Na edição de setembro de 1994, portanto há mais de três anos, LivreMercado antecipou-se à Câmara Regional do Grande ABC e, numa análise do jornalista Daniel Lima sobre a criação do Fórum da Cidadania, sugeriu a constituição de agência de desenvolvimento. "À região falta uma entidade no setor econômico que, livre da burocracia da prestação de serviços aos associados, trate exclusivamente de aspectos econômicos e institucionais, reunindo para tanto montanhas de informações em banco de dados, algo de fazer inveja aos engenheiros do caos estatístico regional" -- afirmava o trabalho.
O articulista sugeria que essa entidade fosse basicamente cerebral. "Algo capaz de, em segundos, num terminal de computador, oferecer números e informações econômicas regionais sem que barreiras municipais atravanquem qualquer interpretação". Prosseguia a matéria: "Não será nada pioneira no mundo econômico, já que americanos e japoneses utilizam-se dessa fórmula para ganhar mercados. Sua formação é profissional à medida que um corpo enxuto de especialistas em áreas econômicas, de marketing e de comunicação traduz de forma racional e efetiva as aspirações de um conselho deliberativo integrado por empresas e organizações que garantam os recursos financeiros do empreendimento".
O trabalho jornalístico apontava, inclusive, uma referência nacional que poderia ser copiada pelo Grande ABC: o Instituto de Desenvolvimento Industrial de Minas Gerais (Indi), agência de fomento que atua em parceria com o empreendedor já estabelecido ou que pretende iniciar negócio. O Indi foi criado e é mantido pela Cemg, Cia. Energética de Minas Gerais, e pelo BDMG, Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, e subordina-se ao governo do Estado.
"O Indi do Grande ABC poderia ter a sustentá-lo corporações industriais de médio e grande porte, entidades empresariais, entre outras, além do Poder Público. Como o Indi mineiro, essa entidade seria especializada na atração de investimentos, equipando-se para prestar toda assistência necessária quando da decisão e implantação de projetos industriais, sem qualquer ônus para o empresariado" -- escreveu o jornalista. Que completou: "O Indi do Grande ABC poderia descobrir, com fundamentação estatística, quais os setores industriais em que vale a pena investir, até mesmo para favorecer as grandes corporações sediadas na região. Uma espécie de ampliação do que tem feito a Rhodia, individualmente, através do projeto que coloca Santo André como primeira opção de fornecedores".
Na edição seguinte, em outubro de 94, LivreMercado apresentava a manchete de primeira página Entidade cerebral é indispensável, repercutindo a proposta. Fausto Cestari, diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, considerava o modelo do Indi mineiro emblemático, mas acrescentava à reformulação econômica da região dois vértices: a comunidade acadêmica e o Poder Público. Cestari disse também que a expressão entidade cerebral sintetizava as aspirações da região, citando a Fundação Jesus Zerbini, do Instituto do Coração, como núcleo de conhecimentos científicos destinado a dar eficiência às ações de seu corpo técnico-operacional.
Filipe dos Anjos Marques, presidente da Acid, Associação Comercial e Industrial e Diadema, afirmava na ocasião que a proposta desta publicação não tinha reparos: "A proposição deve ser materializada, já que a própria criação do Fórum da Cidadania permite pensar-se no Grande ABC de forma conjunta, não fragmentada".
Também foram ouvidos dois membros do Conselho Consultivo de LivreMercado. Wilson Rosa, ex-secretário de Obras de Mauá, disse: "A proposta roubou-me uma antiga idéia de estruturar banco de dados sobre a realidade do Poder Público na região. Meu velho sonho é ter mecanismos para controlar a organização físico-estrutural da região" -- afirmou Rosa. Carlos Cavalheiro, do Grupo Catho, disse: "O Brasil como um todo precisa de um Indi para sair da desorganização em que se encontra".
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13/11/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (33)