalhistas num Município governado por um partido cuja representação sindical brada aos quatro cantos contrariedade à fragilização do mercado de trabalho?

Não seria esta uma boa pauta? Frentes de Trabalho são um artifício para burlar a legislação trabalhista ou têm mesmo séria conotação eleitoral? Seriam ambas as coisas? A iniciativa privada também poderia criar frente de trabalho nos moldes do Estado? 

 Caso Celso Daniel

Mais uma vez o jornal (agora com material de agência) dá destaque à mobilização de promotores e procuradores contrários à imensa possibilidade de o Supremo Tribunal Federal acabar com a invasão investigatória do Ministério Público. O outro lado da moeda, de respeito à Constituição, parece não constar da preocupação editorial. Diferentemente de outros veículos. Inclusive do Estadão, flagrantemente defensor do MP. Se precisarem, tenho farto material a respeito. 

Suspeito que o jornal, dado o passado pouco nobre nas abordagens do caso Celso Daniel, tenha dificuldades de operar essa questão. Pois vou continuar insistindo, porque não vou adicionar à minha biografia profissional omissão diante de tamanho protecionismo. 

 Copa do Brasil (I)

Jornal deu ao jogo do Santo André e Flamengo relevância pouco expressiva à chamada de primeira página. É muito difícil prognosticar o comportamento do veículo em questões de interesse regional. É uma espécie de "kinder ovo". Tudo pode acontecer. 

 Copa do Brasil (II)

Jornal deu nesta terça-feira um perfil do técnico Péricles Chamusca. Folha de S. Paulo seguiu na mesma trilha. Os dois jornais (e os demais) poderiam ter produzido texto melhor. Estive em Salvador no último sábado, acompanhando o jogo do Santo André contra o Bahia, e, como sempre fiz como repórter, encaminhei-me aos vestiários do Santo André. Lá descobri que Chamusca e toda a comissão técnica que ele levou para o comando do Santo André apresentam importantes inovações na preparação da equipe, inclusive com o uso de laptop. Valeria a pena destrinchar o assunto. 

Francamente, desconheço a possibilidade de o jornal já ter dado alguma coisa sobre a parafernália tecnológica do Chamusca. Se já fez matéria sobre o assunto, mais que nunca seria interessante resgatá-la. 

 Fiesp em disputa

Não gostei da matéria "Eleição da Fiesp passa pela região", que consta da página 3 de Economia desta terça-feira. O título não tem impacto algum. Poderia ser puxado por uma frase do candidato Paulo Skaf, que promete despachar no Grande ABC caso alcance a vitória. Faltou um gancho nas respostas do outro candidato, Claudio Vaz, que pudesse justificar título que contemplasse a ambos e, principalmente, os leitores. 

Senti dificuldade imensa de questionamento mais substantivo, principalmente ao candidato da situação, Claudio Vaz. A verdade é que o conglomerado Fiesp/Ciesp nada fez nos últimos anos pela economia do Grande ABC. Os chamados arranjos produtivos, que Claudio Vaz insinua em favor do setor de cosméticos de Diadema, simplesmente foi esquecido durante a gestão Horácio Piva, enquanto outras regiões contaram com recursos financeiros da entidade e seus parceiros. 

A matéria foi excessivamente condescendente com os candidatos, especialmente com o concorrente da situação que tem um grande fracasso como ponta-de-lança regional na Fiesp, o médico e empresário Fausto Cestari. De grande esperança de mudança na correlação de forças regionais na Fiesp, especialmente dos pequenos industriais, Fausto Cestari se tornou dirigente omisso e partidário, atuando como linha auxiliar de gerenciadores públicos locais e em evidente conflito de interesses com a classe produtiva. Resumindo: ele cuidou de si próprio, não da região. 

A impressão que tenho é de que o jornal se dá por satisfeito em cumprir pautas burocráticas, quando o jornalismo evolucionista assume funções transformadoras. A entrevista dos dois candidatos à Fiesp é a consagração da redundância. 

 BNDES em Diadema

A entrevista com o presidente do BNDES na edição de segunda-feira ("BNDES ressalta cultura nacionalista") poderia ter sido regionalizada de forma mais explícita, inclusive no título. Sugiro que se fique de olhos bem vivos à repercussão do assunto. Aliás, conviria ouvir lideranças do setor de cosméticos de Diadema. Valeria a pena incorporar a essa pauta uma outra questão que interessa diretamente aos empreendedores locais dessa atividade: como poderia ser útil aos representantes dessa que é uma das principais atividades do Município um eventual campus da Universidade Federal do Grande ABC em Diadema que trate do setor de cosméticos? 

 Convenção petista

O jornal anunciou a decisão do PT de escolher a vereadora Ivete Garcia como companheira de chapa de João Avamileno, conforme consta da edição de domingo. Houve equívoco quando se afirma que a candidata "foi confirmada". Na verdade, "foi anunciada". 

 Empreguismo 

Boa a matéria de domingo da convenção do Partido Verde ("Leonel Damo promete empregar membros de partidos de coligação"). Faltou apenas registrar que Damo não é pioneiro regional nesse tipo de empreguismo eleitoral -- anteriormente, no mesmo espaço editorial utilizado domingo, manchete semelhante abordou declaração de Duílio Pisaneschi, então candidato a prefeito pelo PTB. 

 Clonagem editorial

Tenho notado algo que não é episódico. Em várias edições o Nossa Opinião, espaço reservado ao editorial do jornal, tem praticamente repetido a essência da matéria que originou o temário. A diferença é que existe uma preocupação em acrescentar conceitos ao acelerado ritmo das informações do noticiário. Entretanto, na maioria dos casos, a diferença entre o original noticioso e a clonagem interpretativa não ultrapassa limites do penduricalho. 

 Anhembi Turismo

O jornal perdeu oportunidade de ouro na matéria publicada na edição de domingo para tentar extrair do presidente da Anhembi Turismo e Eventos, Celso Marcondes, avaliação sobre o fato de a indústria de eventos não prosperar no Grande ABC. Há muito se comenta sobre a possibilidade de se construir uma espécie de Anhembi na região, mas não conseguimos viabilizar o negócio. O que será que o entrevistado diria sobre o assunto? Que dimensão e a que público seria destinado um eventual investimento num centro de convenções do Grande ABC de forma a tornar-se algo rentável?



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