Imprensa

Muito mais que
simples informação

DA REDAÇÃO - 05/07/1998

Esta é a centésima edição da revista LivreMercado, a maior publicação regional do gênero no País. Criada pelo jornalista Daniel Lima e pela publicitária Denise Barrotte na Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), em março de 1990, quando o lançamento do Plano Collor, significou entre outras decisões, a lipoaspiração monetária de recursos pressupostamente protegidos nas instituições financeiras, esta publicação passa por metamorfoses cíclicas. Só não deixa escapar pelo ralo das mudanças a essência da defesa da livre-iniciativa, da reestruturação do Estado em suas três dimensões -- União, Estados e Municípios -- e do compromisso de sensibilizar o espírito de cidadania.

Entre o tablóide preto e branco de oito páginas em papel offset e de cinco mil exemplares distribuídos principalmente aos associados da Acisa e a revista de mais de 100 páginas em quatro cores, papel couchê e 50 mil exemplares que atingem todo o Grande ABC, formadores de opinião da Capital e de duas centenas de Municípios do Estado de São Paulo, sobram exatamente os princípios pétreos das três vertentes que sintetizam o slogan da publicação -- Economia com Compromisso Social. 

Intolerante com conceitos aparentemente intocáveis, como o de que o Grande ABC estava imune à abertura econômica deflagrada pelo então presidente Fernando Collor de Mello, LivreMercado coleciona entre os troféus de sensibilidade jornalística uma espécie de Copa do Mundo de informação e interpretação exclusivas -- o alerta de que a região passava por esvaziamento econômico decorrente da evasão industrial. 

Situação que hoje não encontra mais opositores, nem mesmo os mais empedernidos bairristas que supunham viver numa região absolutamente a salvo da interiorização industrial do País e da seletividade da globalização, o esvaziamento econômico soou como aberração há sete anos nas páginas de LivreMercado.

A notícia, baseada na sistematização de informações atomizadas, na vivência do dia-a-dia regional e numa grande pitada de ousadia, cristalizou-se mais tarde com números irremovíveis, compilados pela própria publicação. Foi um soco poderosíssimo no então impermeável e deletério sentimento de indestrutibilidade regional. Só não se chegou a propor ao autor da matéria castigo parecido com o que foi destinado a Joana DArc porque os tempos são outros, mais civilizados. 

Executivos públicos e sindicalistas ditos de vanguarda foram os primeiros a se opor à informação recheada de interpretação. Órfãos de pesquisas, tanto uns quanto outros defenderam a solidez da economia regional com base em frases feitas, em gritos de guerra, em fanfarronices verborrágicas e em evidentes interesses corporativos de origem semelhante: o peso da culpabilidade que evidentemente os atingia por excessos ou omissões cometidos. Demorou para que lideranças empresariais, políticos e sindicalistas se convencessem de que o então tablóide não procedera a um chute irresponsável, desses que só os pernas-de-pau desferem. Demorou muito mais do que o recomendável. 

Em fevereiro de 1992, LivreMercado publicou editorial que pode ser chamado de histórico, sob o título Economia regional exige reviravolta. Trechos do artigo: "O Grande ABC tem vivido no berço esplêndido de suposta grandiosidade econômica. Sobretudo nos últimos anos, com o advento de grandes corporações comerciais, (...) lustrou-se o ego regional (...). Agora, começa-se a cair na realidade da erosão industrial, motivada não só por fatores domésticos, como a saturação da infra-estrutura e o ativismo sindical, mas também por razões macroeconômicas (...). Faltam quadros de profissionais habilitados nas mais diferentes áreas (das Prefeituras) para deflagrar o processo de valorização da região, e isso exige a contratação de gente qualificada. Ou a região trata com profissionalismo o emagrecimento involuntário e danoso do setor industrial, ou ficará condenada a repetir a história de poderosos impérios que sucumbiram às novas realidades. É preciso que o êxodo industrial deixe de ser assunto-tabu na região. Algumas lideranças empresariais têm procurado, num gesto irresponsável, mascarar a realidade com declarações que não correspondem aos fatos". 

Perda de ICMS -- Sem organismos públicos ou privados dedicados a pesquisas socioeconômicas amplas e regionais, a ponto de somente no ano passado o Consórcio Intermunicipal de Prefeitos ter contratado a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análises e Dados) para o levantamento de informações, LivreMercado decidiu ir além da advertência. Reuniu dados suficientes para, em maio de 1995, apresentar novas informações históricas. Numa matéria de fôlego, comprovou com números as perdas econômicas do Grande ABC. 

A publicação prova que entre 1988 e 1994 o Grande ABC perdeu nada menos que 24% de participação relativa no bolo de arrecadação do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o filão mais nobre das receitas do Estado e dos Municípios. "As perdas relativas ao Estado de São Paulo, tanto no bolo arrecadatório do ICMS como em termos absolutos, evidenciam a evasão industrial da região. A participação do setor industrial do Grande ABC nessas receitas canalizadas ao Estado e redistribuídas em forma de cotas a todos os Municípios é de 83,3%, contra 12,3% do setor comercial e 4% do de serviços. O perfil de arrecadação do ICMS do Grande ABC é diferente da média registrada no Estado, onde não há tanta disparidade entre o domínio do setor industrial (59%) em relação ao comércio (27,1%) e aos serviços (13,9%)" -- afirma a reportagem. 

O texto prossegue: "Para se chegar às perdas relativas de participação do Grande ABC no bolo estadual do ICMS, basta lançar mão de 13,82% alcançados em 1988 e compará-los com os 11,16% de 1994. Dá 23,83%. Os números mostram que há oscilações entre os percentuais de 1988 e 1994, mas geralmente em sentido decrescente (...). Já em termos nacionais, a participação do Grande ABC no ICMS arrecadado desabou 43,8%, segundo números colhidos junto à Prefeitura de Santo André e à Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Em 1988, o Grande ABC participava com 5,94% de todo o ICMS arrecadado no País. Em 1994, caiu para 4,13%. A queda é muito mais que a do Estado de São Paulo em relação ao País, de 16%". 

A obsessão por estudos que dêem sustentação às análises de quebra econômica da região ou que, num lance de felicidade regional, apontem o estancamento de perdas e sugiram reversão do quadro tornou-se um dos mandamentos sagrados de LivreMercado. E o desempenho tem-lhe sido representativo em credibilidade, porque não são poucos os estudantes que procuram nos arquivos da publicação análises que não deixam a menor brecha a contestações. Por isso, a publicação mantém-se rigorosamente em sintonia com tudo que se refere a tendências que possam influir no dia-a-dia econômico e social da região. E, como se fosse uma sentinela, está pronta a atacar técnicos, administradores públicos e lideranças empresariais e sociais que, em busca de aplausos fáceis, ainda insistem em tentar tapar o sol com a peneira.

Alerta -- Essa acuidade em identificar fatores que mexem em última instância com a qualidade de vida regional foi apontada já na segunda edição de LivreMercado, em abril de 1990. Sob o título Região pode sofrer recessão mais dura que resto do País, antecipava o que seria um dos períodos mais complicados para a economia regional: mais que um alerta, era uma avaliação técnica. O texto de chamada de primeira página dizia: "A recessão econômica que se prenuncia com a implantação do Plano Collor deverá atingir em cheio o Grande ABC. Com parque industrial em grande parte sustentado pelas indústrias montadoras, é natural que a região sucumba economicamente ao peso das medidas anunciadas em 16 de março. Afinal, juntamente com o setor de construção civil, a indústria automobilística se viu paralisada e recorreu, em cadeia, a férias remuneradas, enquanto as indústrias satélites, pequenas e médias autopeças, já conjugam o verbo demitir sem embaraço, porque não têm as mesmas reservas financeiras para suportar a parada" -- afirmava o então tablóide.

Cantar a caçapa que só mais tarde outras publicações descobririam é tradição desta publicação, num desafio à lógica de que a periodicidade mensal congelaria qualquer iniciativa que não fosse produzir um veículo de matérias longa-vida mas de baixo impacto na cadência de transformações socioeconômicas. Esse não passa de grave erro de avaliação porque é justamente o fato de estar a cada 30 dias nos endereços de negócios e em domicílios dos leitores que fermenta o processo de maturação das informações geralmente incompletas, superficiais e apressadas da mídia eletrônica e também da mídia impressa diária. É justamente essa decantação de temas geralmente negligenciados a mergulhos mais profundos que possibilita a incursão por reportagens especiais que já se tornaram marca registrada de LivreMercado. 

Basta simples folheada nos arquivos desta publicação para se ter a dimensão do quanto de altamente prospectivo já foi produzido. Uma maneira de simplificar essa pesquisa está na reprodução de todas as capas da fase revista, iniciada em novembro de 1996. Um painel permanentemente exposto numa das áreas físicas da Editora LivreMercado exibe as capas em tamanho reduzido e comprova o cuidado com que as matérias de maior fôlego caminham sincronizadamente com os problemas e soluções do Grande ABC.

Foi assim com a presença da região na Internet, com o massacre por que passam os pequenos negócios diante do avanço comercial das grandes corporações, a virada de jogo que se insinua na indústria moveleira, a chegada da quinta onda de desenvolvimento econômico em forma de indústria de entretenimento, a revolução que atinge as escolas para se adaptarem curricularmente às novas demandas do mercado de trabalho, o xeque-mate que sufoca o Pólo Petroquímico de Capuava, a importância estratégico-institucional do Fórum da Cidadania do Grande ABC e a importância da espiritualidade nos negócios, entre outros. É claro que não se pode esquecer a capa de março do ano passado, que acabou, mais tarde, transformando-se em livro: em 30 páginas, Grande ABC tem futuro? acabou por esmiuçar a realidade econômico-financeira da região de forma profunda e inquietante.

O canhestro conceito de que a periodicidade de LivreMercado constrangeria a capacidade de conquistar respeito e credibilidade por meio de temários mais efervescentes foi derrubado já nos primeiros tempos da publicação, numa entrevista em agosto de 1990 com Cláudio Rubens Pereira, presidente da Anapemei (Associação Nacional das Pequenas e Médias Empresas Industriais), com sede em Santo André. Ele fez a seguinte previsão, cujos resultados não demoraram a surgir: "O segmento vai passar por profundas transformações, à esteira da nova política industrial que contempla a abertura econômica". Cláudio Rubens projetou explosão de joint-ventures, absorções, fusões, incorporações e mortalidade das pequenas e médias indústrias. E disse mais: a qualidade da administração dos negócios, do almoxarifado onde desembarcam a matéria-prima e os insumos até a expedição do produto acabado, é o mais grave de tudo. 

Secretarias -- Consta também do rol de conquistas de LivreMercado a vitoriosa insistência para dotar os respectivos organogramas das Prefeituras da região de espaço privilegiado de atuação em forma de Secretarias de Desenvolvimento Econômico. Exceto a pequena Rio Grande da Serra, que não justificaria a pasta, e a tumultuada Diadema, cujo prefeito socialista não se deu conta até agora da relevância do tema, os demais Municípios do Grande ABC passaram a contar com executivos voltados para a área. 

Os arquivos de LivreMercado também dão sustentação a algo que pode ser enunciado como a origem teórica da Câmara Regional do Grande ABC, materializada em 1997. Foi na edição de outubro de 1993 que o então pouco conhecido empresário e médico Fausto Cestari Filho, diretor do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Santo André, virava manchete de primeira página. Saída é união foi o título da matéria. Alguns trechos: "Fausto Cestari diz que é preciso planejar e executar as reformas regionais de forma contínua e permanente, iniciando-se a operação o mais breve possível. O ponto heterodoxo de sua pregação modernizadora está centrado nos atores dessa mudança: os empresários, por meio de suas lideranças mais expressivas, e os sindicatos dos trabalhadores, igualmente representados pelos seus comandantes. Homens públicos, prefeitos, secretários municipais e vereadores complementam o grupo como coadjuvantes, sob a lógica explicação de que suas funções são temporárias, enquanto as ações da dupla capital-trabalho devem ser constantes (...). Fausto Cestari quer parceria sólida entre empresários e trabalhadores para iniciar trabalho de restauração da face modernizadora do Grande ABC, revertendo o quadro de debacle que os indicadores econômicos, por mais pobres e restritos que sejam, não conseguem esconder (...). O que Fausto Cestari quer expandir é o conceito do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos".

O dirigente do Ciesp Santo André explicou: "Entendo que o Consórcio foi o primeiro passo para uma ação cooperada de planejamento estratégico da região. O que pretendemos é aperfeiçoar o modelo, com empresários e trabalhadores, com suas lideranças à frente, e o Poder Público atuando como apoio, abrindo suas secretarias para subsidiar de informações todos aqueles envolvidos nas questões" -- disse o dirigente, que mais tarde tornou-se coordenador-geral do Fórum da Cidadania do Grande ABC, organização multilateral criada poucos meses depois da reportagem publicada nesta revista e que acabou por estimular a formação da Câmara Regional não exatamente nos moldes projetados por Cestari, porque o Poder Público participa de forma prevalecente.

Sindicatos -- O temário abordado por esta revista ao longo de 100 edições é tão amplo quanto instigante. Nenhuma publicação sem vínculo sindical reserva tantas páginas ao setor. Alguns embates com sindicalistas acabaram por sedimentar relação de respeito, independência e equilíbrio. Os sindicatos, principalmente o dos metalúrgicos do ABC, filiado à CUT (Central Única dos Trabalhadores) e berço das maiores lideranças do chamado Novo Sindicalismo, com Lula no papel de precursor, apreciam o exercício do endeusamento. A muito custo cederam à lógica acaciana de que a região perdeu indústrias. Relutaram em aceitar o sindicalismo como um dos responsáveis por isso. Insistem ainda em propagar aos quatro ventos que a mão-de-obra regional é qualificada, quando LivreMercado já provou, ouvindo especialistas que lidam diretamente com produtividade industrial, o quanto de vício técnico-operacional atinge a maior parte dos trabalhadores.  

Nem mesmo a classe empresarial tem ficado imune à fome de análise desta publicação. A falta de integração das entidades patronais da região, a baixa representatividade do setor junto aos poderes constituídos, a indolência em opor-se às investidas pantagruélicas de um Estado cada vez mais voraz na arrecadação de impostos são alguns dos pontos que tornam essas lideranças alvo de estocadas desta revista. Os pequenos empreendedores, foco sobre o qual LivreMercado mantém luzes de preocupação, também são cutucados pela dificuldade de atuar em conjunto num território em que grandes corporações ocupam cada vez mais espaços. 

LivreMercado chega à Edição 100 certa de que carrega sobre o ombro mais que uma série de diagnósticos históricos e inéditos, mas sobretudo um acervo de análises bem fundamentadas e de expectativas imensas de seus leitores pela manutenção da independência sem arrogância e do cooperativismo sem subserviência.

Não bastasse esse verdadeiro arsenal de avanços editoriais, LivreMercado ainda contabiliza o sucesso do Prêmio Desempenho Empresarial, que está na quinta edição, e o recente lançamento do Ciclo Regional de Debates, que certamente vai se juntar à massa de ativos intangíveis. Produzida em sua origem preponderantemente com vistas aos interesses e responsabilidades dos empreendedores de pequeno porte do Grande ABC, LivreMercado acrescentou novas atrações a cada edição. Nesse moto-contínuo de mudanças que procuraram atender às demandas dos leitores, LivreMercado acabou por aumentar saudavelmente sua musculatura sem recorrer a anabolizantes de efeito temporal. Já não é uma publicação voltada exclusivamente para empreendedores e profissionais liberais. Até porque, não há mais como separar economia e social sem correr o risco de perder-se na poeira do tempo. Mais e mais esta publicação invade residências de famílias de classe média da região, onde aumenta a cada dia o registro de novos atores econômicos autônomos ou empreendedores de pequenos negócios, em contraface ao arrefecimento dos empregos formais nas indústrias.

O sonho da maioria dos brasileiros em tornar-se dono do próprio nariz, de empreender, de ter seu negócio, mesmo que seja um micronegócio, encontra total ressonância numa região que desfruta da cultura do empreendedorismo a partir da industrialização manufatureira do final do século anterior, passando em meados da década de 50 pela chegada das montadoras de veículos e autopeças satélites até a consagração do setor terciário a partir do final dos anos 80. Deixar de lado esse público ávido por conhecimentos estratégicos sobre o Grande ABC seria equívoco ao qual LivreMercado não se daria o luxo. Por isso, vai adensar ainda mais sua presença em domicílios, com planos já em fase de preparação.


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