Já estamos enviando à industrialização muitas horas de trabalho.
O Volume 2 de Nosso Século XXI está pronto, prontíssimo.
A riqueza intelectual será manufaturada e multiplicada. São 36 ensaístas convidados.
O correto seria escrever 35 convidados, porque eu me escalei. Vários dos ensaístas perfilaram no Volume 1, lançado em 2001.
Li e reli todo o material, depois da primeira revisão da jornalista Maria Luísa Marcoccia. Mauricio Milani completou a tarefa. Ou seja: cada texto foi revisado pelo menos três vezes. Nada foi introduzido que mudasse o conteúdo mesmo que minimamente. Fizeram-se apenas adequações editoriais. Homogeneizaram-se terminologias e fortaleceram-se enunciados com técnicas de redação que apenas quem é do ramo consegue aplicar.
Um texto em ordem direta alcança melhor compreensão do que um texto em ordem indireta. Gerúndios demais fazem mal à saúde cerebral. Coisas assim.
Ficamos tão viciados no cotidiano do jornalismo de reflexão, que é o jornalismo não-diário, ficamos tão plugados na qualidade e em fazer bem feito, com todo o carinho, que transportamos esse viés para tudo em que nos metemos a fazer. Um livro não escaparia dessa tortura.
Cada vez mais somos escravos de qualificação produtiva. Em última instância, acabamos imersos em condicionalidades contraproducentes à saúde física, mental e espiritual.
Somos um País em que improviso e negligência não pedem passagem. Desfilam a céu aberto, com batedores a alardear nossa intensa capacidade de criação, justificando, dessa forma, devaneios macunaímicos.
Em média, poucos conseguem associar criatividade e sistematização. Costumo dizer no ambiente corporativo que quanto mais incorporamos metodologias, mais abrimos veredas à criação. É questão de sobrevivência entregar funções repetitivas ao software funcional. Dificilmente memorizo telefones, CEPs, CNPJ, CIC, RG, essas coisas. Tomam-me muito tempo e preocupação. Já grande parte das três mil pastas de arquivo jornalístico está num cantinho cerebral desocupado. Não interfere no restante da caixa craniana que, quando acionada, responde imediatamente.
Mas isso é um outro assunto. O que interessa mesmo é realçar o tônus crítico dos ensaístas de nosso Século XXI. A maioria deitou e rolou em acidez construtivista.
Achei ótimo, porque a carga pesada contra a fragmentação do Grande ABC não pode ser trincheira solitária ou de um grupo circunscrito a determinado segmento. Pareceria um batalhão programado para asfixiar o entusiasmo ingênuo do restante da sociedade.
A marcha voluntariamente unida de ceticismo com relação à regionalidade do Grande ABC é a manifestação da maioria dos ensaístas. Eles souberam traduzir a preocupação com esse espaço geoeconômico, com a vantagem aos leitores de que, pela variedade de ocupações profissionais, sustentaram argumentos específicos numa convergência de extraordinário valor.
O Grande ABC que pensa com responsabilidade não aceita o Grande ABC vulnerável no tabuleiro da competitividade nacional e internacional porque sabe que mesmo nestes tempos de montadoras bombando em produção e vendas, ou principalmente por isso, não podemos nos descuidar de fragilidades econômicas, excessivamente relacionadas à dependência sobre-rodas.
O novo volume de Nosso Século XXI é uma oportunidade à reflexão geral e irrestrita sobre a marcha lenta que caracteriza a regionalidade do Grande ABC — para não dizer que estamos em marcha a ré, depois da engrenada geral rápida e ilusória em meados da década passada.
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)