Passaram-se os anos e o menino tímido que trocava brincadeiras de rua por papel e aquarela tornou-se um dos profissionais mais respeitados e requisitados pelos colunáveis da região para projetos residenciais e comerciais. O decorador e designer Sérgio Apolônio -- nascido, criado e vivido na Vila Assunção, Santo André -- já perdeu a conta dos apartamentos, escritórios e clínicas onde imprimiu seu estilo. Ainda assim se surpreende quando é convidado para trabalhos como o planejamento da casa de fazenda e da cobertura de um empresário de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O segredo do sucesso, ele não revela. Mas garante: "Sou um trabalhador como outro qualquer, só que Deus me deu o privilégio da arte".
Sérgio Apolônio se define como um profissional que consegue personalizar ambientes desenhando peças de acordo com necessidades e tendências dos clientes. Seu estilo? Clássico, contemporâneo, tudo. Desde que consiga instalar clima de magia no local. "Decoração não deve ter estilo definido. É preciso misturar elementos, sentir que ficou acolhedor. Seja convencional ou não, o lugar onde é bom ficar sempre faz sucesso" -- afirma. Um dos truques para isso é dispensar modismos: "O importante é utilizar peças práticas e que permaneçam modernas por muito tempo".
O estigma de custo elevado que faz muitos maridos arrancar os cabelos quando as mulheres contratam decoradores é coisa do passado, segundo Sérgio Apolônio. "Se o cliente fizer sozinho a decoração corre o risco de gastar mais. Muitas vezes, o sofá é bonito na loja mas não em casa. Com apoio do profissional, consegue montar com funcionalidade o ambiente, principalmente quando o decorador também é designer" -- esclarece. Para ele, decoração tornou-se acessível a número maior de consumidores e, embora ainda restrita a camadas mais altas da população, "já não é mais vista como bicho de sete cabeças".
Decoração, na verdade, foi o direcionamento de dom desenvolvido ainda na infância: a arte. Além de desenhar peças para os ambientes que projeta, faz incursões secretas em óleo sobre tela, embora mantenha essa obra trancada a sete chaves. Como faz com a idade, que deixa ao interlocutor imaginar. Antes de transportar de vez a veia artística para a decoração, também caminhou com sucesso pelos terrenos da publicidade e da moda e só não levou adiante sua grife por falta de capital. "O Sérgio Apolônio decorador e o Sérgio Apolônio estilista brigavam para descobrir qual vertente predominava e a primeira opção acabou vencendo" -- revela. Quando as filhas Simona e Marila casaram, entretanto, esse perfil de Sérgio Apolônio voltou à tona: ambas subiram ao altar vestindo criações assinadas pelo pai.
Outra noiva que o decorador produziu foi a médica dermatologista Adriana Awada, de Santo André, cujo apartamento e consultório também levam assinatura de Sérgio Apolônio -- assim como ocorre com vários outros vips da região: Inês e Rubens Awada (pais de Adriana), Andréa e Ademir Spadafora, Luiz Carlos Brunoro, Alexandra e Júlio Nicolau Filho e muitos, muitos outros.
Profissional bastante requisitado também para projetos comerciais, criou todas as agências principais da Viagens CVC, escritórios da Sunshine Produções destinados aos negócios da dupla Leandro e Leonardo e da apresentadora Eliana, as lojas no Shopping ABC da Collection Sandra Serra e Zillo Joalheiros, além do atual saguão do Hospital Brasil.
Orgulhoso da perenidade de sua obra -- apartamentos decorados há 20 anos que passaram apenas por pequenas mudanças, como troca de tecido dos sofás, continuam atuais --, Sérgio Apolônio destaca a decana discoteca Sunshine como trabalho que marcou época. Principalmente pela estilização de nave espacial, medindo nove por 12 metros, que se movimentava do teto descendo quase à altura da pista de dança. "O sucesso foi tanto que, na inauguração da extinta boate Honorabile Societá, fui cumprimentado por Hebe Camargo, que assistiu a festa de abertura da Sunshine no programa Goulart de Andrade e se encantou com o que viu" -- relembra.
O projeto da Sunshine está ligado, de certa forma, a outra veia de Sérgio Apolônio: a carnavalesca. Amante das folias de Momo – este ano viajou ao Rio de Janeiro para prestigiar os desfiles da Marquês de Sapucaí --, ele guarda com carinho lembranças do período em que foi o Joãosinho Trinta dos carnavais de rua de Santo André. Destaque para os enredos Reino de Netuno, do Clube Panelinha, e Atlântida Tesouro Submerso, criado para o Ocara Clube quando era apenas bloco. O tema atravessou fronteiras e lhe rendeu convite para atuar como cenógrafo da TV Bandeirantes, além de elogios emocionados do então prefeito Lauro Gomes, que comparou a riqueza vista na passarela do samba ao luxo de Las Vegas.
Se a falta de capital aposentou precocemente o lado estilista, a falta de tempo encerrou a carreira do carnavalesco. Como na época ainda não atuava como profissional liberal, tinha de aproveitar as férias para desenvolver o enredo. Mesmo assim, conseguiu inovar e foi o primeiro a usar espelhos nas fantasias, item hoje corriqueiro em qualquer passista. O sangue de Momo ainda corre nas veias e, apesar da agenda lotada, Sérgio Apolônio sonha em produzir o carnaval de uma grande escola. Certa vez, foi sondado pela Império Serrano. Mas não havia tempo hábil para aceitar o convite.
Sonhar é uma das realidades de Sérgio Apolônio. O enredo de Atlântida Tesouro Submerso floresceu em sua mente durante uma noite de sono, coincidentemente em período difícil da vida profissional. "Sou instrumento de Deus. Ele me manda a inspiração; não fosse Ele, eu seria uma ferramenta vazia" -- acredita. Para exercer essa arte, tem apoio de assessora importante: a filha Simona. "É ela quem cuida da área administrativa e dos clientes, pois não consigo me tornar firma. Sou frágil na área comercial, não sei lidar com empregados". Isso, contudo, não impediu que recebesse inúmeros convites para instalar escritório em São Paulo. As raízes fincadas na região não permitiram a mudança: "Temia que fosse cortado o cordão umbilical da criatividade".
Além da inspiração que considera praticamente uma psicografia quando desenha ambientes e peças, Sérgio Apolônio também possui o que chama de dom de prever tendências. "Eu mesmo me surpreendo, pois já aconteceu de preparar uma cartela de cores e na loja descobrir que correspondia ao ano seguinte". Ainda assim se considera um autodidata -- a estréia foi aos 13 anos, quando criou quarto conjugado para ele e a irmã. O pai, marceneiro, confeccionou os móveis propostos pelo filho que anos mais tarde se tornaria quase um workaholic, alguém que não sabe viver longe do trabalho e, principalmente, da arte. Sempre com calorosos incentivos da mãe.
Novos projetos são constantes na carreira do decorador e design. Atualmente, é responsável por obras como remodelação da Choperia Internacional, em Santo André, e hall de entrada do New Sun, instituto frequentado pela loira do Tchan, Carla Perez.
Também busca concretizar antigo sonho de fabricar em série produtos que desenha, mas em pequena escala. A idéia é comercializar peças como mesas de centro, almoço e jantar, laterais de sofás, aparadores e cabeceiras de cama, atingindo público jovem que enfrenta dificuldade para encontrar objetos contemporâneos com custo diferenciado. "Quero espaço dedicado a isso, procurando fazer peças com a cara do Brasil para o brasileiro" -- define Sérgio Apolônio, para quem o tempo, antes de ser dinheiro, é curto demais para realizar tudo o que deseja.
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21/01/2025 PAULINHO, PAULINHO, ESQUEÇA ESSE LIVRO!