A edição de janeiro da revista LivreMercado é a última de uma série de 19 anos sob o comando deste jornalista. Uma longevidade e tanto, o que ajuda a explicar a fácil identificação da linha editorial da melhor publicação regional do País.
Realidade bem diferente, portanto, de tantas outras mídias impressas, que navegam ao sabor da improvisação ditada por intensa rotatividade de profissionais. LivreMercado sempre teve um timoneiro. Gostem ou não principalmente os inúteis da sociedade regional. Uma minoria que não pode ser subestimada, porque é endinheirada e está sempre próxima do poder público, embora não represente as classes produtivas mais abastadas. Essa minoria é formada de sanguessugas sociais e econômicas.
A partir da próxima edição, que circulará somente em março, LivreMercado é passado para mim. Ficarei feliz se a publicação mantiver o compromisso social explícito na linha editorial.
Aqueles que imaginam que esteja deprimido pelo desenlace da cessão da marca e do afastamento da direção de Redação, cometem o pecado da precipitação: estou aliadíssimo. Desde que descobri as degeneradas entranhas da Editora Livre Mercado, não via a hora de recuperar a qualidade de vida.
Atiraram-me num pântano, mas consegui escapar e deixar a Editora Livre Mercado em situação muito melhor do que a encontrei em setembro do ano passado quando, sob pressão que explicarei à Justiça, fiquei com 100% das ações e um passivo financeiro que pode não ser lá essas coisas para os padrões de endividamento da mídia em geral em todo mundo, mas é muito para meus bolsos rasos.
Tenho muitos planos para o futuro próximo, todos desabrochados a partir da frase de ontem à tarde, de Walter Santos, em São Paulo, sobre a decisão de alterar completamente a Redação e a linha editorial de LivreMercado.
Sinto-me agora eticamente pronto para novas incursões. Ainda me prendia a um compromisso de continuar na publicação, desde que fossem atendidos todos os requisitos mínimos de garantir um bom produto — algo que a equipe formada ao longo dos anos asseguraria. Especialista em recuperação tributária, mais propriamente em arquivo morto, Walter Santos certamente conhece atalhos editoriais que passam bem distantes de minha competência.
Espero sinceramente que LivreMercado tenha pelo menos novos 19 anos de compromisso social. Jornalismo não pode ser sentido apenas pelo tilintar das caixas registradoras do faturamento publicitário. A Best Work, nova proprietária da marca LivreMercado, conta com o suporte comercial que a Editora Livre Mercado jamais obteve. Isso é um ponto positivo para que se estenda uma rede de segurança sobre o futuro que lhe está reservado.
Um dos meus planos de vida profissional, provavelmente o Plano C na escala hirárquica de quem precisa trabalhar para sustentar a família, é uma nova revista regional, escolhendo a dedo os parceiros com os quais trabalharei no campo acionário.
CapitalSocial é o nome da publicação registrada há mais de uma década e à espera de oportunidade para sair da gaveta.
Tudo vai depender do que LivreMercado agora sob nova direção oferecer aos leitores da região.
Se os quesitos de responsabilidade social forem cumpridos, CapitalSocial seguirá na gaveta. Caso contrário, vamos à luta porque não se vive tão e unicamente de dinheiro. Analisar é preciso. Contestar é necessário. Motivar é indispensável.
Ninguém acompanhou tão atentamente e com absoluta transparência e clarividência a história do Grande ABC nos últimos 20 anos. O problema da nova LivreMercado é que grande parte do conteúdo histórico foi construído por profissionais que atuaram sob minha coordenação. Sem contar as matérias que produzi, insumos dos livros que lancei. Esse patrimônio é inalienável e instransferível porque brota a cada dedilhar.
Repasso na sequência cópia da newsletter ConselhoEditorialOnline, veículo virtual de comunicação que mantenho com os conselheiros editoriais de LivreMercado. Torno o documento público entre outros motivos porque não temos nada a esconder e também porque alguns conselheiros já enviaram cópias a jornalistas. O material foi postado ontem à tarde. Portanto, não tem o desfecho da ruptura do contrato de prestação de serviços editoriais da empresa legalmente representada por este jornalista e a Best Work.
Respostas sobre cessão de
LivreMercado à Best Work
Conforme prometido, respondo nesta newsletter às indagações sobre a cessão da marca LivreMercado à Best Work Consultoria Empresarial. Esse veículo virtual se relaciona com exclusividade com 239 membros do Conselho Editorial de LivreMercado, em larga escala formadores de opinião no Grande ABC.
Procurarei ser o mais breve e didático possível, mas lembro que a eventual porteira de indagações não está fechada. Se surgirem perguntas que complementem ou preencham lacunas deixadas pela série que responderemos agora, não teremos dúvida em destrinchá-las. Da mesma forma que, independentemente de qualquer pergunta, se tivermos mais novidades sobre o assunto, trataremos de colocar no circuito.
1. Sobre o futuro da revista LivreMercado.
Vai depender única e exclusivamente da Best Work, detentora da marca e definidora de nova sociedade que será de responsabilidade do empresário Walter Santos. Não terei qualquer participação acionária. Nem de direção.
2. Sobre a Best Work.
Trata-se de empresa especializada em recuperação tributária com trabalhos prestados a importantes organizações privadas. O portfólio da Best Work é imenso e respeitável, condição que a credencia teoricamente a estabelecer sinergia para dinamizar o Departamento Comercial, historicamente o ponto mais frágil de LivreMercado. Não só o mais frágil, como o mais dispendioso. Os custos do Departamento Comercial ao longo dos anos chegou a 35% do faturamento bruto. O dobro do que recomendam as empresas do setor.
3. O que a Best Work vai fazer com a linha editorial de LivreMercado?
A resposta deve ser dada unicamente pelo empresário Walter Santos ou pelo profissional que eventualmente ele venha a contratar para dirigir a revista. Respondi durante 19 anos pela publicação. Duvido que haja na história do jornalismo no Grande ABC algo que se tenha apresentado com resultados semelhantes. Fizemos jornalismo de análise. A coleção de Reportagens de Capa resume nossa filosofia.
4. Qual será minha participação editorial na nova fase de LivreMercado?
Muito dificilmente continuarei na publicação. Há um contrato entre a Best Work e uma empresa da qual sou representante legal para a prestação de serviços editoriais. Sem que este jornalista tenha à disposição profissionais de Redação e de suporte de Redação com os quais vinha atuando, não há a menor possibilidade de estender o compromisso porque estaríamos mentindo aos leitores. É um direito da Best Work estruturar nova equipe editorial. Nosso formato editorial é um sucesso. Antecipamos os conceitos de responsabilidade social que a grande mídia só tempos depois resolveu adotar. Condecoramos quase duas mil pessoas físicas e jurídicas com o braço de eventos chamado Prêmio Desempenho, extensão da linha editorial da publicação. Publicamos no período de 19 anos mais de cinco mil cases dos setores público, empresarial e não-governamental.
5. O futuro dos conselheiros editoriais.
A relação de confiança com o Conselho Editorial de LivreMercado está na raiz da composição desse quadro inédito no jornalismo brasileiro. O livre arbítrio de permanência ou não no Conselho Editorial é exercício individual. Nesse momento de transição a melhor alternativa é esperar por desdobramentos que virão. Não sabemos o que a nova direção de LivreMercado pretende fazer do Conselho Editorial.
6. Independência da revista em relação ao setor comercial.
Não acredito em independência absoluta de publicação alguma em relação ao Departamento Comercial. Por isso, depois de 19 anos como criador, fundador e diretor de Redação de LivreMercado, tenho orgulho de minha carreira porque não deixamos que promiscuidades comerciais se instalassem na Redação, embora não faltassem tentativas. Mesmo nos momentos de maiores dificuldades mantivemos a sobriedade editorial.
7. Formato de LivreMercado.
Se a pergunta se relaciona ao formato físico, não acredito que sofra mudanças. Há um padrão a ser seguido entre outros motivos porque é um facilitador operacional. Quanto ao desenho das páginas, isso é questão que a nova direção empresarial deve decidir. Geralmente não faltam alquimistas a prometer resultados mirabolantes. São profissionais do abuso, do estereótipo da eficiência, gente que vende vento. LivreMercado tem uma cara gráfica que resulta, entre outros pontos, do dimensionamento e da aplicação dos recursos humanos disponíveis. Não brincamos, em tempo algum, com a composição visual da publicação. Não utilizamos disfarces para dissimular o esboroamento do produto. Uma diagramação acrobática geralmente satisfaz o autor da traquinagem, mas compromete o nível de fidelidade de leitura.
8. O futuro do Prêmio Desempenho.
A marca Prêmio Desempenho é compartilhada entre a Best Work e a empresa que represento legalmente. O contrato de cessão de 50% da marca determina que mudanças importantes só poderão ser tomadas por consenso. Há princípios inegociáveis e que por isso mesmo possibilitaram que Prêmio Desempenho se consolidasse ao longo de uma década e meia como evento de extraordinário prestígio e valor.
9. Problemas da Editora Livre Mercado.
A trajetória de LivreMercado pode ser dividida em quatro etapas. Entre 1990 e 1991, atuamos na Associação Comercial e Industrial de Santo André, em regime de parceria. Entre 1991 e 1997, dividi a sociedade (dei-lhe 50%) com Denise Barrotte, Diretora Comercial. Gerenciei a empresa pessoalmente até março de 1997, quando 60% das ações foram adquiridas pelo Diário do Grande ABC. Não deixamos uma dívida sequer. No período de março de 1997 a setembro de 2007, LivreMercado construiu passivo financeiro por vários motivos, entre os quais a dificuldade de o Diário do Grande ABC conciliar interesses próprios, quanto mais de uma empresa agregada. Não foi à tõa que o Diário do Grande ABC acabou negociado. A Editora Livre Mercado que assumi em setembro de 2007 (sob coação, assunto de que tratarei na Justiça) ganhou sobrevida de um ano por conta da paixão deste jornalista. Alijado da administração da Editora Livre Mercado no período sob o controle acionário do Diário do Grande ABC (um representante daquela empresa e Denise Barrotte assinavam todos os cheques e detinham as decisões administrativas, financeiras e comerciais) me vi com uma montanha de irregularidades, também sob os olhos atentos de uma auditoria. Decidi pela cessão da marca porque não íria mais desafiar os desatinos do passado. Há um limite para tudo. Inclusive porque já não tenho o vigor e o romantismo de outros tempos.
10. Encontro com conselheiros.
Tudo é possível. Estarei sempre aberto para transmitir informações. Se houver mesmo interesse, podemos marcar local e horário. O cancelamento do jantar programado pela Best Work criou um hiato inesperado, por isso decidi pelo quebra-galho desta newsletter.
11. Distribuição de LivreMercado.
LivreMercado foi distribuída ao longo dos últimos anos nos bairros de classe média do Grande ABC. Não foram entregas aleatórias, como pode sugerir quem desconhece nossa preocupação em dar produtividade de leitura. A definição geoeconômica foi estruturada com base no Índice de Potencial de Consumo da Target, empresa especializada parceira de LivreMercado. Ficamos com os bairros economicamente mais importantes da região. Bairros de nível de escolaridade superior. Não sabemos o que a Best Work reserva para a publicação. Acredito que sejam as melhores notícias possíveis. Afinal, a Best Work não comprou o Departamento Comercial, o Departamento Administrativo e o Departamento Financeiro da Editora Livre Mercado. Preferiu obter a cessão da marca LivreMercado, por conta do maior patrimônio que a Editora Livre Mercado amealhou ao longo de quase 20 anos — o melhor produto editorial regional do País. Enfim, a Best Work ficou com a parte boa da Editora Livre Mercado. Se vai utilizá-la integralmente é outra história.
12. Nosso Século XXI.
Promoveremos sim a terceira versão da maior obra coletiva do Grande ABC, independentemente do que está reservado para a revista LivreMercado. Trata-se de outro produto.
13. O que será do blog.
Vamos continuar com o blog. Mais que isso: vamos incrementá-lo, vamos dinamizá-lo, entre outros motivos porque é o que temos para passar aos consumidores de informação — a personalização textual, algo seguramente pouco comum no quadradismo dos versos do jornalismo atual.
14. Vínculos com o Diário do Grande ABC.
Não tenho nenhum. O mais recente foi a função de Consultor de Conteúdo. Que tive de deixar por conta dos transtornos na Editora Livre Mercado.
15. Meu futuro profissional.
Estou esperando definir com o novo proprietário de LivreMercado para tomar iniciativas. Terei uma reunião hoje à tarde. Certo mesmo é que não vou dar murro em ponta de faca. Sei por experiência própria de mais de 40 anos de jornalismo que não se constrói uma equipe do dia para a noite. Mais que isso: uma equipe de jornalismo competente, por menor que seja o número de participantes, é resultado que vai além das características individuais dos contratados. No caso de uma revista regional, pesa sobremodo também a intimidade com o espaço geográfico. LivreMercado vem-se especializando em Grande ABC e em Grande São Paulo há muito tempo. Minha equipe é indispensável. Sempre dei de ombros para quem individualiza meu trabalho na revista LivreMercado. Sou resultado de um time, que escalo e deixo jogar, monitorando-o.
Total de 1893 matérias | Página 1
06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)