A Folha de S. Paulo de ontem, quarta-feira, mostra como a manipulação da informação conduz a conclusões equivocadas de leitores menos atentos ou crédulos em excesso. Tanto a manchete (principal) de primeira página quanto a da página interna poderão facilmente ser levadas às programações televisivas de partidos políticos, porque têm a força de uma meia-verdade e o prestígio de uma publicação recomendada em todas as escolas de jornalismo como exemplo a ser copiado — por mais que o jornalismo impresso diário muitas vezes exiba a altivez e a segurança daquele protagonista do maior sucesso de Vicente Celestino.
Vamos, pois, aos fatos.
Eis a manchete principal de primeira página:
Agora a manchete da capa do caderno “Dinheiro”:
Qual é o problema de abordagem do material da Folha de S. Paulo para ser rotulado de meia-verdade? Simples, muito simples.
No breve texto de primeira página e nos principais parágrafos da matéria interna, o tom é o mesmo. Reproduzo os primeiros parágrafos da página interna para estratificar o conjunto dessas informações:
Leram atentamente o jornalismo da Folha de S. Paulo. Qual é o problema, então? Simples, a própria Folha responde nos parágrafos imediatamente seguintes, todos desconsiderados na chamada de primeira página, todos secundários na matéria de página interna, todos cartas fora do baralho tanto na manchete principal de primeira página quanto de página interna. Leiam:
Parece mais que evidente que a Folha de S. Paulo tratou de esculhambar com a Folha de S. Paulo. Mas não custa, para eventuais leitores com dificuldades de entendimento, um enredo metafórico.
Imaginem o Brasil um atleta acostumado a aumentar em 5% o ritmo de velocidade de 40 quilômetros por dia durante muito tempo e, por conta de contratempos de saúde causados mais por efeitos externos de poluição do que de uma dieta desleixada, baixe o ritmo para 20 quilômetros diários durante os três últimos meses do ano, com possibilidades de reação discreta nos meses seguintes. Agora imaginem os Estados Unidos e tantos outros países que, descuidados, obesos, reduziram gradualmente a velocidade de 50 quilômetros por hora para menos de 10 quilômetros por hora e não têm perspectivas de recuperação tão cedo. É claro que no último trimestre do ano a perda média de velocidade dos Estados Unidos e de outros países será inferior à apresentada pelo Brasil porque os efeitos do desgaste anterior em contraposição à vitalidade nacional influenciaram decisivamente essa assimetria.
Pois a Folha de S. Paulo pinçou esse trimestre como o perfil do corredor verde e amarelo até o ponto limite de, constrangida ou não, impedir que o bom jornalismo fosse assassinado ao relatar na parte inferior da matéria os anteparos que jamais poderiam deixar de constar da abertura dos textos e, principalmente, das manchetes.
Às vezes tenho a sensação de que os editores dos grandes jornais brasileiros imaginam que os leitores sejam mesmo um bando de idiotas.
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06/12/2024 Diário: Plano Real que durou nove meses (40)